Mike, Keith and the... 2

Keith and The Letters

Assim que saí pelas portas do café, meu celular vibrou no meu bolso, logo me fazendo conferir para ver que era uma mensagem do meu pai dizendo que havia recebido um envelope grosso e que deixaria em cima da mesa para mim antes dele sair de casa com a senhora Henderson. Eu já sabia o que era, só não sabia exatamente qual. Já havia recebido minha carta de reprovação da universidade de Minnesota, em Mineápolis, e sinceramente não podia ligar menos. Mesmo que ainda fosse uma de minhas opções concretas e tecnicamente uma das melhores entre as que eu havia me inscrito, ainda era a mais longe de todas, mesmo que por apenas algumas centenas de quilômetros, e eu não estava realmente apto a ter que ir para tão longe da minha casa agora que tinha minha família toda perto de mim.

Entrei no meu carro de forma apressada, agora verdadeiramente ansioso para ver do que se tratava. Pelo jeito que meu pai havia escrito a mensagem, não tinha nem sombra de dúvida que era alguma das minhas respostas de faculdade, e que pela espessura do envelope, era algum tipo de resposta positiva. Era estranho como minha cabeça funcionava com tanta pressão sobre ela. Parecia que eu não conseguia pensar em absolutamente nada enquanto pensava em absolutamente tudo, sem conseguir focar em muitas coisas, mas me hiperfocando em vários assuntos. Me sentia um louco enquanto dirigia pelas ruas de Duluth em direção à minha casa, tentando não ultrapassar nenhum sinal vermelho ou ignorar alguma placa de pare.

Cheguei em frente à casa, vendo que todas as luzes estavam apagadas, verdadeiramente aliviado que não teria que dar satisfação para ninguém sobre o assunto, pelo menos não de imediato, que era o que mais me preocupava. Suspirei fundo, o mais fundo que conseguia, sentindo como se tivesse segurado minha respiração pelo caminho inteiro, um leve desconforto no meu peito me fazia questionar se era a asma ou apenas ansiedade. Saí do carro o trancando de forma desajeitada, até mesmo derrubando minhas chaves no processo, me fazendo ficar até mais frustrado, como se fosse algum tipo de sinal negativo mas que eu recusava a interpretar daquela forma.

Entrei pela porta dos fundo, vendo que em cima do balcão havia uma lasanha já assada com alguns pedaços faltando, e só então notando o quão morto de fome eu estava, mas não podia me importar menos com aquela fome inconveniente que me assolava, eu tinha coisas infinitamente mais importantes para fazer e aquilo não me pararia ainda. Fui direto para a sala, sentindo minha barriga reclamar da minha imprudência, mas não teria capacidade para fazer aquilo como uma pessoa normal naquele momento, então apenas agarrei o envelope e subi às pressas para o meu quarto, sem nem olhar nenhum detalhe do objeto, querendo prolongar um pouco mais a revelação, que parecia corroer meus pensamentos.

Joguei o envelope na cama de qualquer jeito e fui até a frente do meu armário, a ansiedade revirando ainda mais meu estômago faminto, mas tentando me distrair ao me trocar, querendo logo tirar meu uniforme e botar a roupa mais confortável que achasse. Sabia que precisaria. Analisei cada peça de roupa com calma, vendo que algumas delas estavam na minha cadeira de roupas-não-sujas-o-suficiente-para-serem-lavadas, catando nela exatamente o que tinha em mente, e periodicamente olhando para o envelope, que parecia me olhar de volta, com um olhar apressado e de certa forma julgador. Eu me sentia à beira da insanidade. Arranquei minhas roupas com pressa e vesti a roupa perfeita, meu moletom surrado e um short também de moletom com minhas meias que ameaçavam furar a qualquer instante.

Finalmente parei em frente à cama, olhando para aquele que me infligia tanto sofrimento e angústia, me sentindo até mesmo mais emo por pensar assim, mas não conseguindo definir aquilo de nenhuma outra maneira. Peguei ele em mãos, e me apressei em abrir o lacre do envelope, logo enfiando minha mão dentro para puxar os papéis, vendo o símbolo da universidade do Wisconsin, que ficava em Superior, me fazendo suspirar pesaroso. Aquele era o motivo de toda minha ansiedade. Apesar de ser uma das minhas opções e ser conveniente por ainda ser perto, eu não sabia explicar minha decepção em ver aquele maldito símbolo, até mesmo me fazendo perguntar no momento porque eu havia me inscrito se não queria, mas logo me xingando por pensar assim.