Capítulo 20

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O fim estava próximo.

E apesar na época eu não saber disso, de qualquer forma, eu estava sentindo. Durante dias, a chuva não cessou, e há quem diga que chuvas antecedem tragédias.

A tragédia, Evan, foi o fim do nosso relacionamento.

Mas não chegamos lá ainda. Não nessa carta.

Eu gostaria de lhe pedir, caso você ainda tenha um mínimo de consideração pelo que nós passamos, que no exato momento em que você ler esse parágrafo, que feche os olhos e se lembre de tudo que passamos até aqui. Eu duvido que você não vá se lembrar, afinal essas cartas servem como um rio de memórias.

Lembrou?

Espero que sim. Agora feche os olhos, e pense no momento mais importante de sua vida, qualquer um.

Pensou?

Bom, agora eu tenho que lhe contar algo sobre mim.  Sempre que eu fecho os olhos, eu me lembro de você. Da memória constante do seu toque, dos seus dedos acariciando minhas bochechas, do seu sorriso que transbordava alegria.

E o pior, é não saber se sua melhor memória foi comigo. Pois eu não consigo lembrar da felicidade sem me recordar de ti, Evan.

Feche os olhos, e imagine que estou em sua frente. Agora comece a dizer o que você me diria caso me visse novamente.

Essa é uma tarefa difícil. Eu tentei fazer isso bem antes de propôr, mas eu simplesmente travei. As palavras fugiram, e eu chorei ao perceber que eu não sei o que diria. Eu nem sei se diria algo, ou iria correndo te beijar.

Pois isso é o que me dói.

Eu não consigo imaginar o que você faria, Evan, eu sequer sei se realmente cheguei a te conhecer por completo.

E agora, meu último pedido.

Peço que olhe para a lua, e tente se lembrar daquele dia. Se você estiver lendo isso de dia, espere até a noite chegar, vá até onde você seja capaz de ver a lua em toda sua maestria, e lembre-se. Apenas lembre. Feche os olhos, suspire, permita-se sentir e imaginar que tudo está acontecendo mais uma vez.

Te peço isso, Evan, pois preciso que sinta. Sinta tudo o que foi jogado fora.

Nós estávamos juntos já faziam cerca de cinco meses, nosso relacionamento havia parado de passar por turbulências. E eu estava feliz, verdadeiramente feliz.

Deitados na cama, numa noite de lua cheia, apenas conversando e se admirando.

— Vamos olhar a lua e as estrelas? — você propôs.

— Onde?

— Tem um lugar especial, que eu sempre vou para refletir, e acho que seria legal ir lá com você.

— Eu estou com tanta preguiça. — bocejei.

— Farei essa preguiça passar agora. — você colocou seus dedos em minha cintura e começou a mexê-los, fazendo com que eu sentisse cócegas.

Eu ri descontroladamente. A preguiça passou rapidamente.

— Para! — eu falava entre risos.

— Ok, ok. Agora vamos. — você parou de me fazer cócegas e se levantou.

— Chato.

Eu não queria muito ir, mas tudo que fosse com você, seria especial, então eu fui.

A melhor decisão que eu já tomei em minha vida.

Demorou um pouco para chegarmos lá, éramos capazes de enxergar toda a cidade. A sensação que eu tinha era que cheguei mais perto da lua, do céu, e das estrelas. Estávamos no topo da cidade, deitados no chão, apenas calados observando o céu.

As estrelas brilhavam mais forte, e daqui do alto, eu as enxergava com mais facilidade. E pela primeira vez, as estrelas chamavam tanta atenção quanto a lua, que por sua vez parexia estar olhando exclusivamente para nós.

— Esse lugar é magnífico. Obrigado por me trazer aqui. — agradeci.

— Eu sabia que você iria gostar, meu amor. — você se virou e olhou para mim. — Nada disso aqui é páreo para ti, pois você merece muito mais do que apenas uma vista bonita. Se eu pudesse te dar o mundo, eu daria. Mas como não posso, te dou apenas meu amor e uma visão bonita para o céu.

Eu derretia cada vez que você me dizia coisas como essa. Simplesmente não tinha como não te amar, você cativava as melhores partes de mim, fazia com que eu quisesse sempre fazer o melhor por ti.

E eu fiz, Evan, eu fiz…

— Eu também queria poder te dar muito mais. Porém eu só tenho amor para te dar.

— E mais uma coisa… — você disse sorrindo.

— O que?

— Você me fornece um espetáculo. Uma vista bela, a mais bela de todas.

— Como assim? — eu estava sem entender.

— Você a mais bela vista de todas. O melhor espetáculo. A pessoa em que eu me orgulho de ver do meu lado na cama ao acordar, que mesmo com remela nos olhos e com bafo de leão, continua sendo linda.

Eu não sabia se chorava, ou se dava risada.

Mas não fiz nenhuma das duas, apenas olhei para você e sorri.

E ali, Evan, deitados no chão, olhando para o céu, só havíamos nós dois e mais nada. Esquecemos do mundo a nossa volta, e voltamos nossa atenção apenas para o que importava. Nós dois. Nosso amor.

Evan, eis aqui o décimo motivo pelo qual eu te amei.

Não havia nada no mundo além de nós dois.

Pois nosso amor era o que importava.

E é o que até hoje importa.

Eu me importarei para sempre.

Juliet.

Para sempre, JulietWhere stories live. Discover now