Capítulo 16

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Nos livros, filmes e séries os finais são felizes.

Mas nós não somos personagens de livro, e nosso final estava bem longe de ser feliz.

Eu me senti culpada por ter feito você se sentir daquela forma. Mas hoje eu vejo, hoje eu enxergo que eu não errei.

Eu não tinha uma bola de cristal, e não teria como adivinhar que você estava mal por conta de sua mãe. O seu comportamento naquela noite foi completamente desnecessário.

Mas não que isso importasse para você.

Entre nós, as coisas eram sempre complicadas. Em um momento, estávamos felizes, e no outro, o teto desabava em cima de nós.

Desde a humilhação na sorveteria, Pâmela, Bryce, Daphne. Eu estava ignorando todos os sinais.

Mas daquela vez eu estava determinada a levá-los em conta.

Fui para faculdade, assisti minha aula, vi você sentado na arquibancada olhando o jogo, e Bryce estava do seu lado. Conversando feito legítimos amigos.

Você me viu, mas eu não fui falar com você.

Eu dei meia volta e saí da faculdade logo que minha aula terminou, e simplesmente te ignorei.

Hoje eu reconheço que minha atitude também foi errônea.

As pessoas me encararam quando eu virei as costas e não falei com você. E as fofocas voltaram a surgir.

"Evan deve ter traído Juliet"

"Evan terminou com a esquisita da biblioteca porque ela come salgadinhos de cebola, e isso deixa ela com bafo"

De todas as fofocas que surgiram, a que eu como salgadinho de cebola foi a mais sem noção.

Eu comia mesmo, e aliás, você também comia e adorava.

Todo mundo considerava que você havia terminado comigo. Mas ninguém pensava que poderia ter sido o contrário.

Por que será?

"Evan é bom de mais para ser dispensado." — elas falavam.

Quando cheguei em casa, meu celular estava repleto de mensagens suas. Preferi não ler.

Mas você permanecia me ligando, então eu atendi para pedir que parasse.

— Para de me ligar. Por favor. — pedi.

— Não me trata dessa forma. Eu não fiz nada de mais.

— Eu que não fiz nada de mais, Evan. Estava apenas conversando com um rapaz que se mostrou gentil, ele em nenhum momento me desrespeitou.

— Eu senti ciúmes. Eu sou humano. — você tentou se explicar.

— Eu estava magoada por conta do que houve no telefone. Eu sou humana.

— Ok… Pense como quiser, Juliet. Minha vida está realmente uma merda, e a única coisa que tem me alegrado ultimamente é você.

— Não sou um brinquedo que serve para deixar alguém feliz. Eu tenho sentimentos, Evan.

— Eu também tenho. Eu perdi tudo, por você. E estou disposto a perder mais ainda. Mas não que você esteja disposta a me ouvir, não é?

— Como assi…

Você desligou o telefone. Não me deu chance de terminar de falar.

Naquele momento, eu senti raiva. Mas hoje percebo que fui insensível e infantil.

Afinal, eu não sou perfeita, e estava longe de ser.

Passei a tarde toda tentando me convencer de que eu estava certa, que não precisava de você. Mas eu sabia que estava errada.

Eu sabia que sua frieza tinha um motivo. E eu fui esse motivo.

Porém eu fui orgulhosa. Decidi não te ligar, não te procurar.

Mas você ligou.

— Não podemos ficar do jeito que está. Posso ir em sua casa agora? — você perguntou.

— Pode. — afirmei.

E não demorou muito para você vir.

Eu abri a porta, você entrou. E nós nos sentamos no sofá.

— Escuta... Eu recebi uma proposta de ir para Manhattan, jogar futebol num time grande de lá.

Meu corpo gelou. Pensar na possibilidade de te perder era mais do que eu podia suportar.

— E você vai? — perguntei quase chorando.

— Você quer que eu vá? — você perguntou.

— Eu não posso definir o seu futuro. Você quem tem que dizer.

— Eu não quero ir, Juliet. E eu não vou.

— Mas…

Você colocou o dedo indicador em minha boca, indicando que eu fizesse silêncio.

— Mas nada. Eu não quero um futuro no qual você não esteja incluída.

— Eu vou com você. — afirmei.

— Não posso permitir que você largue tudo que considera importante apenas para me seguir. Eu vou continuar aqui. Minha situação com o Bryce está melhor, e ele me aceitou de volta no time.

— Tudo bem então.

Eu sabia que não estava tudo bem. Eu não queria ter que pensar na possibilidade de te perder, era além do imaginável para mim. Até o início daquele dia, eu estava disposta a ser mais forte, mas eu não era, Evan.

Eu não era forte antes, e não sou forte agora.

A maioria das pessoas tem dificuldade em assumir a fraqueza, o medo de perder alguém importante, e por muito tempo eu tive esse medo também. E não admitir isso me tornava mais fraca ainda.

Mascarar o medo com coragem é a pior mentira que alguém pode contar para si mesmo.

E hoje eu sei disso.

Eu estava tentando me manter calma. E não me desesperar diante a situação, afinal você havia deixado bem claro que não iria embora.

Não que eu não entendesse caso você realmente fosse. Afinal, sua vida iria melhorar em escalas inimagináveis, e sua mãe também.

— Eu sei que você não está bem com isso. A possibilidade de me perder talvez possa ter te afetado, eu vejo isso no seu olhar.

Você sabia, Evan.

— Como você sabe?

— Mascarar o medo com coragem é algo que eu fiz por muito tempo. E hoje sei reconhecer esse olhar. O olhar de alguém que está segurando as lágrimas e tentando de todas as formas fazer com que elas não desçam. Mas não precisa segurar, comigo você pode ser você mesma.

— É tolo de mais chorar por isso. Você me assegurou que não vai embora.

— Tolo seria eu se fosse embora. — você afirmou e acariciou minhas bochechas. — Não quero perder esse olhar doce de vista de jeito nenhum.

Evan, eis aqui o oitavo motivo pelo qual eu te amei.

Você sabia reconhecer quando eu não estava bem, mesmo que eu estivesse tentando de todas as formas esconder isso.

Você me ensinou que ter medo de perder alguém não é fraqueza, é força.

Afinal, tem que ser forte para amar. Tem que ser forte para admitir que sua vida não é mais a mesma sem alguém.

Pois o amor, Evan. O amor é fortaleza. O amor é vigor.

O amor é a energia que alimenta meu corpo.

Para sempre.

Juliet.

Para sempre, JulietOnde as histórias ganham vida. Descobre agora