Capítulo II

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Malika Sirhan - África do Sul

Abro os olhos e não consigo enxergar devido a luz do sol. Levo alguns segundos para me lembrar onde estou.

Rapidamente me levanto. Vejo que está quase na hora e corro em direção a estação. Quando me dou conta, já estou no trem tomando meu assento e, assim que ele dá partida, me sinto bem como não me sentia há dias. Estou indo pra casa, não para o inferno de onde eu saí. Estou indo para o único lugar onde me senti bem em toda a minha vida.

Passo toda a viagem na janela, observando as paisagens. A expectativa de retornar ao meu verdadeiro lar é tão grande, que nem mesmo me preocupo com os perigos com os quais posso me deparar no caminho. O mundo não é um local acolhedor ou seguro, mas para senti-la novamente, posso enfrentar qualquer desafio.

Lembro de minha mãe e sinto um aperto no peito. Ainda consigo ver seu rosto, consigo ouvir sua voz dizendo "minha doce princesa". Me lembro de como era bom estar em casa com ela, nossos dias juntas. Me lembro de quando ela me levava pra caminhar na neve, quando me ensinou a esquiar. Por um instante me pergunto pra que continuar. Não posso tê-la de volta. Mas então me lembro. Ao menos ainda posso estar em meu verdadeiro lar. E sei que quando eu estiver lá, ela estará comigo, de alguma forma.

Quando finalmente chego ao meu destino, já é noite. Saio da estação e começo a procurar um lugar para me abrigar. Vejo um homem me observando fixamente e sinto um arrepio. Me lembro do outro homem que encontrei. Lembro de seus olhos sedentos, do cheiro de álcool em sua boca, de suas mãos me segurando com tanta força que parecia suficiente para partir meus ossos. Por fim, me lembro de sua expressão vazia e sem vida, seu corpo estirado no chão. Quando volto do meu devaneio, não vejo o homem que me encarava. Sinto meu coração acelerar.

Começo a andar mais depressa, procurando onde eu possa me esconder. Dobro a esquina e percebo que estou num beco sem saída. Quando me viro para voltar, o homem está lá junto com outro homem e uma mulher. Eles se aproximam e vejo seus uniformes. Meu coração acelera mais ainda, pois sei que me encontraram. Eles vieram pra me levar de volta. Ou pior, vieram pra me levar para a prisão.

Tento correr, mas eles me seguram. Quando tento resistir, começo a sentir uma ventania forte e ouço um ruído tão alto que me impede de ouvir o que o homem me diz. Olho pra cima e vejo um helicóptero. Nesse momento, vejo que não tenho saída, mas ainda assim não desisto. Só consigo pensar em ir pra casa. Não posso permitir que me levem.

Reúno todas as minhas forças, uso a cabeça para atingir o homem atrás de mim e chuto o da frente com o joelho. Estou desesperada. Sinto um frio percorrer o meu corpo. Quando a mulher tenta me agarrar, seguro sua mão e é nesse momento que acontece. Sinto calor percorrer o meu corpo e a mão da mulher começa a ficar fria e azulada. Solto-a rapidamente. Isso não pode estar acontecendo de novo. Como posso estar fazendo isso de novo? O que está acontecendo comigo? De repente todas as minhas perguntas são interrompidas, quando sinto uma agulha em meu pescoço e o mundo escurece.

Sophia Medeiros - Curitiba, Brasil

- Garota, o que você está fazendo!?

Acordo com um pulo. Mais um pesadelo, pra variar.

Passo a mão no rosto para dissipar o medo. Tenho tido sonhos muito vívidos ultimamente, e cada vez me assusto mais.

Escuto uma batida na porta do quarto.

- Pode entrar! - grito, afinal, olhando para o relógio, vejo que já passa das 9h, então não há mais ninguém dormindo aqui.

Uma garota de cabelos longos e pretos abre a porta e enfia só a cabeça pela fresta.

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