Mike and The Cherub

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— Finalmente... — Falei com minha voz cansada, enquanto minhas mãos alcançavam a maçaneta da porta de minha casa. Entrei de uma vez, fechando ela atrás de mim e esperando uma recepção calorosa, mas não tendo ninguém pela sala. Joguei a mochila no sofá e me espreguicei, bocejando audivelmente. Estava morrendo de fome, mas não tinha coragem nenhuma de realmente me levantar para ir atrás de alguma sobra na geladeira. Peguei meu celular para poder ver algumas mensagens pendentes, acabando por encontrar algumas de Keith, sorrindo e passando a responder elas.

Aqueles últimos meses não tinham essencialmente mudado muita coisa, mas ao mesmo tempo tinham assentado muito do que tinha sido deixado em aberto no último ano. Minha relação com Keith apenas cresceu, pudemos nos ver mais e mais, pude ajudar na escolha de sua casa nova e até mesmo conhecer meu sogro, com quem acabei me dando muito bem. Gostava de suas piadas que às vezes eram um pouco sem graça e de sua atitude mais paizão, parecia que faria bem ao Keith ter um pai assim, apesar de ainda ter uma leve inveja da relação boa que ambos acabaram por nutrir.

De vez em quando imaginava quais seriam os efeitos se eu acabasse tentando voltar a normalidade com meu pai, mas sabia que nunca seria o mesmo que Keith e seu pai. O meu era bem mais imediato, mais rápido como a chuva no período de inverno, nunca ficava por muito tempo e doía sempre que entrava em contato comigo. Quando acabou o primeiro semestre do último ano eu estava extremamente nervoso com o fato de que largar o beisebol me deixava com um tempo livre ridículo, então resolvi aceitar uma proposta que meu pai havia feito anteriormente e trabalhar em seu café, uma experiência que eu iria descobrir depois como algo pior do que apenas ir para lá.

Tudo era extremamente chato. Ter de lavar o chão, passar o café das pessoas que sempre pediam desenhos complicados, ver a cara de clientes que mal tinham vontade de serem atendidos e pouco ver Keith era algo complicado, já que meu pai obviamente não colocava nossos horários muito juntos. Apesar disso, conhecer mais alguns dos amigos de Keith, especialmente Donna, fora uma boa experiência. A garota apenas confirmou ainda mais o que eu achava sobre ela, sobre sua personalidade completamente maluca mas benéfica para os outros em sua volta.

Meus pensamentos diversos foram tomando conta de meu corpo, e unido com o cansaço em meus ossos, fui lentamente fechando os olhos. Os pensamentos passaram a se bagunçar, formar outros que não tinham realmente algo a ver com a realidade, apesar de ainda estarem ali. Quando eu estava finalmente prestes a dormir, meus olhos abriram repentinamente diante de um dos sons mais terríveis que uma pessoa poderia ouvir, algo que perturbaria imediatamente a mente de qualquer pessoa despreparada e com pouca vontade de realmente pôr a mão na massa, um barulho tão agoniante que podia ser usado como sirene em cidades para avisar sobre catástrofes... O som do choro de um bebê.

Me levantei imediatamente, ainda com sono apesar de tudo, subindo as escadas e quase tropeçando diversas vezes, até chegar na porta do quarto de Finn. Abri com tudo, acendendo a luz enquanto me aproximava de seu berço. Assim que ele viu, seu choro diminuiu um pouco, apesar de seus olhos marejados e face vermelha ainda me darem uma dó gigantesca. Alcancei seu pequeno corpo com minhas mãos, uma por trás de sua cabeça e outra em sua coluna, o levantando lentamente. Acariciei de leve seus cachinhos loiros enquanto me sentava na poltrona que tinha ali.

Finn tinha desenvolvido um medo extremo de escuro logo nos primeiros meses de vida, mas não tínhamos exatamente certeza do por quê. Eu tinha a grande teoria de que era aquela iluminação terrível do hospital em que nascera, mas ninguém realmente deu bola para a minha teoria. Assim, era comum escutar seus choros angustiados no meio da madrugada, ou até mesmo da tarde, ao notar que acordara sem nenhuma fonte de luz por perto. Era por isso que tínhamos comprado a luzinha em sua tomada, e eu odiava quando esqueciam de colocá-la.

Mike, Keith and the... 2Där berättelser lever. Upptäck nu