Capítulo IV

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Aisha Radjaram

Acordo desorientada, com uma tremenda dor de cabeça; me forço a abrir os olhos, apesar da dor, e constato que estou deitada em uma cama branca.

Olho ao redor e vejo que as paredes do quarto são de um azul metálico; numa parede há uma TV e, na outra, um enorme espelho que serve como porta.

Me aproximo do espelho, e analiso o meu reflexo: meus cabelos estão limpos e escovados, e foram arrumados em duas longas tranças; estou vestindo um macacão marrom e calço um tênis branco e limpo.

Fico um tempo ali, só me olhando, impressionada com a minha imagem refletida, até que reparo que há uma abertura quadricular no vidro.

Me aproximo e, ao abrir a portinha, encontro uma incrível refeição que fora deixada ali, suponho que a pouco tempo, pois ainda está bem quente.

Há um prato com três divisórias, e identifico os seguintes alimentos: arroz, um tipo pasta alaranjada com proteína (que é algo que só ouvi falar que existiu, mas nunca provei), e alguns legumes.

Agradeço mentalmente por aquele presente. A comida sempre foi o motivo de minha sobrevivência.

Junto do prato, há uma garrafinha de água límpida e fria, e um prato com uma fatia marrom. Não hesito, e ataco imediatamente a fatia triangular com uma grande mordida. Não consigo identificar o sabor, mas ele é extremamente doce, molhado, e derrete em minha língua.

Nunca em meus dezesseis anos de vida provei algo tão gostoso assim, e em apenas duas mordidas, eu já havia devorado a fatia completamente.

Em seguida, alterno entre grandes colheradas da comida quente e saborosa presente no prato com divisórias, com longos goles de água, até acabar com o último grão de alimento disponível.

Nunca comi tanto, e tão bem, em minha vida. Tinha a sensação de que eu havia passado dias sem comer nada, até que um clique em minha cabeça me acorda desse devaneio.

O que aconteceu?

Não consigo me lembrar de muita coisa. Me recordo apenas que vi meu pai no chão, e algo foi espetado em meu pescoço.

Me raptaram? Mas por quê?

Eu não tenho dinheiro, nem nada em especial que alguém possa querer de mim.

Fico tentando encontrar sentido nisso tudo por um tempo, até que ouço um barulho na porta. Quase como um reflexo, corro até o canto da sala e me encolho entre a cama e a parede, abraço meus joelhos e fico escondida.

Se alguém foi astuto o bastante para me sequestrar, o que será que fará comigo quando descobrir que não tenho nada a oferecer?

Sinto um cheiro de pano queimado e, quando olho entre meus braços, vejo que estou dentro de um círculo de fogo com mais ou menos cinco centímetros de altura. Por mais assustadora que seja a situação, no entanto, sei que o fogo não irá me machucar.

A porta finalmente é aberta, e espero encontrar do outro lado algum homem ou velho com cara de maluco, que esteja vindo para me buscar e tentar me forçar a falar ou fazer algo, mas me engano.

Um lindo jovem aparece na entrada.

Ele usa um terno branco com uma camisa social preta, e tem um lindo rosto, provavelmente muito popular entre as garotas de sua idade. Não deixo de ficar encantada com sua beleza. Ele tem um porte fino, bem arrumado, é alto, possui ombros largos e um sorriso com dentes brancos a ponto de cegar.

Meus devaneios sobre a aparência daquele jovem duram poucos segundos, pois logo são interrompidos pela memória do meu pai caído de bruços, e a lembrança de que fui tirada dele.

InfectedWhere stories live. Discover now