Capítulo 2

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Mavis

Eu tô é empanzinada.

— Menina, tu comeu um pote de doce de goiaba com creme de leite, morta fome. -José negou olhando pra mim.

— E você comeu o outro pote. -apontei.

Eu me deitei no chão frio da área de serviço de casa onde o vento circulava.

— Ai meu bucho, vou cochilar. -digo.

— Vai é ler aquela pornografia, que tô bem vendo o livro aí do teu lado. -ele se deitou do outro lado.

— Só umas duas páginas. -falo.

— Digo é nada. -ele fechou os olhos.

Em menos de cinco minutos aquele urubu estava dormindo, roncando e estremecendo o piso da sala.

Ouço um estralo que pareceu mais uma trombeta, eu levo a mão ao nariz e olho para aquele indivíduo.

— Ô bicho do cu podre. —digo— vai cagar no mato, fi de uma égua.

Outro e eu me levantei, correndo dali pro meu quarto.

— Em vez de jogar aquele rabo podre no mato. -digo.

Eu abri o livro na página onde parei, antes de ser interrompida pelas bombas atômicas de José.

— Eita que o cabaré tá é grande nesse capítulo cinquenta e cinco. -falei esfregando as mãos.

Cruzei as canelas e li o restante.

— Doce pra dar sono, viu. -bocejo.

Eu pisco algumas vezes, algo luminoso transpassando as letras das páginas, como se luz estivesse brilhando por trás delas.

— Diabo é isso? -murmuro.

Eu toquei e aconteceu, de novo, os meus dedos atravessaram metade da página e pisquei os vendo como um desenho animado, brilhantes.

— Minino, que macumba é essa? -questiono espantada.

Observo o livro como se uma janela tivesse sido aberta naquela página, vejo meus dedos abanado em um céu noturno e estrelado, eu estremeci ao sentir uma brisa fria de vento neles.

— Tinha era maconha nesse doce. -falei.

Experimentei então mergulhar a mão inteira ali, vendo ela se tornar como os dedos.

— Égua, e se...

Um puxão, meu braço se aprofundou inteiro no livro, foi quando então eu fui puxada por uma força maior, mergulhando dentro dele.

— Valhei-me minha nossa senhora, caí da ribanceira!! -gritei.

Luz irradiou e vento sacudiu, pus as mãos na frente do rosto e percebi, como um desenho. Eu soltei um grito estrangulado como uma taquara rachada enquanto caía.... do céu.

Um céu noturno repleto de estrelas, eu olhei adiante, uma montanha e três estrelas passou por minha visão enquanto eu caía rumo a morte.

Foi quando meu corpo esquentou, formigou, minha pele ficou laranjada com um fundo amarelo... eu estava brilhando.

Fogo queimou e eu cruzei o céu acima daquela montanha como uma estrela cadente.

Eu gritei, quando atingi algo, não algo, alguém.

Eu despenquei junto com o ser que antigi, nos embolamos no céu até que braços fortes me envolveram e mãos grandes me seguraram firmemente.

— Febre do rato!!

Corte De Trevas E Sombras | •AcotarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora