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Era o grande dia. Com modéstia à parte, naquela manhã, Deidara ponderou diversas estratégias para escapar da situação, valendo-se das histórias que ouvira sobre o Uchiha. Uma delas abordava o desprezo que o homem sentia por ômegas brutos, preferindo os delicados não apenas em aparência, mas também no modo de agir meigo. Esse conhecimento encorajou o loiro a adotar uma postura arrogante, acreditando que isso o livraria do casamento com Obito. Desesperado, buscava incansavelmente brechas, recusando-se a aceitar o destino traçado.

Uma extensa equipe trabalhava nos preparativos: duas cabeleireiras, uma assistente, quatro ômegas cuidando do terno, uma beta encarregada da maquiagem de Deidara, e Naruto tentando consolar o ansioso Tsukuri, prestes a surtar com tantas pessoas ao seu redor, mexendo em suas roupas e maquiagem, causando uma sensação sufocante.

Tudo isso para que ele parecesse agradável ao alfa que o levaria de casa. Para Deidara, isso parecia injusto, como se estivesse facilitando para os Uchihas. Segundo as explicações de seus pais, ele ajudaria Obito a alcançar seus objetivos e, em seguida, seria morto pelo próprio Uchiha. Era assim que ele interpretava a proposta.

No máximo, seria forçado a gerar um herdeiro para Obito, e depois, seu destino seria o mesmo: a morte.

Gesticulou para as moças, pedindo que se afastassem. Desceu da plataforma e se contemplou no espelho, notando sua incrível beleza, nunca antes vista tão bem arrumado. Seus dedos percorreram os fios claros e macios, bem penteados e sem nós, flores estrategicamente posicionadas, maquiagem leve realçando sua beleza natural. Sombra dourada nas pálpebras destacava seus olhos azuis, enquanto o terno, azul como seus olhos, mas mais desbotado, tinha pequenos detalhes em renda branca.

Apesar de sua aparência impressionante, estava desanimado, pois isso só reforçava que agradaria ao alfa que em breve estaria lá. Vestia exatamente o que sabia que Obito gostava, reforçando a imagem de alguém meigo e vaidoso.

Seu irmão se aproximou, sorrindo ao encará-lo pelo reflexo do espelho. - Você está lindo, Deidara. - sussurrou, apoiando-se em seus ombros. Agradecendo, Deidara suspirou, fitando os sapatos brancos impecáveis. Uma batida na porta anunciou a chegada de Obito, e Naruto tomou a iniciativa, informando que o pai deles os esperava no jardim.

Deidara estava ocupado em uma guerra interna consigo mesmo quando seu irmão o abordou.

- Escute-me. Sei que não aprova esse casamento, mas não despreze Obito. Precisamos da ajuda dos Uchihas, e a teremos se ele se casar com você. Finja, e depois, buscaremos uma anulação. Seja esperto, irmão.

- Você pode conseguir uma anulação? - Virou-se esperançoso para Naruto, que assentiu. - Pensei que ômegas não pudessem, não na ausência dos alfas.

- E não podem. Por isso, nosso pai estará junto. Escuta, você deve achar que ele entregou você sem opções, mas foi ele quem pensou em uma anulação. Ele apenas preferiu não dizer nada para que você não corresse riscos.

- Está bem. Eu posso fingir, mas não posso garantir que ele acredite em toda essa bajulação.

- Você só precisa assegurar o casamento, e quando chegar a noite de núpcias, use uma desculpa convincente. Você não pode engravidar, ou tudo irá por água abaixo.

~~☆~~

Enquanto me aproximava sozinho do jardim, as vozes se mesclavam, tornando-se mais altas a cada passo. Minha visão estava levemente embaçada graças ao vidro que cercava o jardim de inverno, mas eu tinha consciência de que ali estavam meu pai, Madara e Obito. Assim que me aproximei das portas duplas, as empurrei, chamando a atenção dos três homens, o que não foi agradável.

Fiquei ao lado de Minato, cumprimentando os dois Uchihas presentes com inquietude evidente. Obito era ainda mais intimidador pessoalmente. Sua postura era ereta, sua aura negra, e suas orbes me sugavam, como se pudesse ler minha alma através do espírito.

Calafrios percorreram meu corpo quando o homem finalmente disse algo, sua voz rouca dominando o espaço. - Pensei que ele fosse mais alto, senhor Uzumaki. Você disse 1,70. - Ele usou um tom acusatório com meu pai, estreitando os olhos ao me encarar, buscando algo de errado em mim, o que me fez franzir as sobrancelhas.

- Há algo em mim que não lhe agrada, Uchiha? - As palavras simplesmente escaparam dos meus lábios. Era impossível não rebater aquele olhar de julgamento.

- Absolutamente não. Mas, detesto que mintam para mim, e seu pai me disse que você tinha 1,70.

Se ele não fosse tão alto, sequer notaria a diferença de apenas quatro centímetros, mas certamente sabia como um ômega de 1,70 deveria ser, não sendo meu caso com 1,66.

- São apenas alguns centímetros de diferença. Garanto que meu filho não é menos capaz por ter menos de 1,70, Uchiha.

- Isso sou eu quem determina, senhor Uzumaki. - rebateu - Mas, irei relevar, pois seu filho possui uma aparência que me agrada. - Eu deveria ficar contente por saber que ao menos ele me achava atraente, mas aquilo me enojou, pois eu só conseguia pensar no que aquele homem seria capaz de fazer comigo.

Submerso nos meus próprios pensamentos, percebi que meu pai e o pai de Obito estavam deixando o jardim, causando um desespero interno. Por impulso, gritei. - Por que estão saindo? - Arregalei os olhos ao perceber meu tom, murmurando um "me desculpe" quando apenas o olhar de Minato me repreendeu.

- Deidara, você precisa conhecer Obito. Estamos saindo para dar privacidade a vocês dois. - Explicou o loiro mais velho, aproximando-se para me tranquilizar, dizendo que eu deveria tentar ser o mais passivo possível. Apenas assenti, observando-os sair pelas portas duplas, deixando-me sozinho na presença de Obito, que parecia prestes a me devorar apenas pelo olhar.

Os ferômonios do Uchiha agarraram-me por um instante, impossibilitando que eu me afastasse quando o homem ultrapassou minha bolha, apertando os olhos. Senti sua presença se inclinar, imaginando o pior, mas, para minha surpresa, apenas senti sua respiração rente ao meu pescoço. Abri os olhos com coragem e observei-o inspirar meu cheiro, afastando-se rapidamente e franzindo o nariz.

- Cacete, é doce. ‐ Aquela reação me surpreendeu; meu cheiro não aparentou agradá-lo, pois o mesmo homem se afastou rapidamente, cobrindo o nariz com a palma e me encarando com expressão endurecida.

- Perdão? - Ofendi-me com sua expressão e reação, ele bufou e saiu mais rápido do que se aproximou, deixando-me estático. Eu só precisava garantir uma única coisa, e sem dizer uma palavra, havia conseguido afastá-lo de mim.

Não demorou muito para Minato adentrar o jardim e me questionar sobre o motivo de sua pressa e nervosismo.

- Ele não gostou do meu cheiro. - Minhas palavras não agradaram a Minato, que revirou os olhos e suspirou derrotado, parecendo prestes a surtar comigo, mas não o fez. Disse que estava tudo bem e que iria conversar com Madara sobre reconsiderar. Eu apenas concordei.

Estava aliviado, mas pelos motivos errados. Minha família estava à beira da falência, e eu me sentia aliviado por não agradar à única pessoa capaz de salvar o legado dos Uzumaki's.

Eu já estava sozinho no jardim, cercado pelos sons dos insetos ocultos entre as folhas e árvores, além do ruído da coruja branca que outrora invadia o espaço, agora parte integrante juntamente com todas as rosas nos arbustos.

Dando alguns passos para trás, me apoiei na cadeira destinada aos convidados que haviam partido. Minha boca estava seca, a visão turva e a cabeça doía, talvez um efeito das inúmeras situações imaginadas, para no final nenhuma delas se concretizar, deixando-me com a estranha sensação de ter arruinado minha família consumindo-me.

...

Próximos capítulos em andamento...

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𝙇𝙖𝙘̧𝙤𝙨 ✝ {𝑶𝒃𝒊𝒅𝒆𝒊} Where stories live. Discover now