Capítulo 10

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Quando nós somos crianças, tudo é tão colorido. Normalmente elas brincam, e são super alegres. Mas comigo, isso não aconteceu.

Eu nasci com pouco peso, o que dificultou minha sobrevivência ainda quando bebê. Era difícil fazer com que eu engordasse mais, e isso fez com que minha infância inteira fosse uma batalha pela vida.

Eu estava abaixo do peso recomendado para minha idade, e isso preocupava toda minha família.

Mas não foi isso que dificultou a minha infância, e a minha vida, Evan.

Foi o bullying.

Garotas são más umas com as outras desde sempre, e eu senti isso na pele.

Elas me excluiam da roda das amigas, me deixando completamente sozinha lá. Todos me olhavam de forma diferente, como se eu fosse uma aberração.

Eu sou uma aberração, Evan?

Eu sei que não. E você responderia que não.

Mas era isso que parecia. Afinal, ninguém encostava em mim, e só falavam comigo se fosse para zombar de meu corpo e minha aparência.

Mas surgiu uma luz em minha vida, e essa luz se chamava Aber. Um garoto gordinho, com cachos de anjo, chegou ao colégio no meado do ano, ainda deslocado por ser novato.

Logo, ele fez questão de se aproximar de mim, sem pedir nada em troca, apenas a minha sincera amizade. Juntos, nós ignoramos as pessoas ao nosso redor, e fomos felizes a nossa maneira.

Porém, o bullying deixa sequelas. E talvez agora você entenda o motivo de eu ser tão insegura comigo mesma, e com as pessoas ao meu redor.

Agora tente imaginar, Evan, uma pessoa que sofreu toda a infância justamente por ser diferente, ser alvo de boatos e esculhambação. Difícil, né?

Mas nada que você compreendesse, afinal, você sempre foi um garoto brilhante.

O bullying cessou quando eu passei a ganhar peso, após ir em outra cidade fazer consultas com outros médicos, e na pré-adolescência, eu finalmente me vi como uma garota normal.

No entanto isso não significava que eu iria me misturar com as outras, não depois de sofrer tamanha humilhação com pessoas do mesmo tipo.

E é assim que eu sempre fui, Evan. Eu tive receio o tempo todo, de me aproximar de alguém, e de ser magoada.

O pior de tudo é que eu sei que a sua intenção jamais foi me magoar, e isso dificulta minha missão de te odiar.

Sim, Evan, odiar. Sabe por quê? Pois essa seria a forma mais fácil de arrancar você da minha cabeça. Eu tentei de todas as formas pensar em ti como algo ruim, uma nuvem carregada que passou em minha vida, e eu não consigo.

E naquele dia, eu vi com clareza o quanto eu era dependente de você.

Era sábado, e havia se passado apenas um dia que nós brigamos. Você bateu em minha porta, na hora em que o sol estava se pondo.

Tu seguravas uma cesta, com alguns doces, algumas coxinhas e uma garrafa de suco.

— Eu senti saudades. — você afirmou, com o olhar cabisbaixo. — E eu sinto muito por ontem, pela forma que eu falei com você. Digo, tudo que quero é que você confie em mim, e me doeu quando eu percebi que você não confia.

E eu te entendo, Evan, hoje eu entendo. Afinal, a minha pouca experiência não me permitiu enxergar muitas coisas.

Coisas que hoje vejo claramente.

— Tudo bem. Apenas deixe isso para lá. — pedi.

Era isso que eu sempre fazia, relevava e deixava para lá.

— Bom, pega algumas colheres e vamos nos sentar aqui na varanda. — você propôs.

— Não… Hoje você pode entrar. — convidei.

Quando eu permiti que você entrasse, eu te dei passe livre para a minha vida.

— É uma honra, Juliet.

Foi o que você disse quando colocou os pés em minha casa pela primeira vez. Olhou cada detalhe, desde o pequeno sofá desforrado até os lustres cristalinos.

— É uma bela casa. Deve ser legal morar sozinha. — afirmou.

— Sim, é. Eu não me dava bem com meus pais, então estou melhor só. — Falei enquanto ia me sentando no sofá, e você fazia o mesmo.

— Eu não moro sozinho, pois minha mãe está muito doente, e eu tenho que cuidar dela. — você contou.

— Oh, Evan, eu sinto muito.

Naquele momento eu me dei conta de que todos nós tínhamos problemas além dos da faculdade. E quem ver Evan Cooper em jogo jamais imaginaria que ele passa por tanta coisa difícil.

— Não sinta. Ela vai ficar bem, eu estou lutando para isso. Eu amo o futebol, mas eu jogo apenas por minha mãe, é o único jeito de manter ela bem, e dar o tratamento adequado. É por isso que eu não posso perder meu lugar no time.

Eu não fazia ideia de nada daquilo.

— Eu acredito em você, e acredito na recuperação dela, vai tudo ficar bem. — Tentei te acalmar.

Seus olhos castanhos marejaram, mas você tentou disfarçar e logo secou a lágrima do rosto.

— Desculpa… É difícil falar disso. Bom, quero que hoje seja animado, vamos assistir um filme enquanto comemos. — você disse.

Te ver quase chorando foi de partir meu coração, e ali eu percebi o quanto você podia ser frágil.

Percebi também que não era apenas eu que precisava de alguém para estar do meu lado, você também precisava.

E essa pessoa seria eu. Eu estive do seu lado.

— Romance ou terror? — você perguntou.

— Fantasia. — respondi.

— Ok, lá vamos nós então.

Enquanto eu estava em seus braços assistindo o filme, eu me dei conta do quanto estava viciada em você. O cheiro de sua blusa me deixava em êxtase, e tudo que eu queria era nunca mais sair dali.

Você fazia carinho em meus cabelos, e beijava minha testa as vezes, e eu pedia aos céus para me permitir viver mais momentos como esse.

Evan, eis aqui o quinto motivo pelo qual eu te amei.

Nós nos ajudávamos.

Enquanto estávamos juntos, nunca nos sentíamos sozinhos. Afinal, nós tínhamos um ao outro.

E isso era suficiente.

Pois, nós só precisamos de nós.

E eu só preciso de você.

Para sempre.

Juliet.

Para sempre, JulietWhere stories live. Discover now