Capítulo VI

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Vladmir Gregorovitch

Aos poucos, minha cabeça para de latejar e recobro a consciência, mas quando consigo distinguir formas, percebo que estou num local totalmente diferente, que definitivamente não é São Petersburgo.

— Tem alguém aqui? — sussurro, e fico surpreso com o próprio som da minha voz.

Quando me levanto, começo a observar algumas coisas no local onde eu estou.

Primeiro, é um lugar arrumado, sem sujeira por todo lado. Aliás, não tem muita coisa aqui. Há uma cama, uma cadeira e uma mesa. Acima da cama, há um compartimento, dentro do qual há algo que está cheirando bem, que eu acho que seja comida.

Segundo, eles me limparam. Não me sinto limpo assim desde o verão passado, quando tomei banho no rio...Não, tem anos que não me sinto limpo assim. E eles também me deram uma roupa nova, camisa e calça marrom, muito cheirosa e quentinha.

Há uma porta que parece ser feita de vidro, com um puxador de metal e uma tranca, mas a chave não pode ser colocada por esse lado, pois a abertura está selada.

Isso é uma prisão.

Tem um homem parado no lado de fora da sala onde eu estou preso: olhos violetas, cabelo loiro cortado curto, barba feita há alguns dias, corpo esguio, meio musculoso, com algumas cicatrizes nos braços, os olhos cansados e o rosto transmitindo uma sensação de tristeza.

Parando para pensar, eles cortaram o meu cabelo também.

Inconscientemente, levanto a mão para coçar a cabeça e percebo que aquela porta não é de vidro. É um tipo de espelho, e aquele homem sou eu.

Nossa. Há muitos anos que não me vejo, mas como nunca liguei para a minha aparência, não importa.

Antes que aquela comida deliciosa esfrie, vou comê-la, pois quem já quase morreu de fome incontáveis vezes, come o que tiver pela frente.

Nossa, que delícia.

Quando termino de comer, volto a olhar a porta, e percebo também que minhas mãos, cheias de calos foram tratadas de todos aqueles pequenos ferimentos que eu acumulo e não cuido, para não desperdiçar material de curativo.

A porta parece grossa, mas não entendi porque é um espelho. Poderia ser qualquer outra coisa.

Coloco a mão no puxador de ferro, desejando que ele fique mais denso e pesado. Puxando a tranca para baixo, a porta abre.

Abro mais um pouco e olho para os lados para ver se não tem ninguém.

O corredor, pintado do mesmo jeito que a cela, cinza na parte de cima e azul na de baixo, está deserto.

Saio da cela, fecho a porta e corro em disparada para um dos lados.

Basta virar a esquina na bifurcação para encontrar uma pessoa.

É uma mulher, que fica com uma cara de terror absoluto quando me vê. Não penso duas vezes antes de bater na lateral da sua cabeça, que por sua vez cai e desmaia.

Sem nem pensar no que fiz direito, me viro e volto para o outro lado, correndo mais rápido ainda.

Esquerda. Direita. Esquerda. Esquerda. Novamente. Direita.

Chego em uma sala bem maior do que minha cela, com a continuação do corredor do outro lado e, entre mim e ela, 3 soldados perplexos.

Ouvindo passos se aproximando atrás de mim, percebo que não vai dar para recuar: vou ter que lutar.

Se os soldados estivessem com as mesmas armas modernas que os de São Petersburgo, eu não teria a menor chance, mas esses estão desarmados, então ainda tenho esperança.

O primeiro avança correndo, mas eu simplesmente coloco a perna, faço-o tropeçar e, quando ele cai no chão, me jogo nele, com o cotovelo caindo na cabeça e, antes dos outros dois chegarem, esse já estava desmaiado.

Os outros dois avançam juntos, e eu tento fazer um deles ficar pesado.

Ele ficou mais lento, mas, como eu pensava, não consigo com uma coisa tão grande.

A lentidão de um deles me dá alguns segundos de luta a sós com o outro, tempo suficiente para acertar um soco na barriga e ele acertar a lateral da minha cabeça. O gosto de sangue vem à minha boca.

Sem perder completamente o equilíbrio, passo uma rasteira no segundo e corro do terceiro soldado pelo corredor que agora está desimpedido.

Avanço alguns metros antes de aparecer mais um deles, ou pelo menos, parece um. A roupa é igual à dos outros, mas esse usa luvas de ferro.

Ele começa a correr na minha direção, e penso em fazer o mesmo que fiz com o primeiro soldado, mas no último momento, ele pula e acerta um soco diretamente no meu rosto. Além de perder o equilíbrio e cair imediatamente, levo um choque.

Literalmente.

Aquela luva eletrocuta.

— Seu resto de aborto, o que pensa que está fazendo? — o soldado da luva fala. — Você causou a maior confusão aqui, e nós pensávamos que você iria ficar desacordado pelo menos mais uns 2 dias.

Dou uma cusparada de sangue no chão.

— Filho da mãe... — consigo resmungar.

— Ainda está consciente? É durão, hein? — o soldado fala. — Não concordei muito com esse plano, mas até que vocês podem servir para isso.

— Vocês? — falo, debilmente.

— Pelo visto você não sabe de nada. Você achou que era único? Não é. Você achou que te trouxemos aqui porque gostamos de você? Não gostamos. Te trouxemos aqui, todos vocês, porque podem nos ajudar, e é só.

Quando ele terminou de falar, outros soldados chegaram, dessa vez armados.

— Levem ele para o salão de treinamento — Ordenou o soldado da luva. — Ele vai encontrar os outros.

— Sim, capitão! — Disseram os soldados em uníssono.

Enquanto sou arrastado pelo corredor, me sinto um pouco feliz.

Eu não estou sozinho.

InfectedWhere stories live. Discover now