Capítulo 21

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Mavis

— COMO ASSIM MEU PARCEIRO?! -o quarto tremeu.

— Pensei ter dito direito. -ele se ergueu.

— A pessoa que me torturou, o meu carcereiro naquela prisão é meu parceiro?! -olho para o teto.

Azriel me olha e pude jurar que ele se encolheu um pouco.

— Eu estava fazendo meu trabalho. -ele murmura.

— Não muda o fato de que você me torturou. -digo ofegante.

— O que queria que eu fizesse?! Uma estanha caiu do nada em nosso mundo, nossa corte, magicamente do céu, eu como mestre espião tinha o dever de levá-la, recebi ordens para que tirasse a sua verdade! -ele rebate.

— Tirar a verdade e a minha vida também?! -eu já chorava, de raiva, tristeza, não sabia distinguir.

Ele fecha os olhos.

— Eu disse a verdade, não sabia como havia parado aqui, e você me tirou sangue por dias. -bato em meu peito como se pudesse amenizar a dor.

Eu respiro com dificuldade.

— Você me torturou mesmo eu tendo dito a verdade, não confiou em sua lâmina? -soluço.

— Pessoas conseguem enganar com facilidade, meu grão-senhor foi extremamente franco sobre isso e exigiu até que Cassian intercedeu! —ele rebate— e eu dou graças a mãe por ele ter feito isso antes que acabasse acontecendo o pior com você.

— Você me odeia, deixou bem claro, não apaga tudo isso! —aponto para meu corpo coberto pela camisola, mas ele podia ver os braços, riscados como as linhas de um livro, com cicatrizes— você me marcou, pro resto da minha vida!

Ele olhou cada cicatriz.. e então olhou para suas próprias mãos, para o que aquelas bandagens cobriam.

— Escute...

— Vai me dizer algum discurso extremamente bonito? Vai me fazer grandes juras e então seremos felizes pra sempre? Isso não é um poema ou uma maldita história! -exclamo.

Ouço um barulho, um barulho doloroso, então percebi tarde que era choro, o mestre espião estava chorando, os olhos baixos para não encarar os meus.

— Pedir perdão não é o bastante. -ele sussurra.

— Não é. -engulo o nó dolorido em minha garganta.

— Acha que eu..

Ele olha para as mãos.

— Eu fiz com você o mesmo que fizeram comigo, porra, acha que eu não penso nisso? -ele questiona.

Aquela dor, não era minha, sentia uma angústia que não era minha, uma vontade avassaladora de chorar que não era minha, sentia que aquilo poderia me matar por dentro.

— O que é isso? -levo a mão ao peito, tentando saber, não era meu, mas doía.

— Você está sentindo a minha dor através do laço. —ele murmura— tentei bloquear isso desde que descobri mas é muito difícil.

— Desde quando você sabe? -questiono.

Ele hesitou.

— Desde quando?! Porra!! -exclamo.

— No dia em que você fugiu.

Eu me calei.

— Quando você falou que tinha medo do escuro.. —ele sussurra— eu deixei aquela vela para você na cela.. porque lembrei de mim mesmo quando criança.

Corte De Trevas E Sombras | •AcotarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora