Keith and The New House

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Estacionei o carro na frente da casa, que agora, depois de visitar algumas vezes, já se tornava familiar. A fachada de ripas de madeiras brancas e alguns detalhes em azul parecia quase acolhedor, me lembrando um pouco a pintura do trailer, o que era de certa forma reconfortante. Claro que de alguma maneira não sentiria falta do trailer, pelo menos não tanto assim, mas ter aquele sentimento de que nem tudo estava tão diferente assim já me deixava bem mais tranquilo. Tirei a chave da ignição e nós três continuamos olhando para a casa como se ninguém quisesse tomar a iniciativa de sair do carro. Então suspirei e abri a minha porta, gerando um efeito dominó, que fez com que meu pai e Mike abrissem suas portas e todos saíssemos do carro, parando na calçada em frente ao portãozinho de metal que batia na minha cintura.

O fato de nenhum dos três estar falando nada, incrivelmente não tornava aquilo estranho de forma alguma, muito pelo contrário. Era compreensível o silêncio de cada um. Mike parecia querer que fossemos os protagonistas do momentos, o que parecia justo. Eu ainda absorvia o fato de que estava finalmente me mudando daquele trailer, que mesmo que eu sempre tivesse visto com maus olhos minha vida quase que toda, ainda havia sido meu lar, o que deixava um sentimento intrigante em minha cabeça. E meu pai parecia de certa forma orgulhoso de si mesmo e feliz. Orgulhoso de mudar de cargo para uma parte mais administrativa da marinha, que lhe oferecia um emprego em um lugar fixo, e também feliz de finalmente poder morar comigo, como uma forma de nos reaproximar ainda mais, coisa que nós dois estávamos trabalhando ainda, mas que desde sua visita inesperada na ação de graças parecia ter se tornado bem mais fácil e flexível.

Dei um passo à frente e destranquei o portão, indo em direção à entrada da casa, subindo os degraus de concreto, e vendo de canto de olho que os dois me seguiam, cada um com uma caixa em mãos, essas que armazenavam os últimos itens que estávamos trazendo do trailer. Era um pouco engraçado ver o quão apreensivo os dois estavam. Eu também estava bastante, mas sabia que se não fosse por mim tomar a iniciativa, ficaríamos todos parados lá por mais tempo do que o necessário. Destranquei a porta azul clara e não me demorei para entrar, ainda mais que um vento frio batia e me gelava até os ossos, quase como se nos avisasse da neve que estava para cair logo, no início da noite. A casa estava exatamente como havíamos deixado na última vez, com os nossos sofás ainda bagunçados da mudança e o chão levemente sujo. Liguei as luzes, visto que a casa era iluminada apenas pela luz do pôr do sol e dos postes da rua.

Nós três nos paramos no meio da sala, que era pequena, mas maior do que a do trailer.

— É oficial. — falei, querendo quebrar um pouco o silêncio, mas sem saber como.

— A gente devia estourar um espumante pra comemorar... Um sem álcool claro. — Mike disse animado, botando a caixa que carregava em cima da mesa de jantar.

A casa estava completamente mobiliada com os nossos móveis antigos, mas os ver ali naquele novo ambiente era tão diferente, como se fossem novos. Usados, mas novos para mim. Larguei minha mochila em cima do sofá e fui até a cozinha, vendo os balcões com um estilo bem ultrapassado, talvez diretamente dos anos setenta ou algo do tipo, que me lembrava fortemente da cozinha da senhora Henderson. Não podia negar que falar dela me deixava até um pouco triste, não só por ter a deixado para trás, mas também porque eu notava que ela parecia estar piorando. Não sabia exatamente o que ela tinha, apenas sabia que era algo a ver com seu coração, mas que ela se recusava a falar sobre, tanto para não me preocupar quanto porque não tinha dinheiro para pagar qualquer tratamento necessário. Suspirei alto, passando a mão pelo balcão.

— Tá tudo bem filho? — meu pai falou parado na porta.

— Aham... Só um pouco preocupado com a senhora Henderson. — dei um sorriso um pouco culpado.

Mike, Keith and the... 2Where stories live. Discover now