Capítulo XXIII

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Akira Yamaguchi

Me sinto muito desconfortável com essa gravata. Na verdade, creio que seja a altura e quantidade de botões que essa camisa tem. Parece que vou ser enforcado pela própria roupa.

— Não consigo dar um nó nisso aqui.

Aisha vem até mim e pega os dois lados da gravata, e em menos de cinco minutos consegue alinhar o adereço. Lembro de quando eu estava no quarto de Aisha, em meio ao fogo cruzado de gritos.

Olhei para as duas garotas no quarto e questionei como foi que me enfiei no impasse.

— Não vejo motivos para ele não ir — eu disse.

— É uma festa de gala, Akira. — Mederi estava muito nervosa. — Eu já disse. Ele não vai.

Aisha se levantou da cama, não se dando por vencida. Pegou o cachorro no colo e disse:

— Pois se Carl não for, eu também não vou — bateu o pé e abraçou o animal.

Olhei para a fúria ruiva que se encontrava na minha frente e tentei convencê-la.

— Mederi, ele vai se comportar. Eu me responsabilizo.

Ela bufou e cruzou os braços.

— A questão não é a responsabilidade. Se ele fizer bagunça, a responsabilidade será sua. Mas e daí?

Jurei não perder a linha com nenhuma delas no momento em que passei pela porta. Elas já estavam discutindo há uns quinze minutos quando eu cheguei, e eu já estava lá há dez. A briga toda se resumiu em Aisha poder ou não levar Carl para a festa de congratulação que recebemos.

Mederi foi tomada pela fúria da afronta e começou a gritar, disparando palavras e gritos por todos os lados.

— Ele não vai, está bem? Quer saber? Se não quiser ir, não vá, garota. Estou de saco cheio de vocês. Esta na hora de aprenderem a obedecer.

Mederi saiu a duras pisadas do quarto.

Assim que ela se foi, nós dois caímos na risada pelo show que Mederi nos proporcionou.

Dou uma leve risada enquanto Aisha passa as mãos no smoking para tirar qualquer resquício de poeira que possa estar presente.

— O que é tão engraçado? — ela me pergunta, arqueando as sobrancelhas.

— Eu estava aqui pensando na sua conversa com Mederi. — o riso se solta dos meus lábios a cada palavra. — Foi uma conversa interessante.

— Conversa passou bem longe do que aquilo foi. — ela cruza os braços.

Olho seu rosto emburrado e dou um pequeno beliscão em sua costela.

— Eu te amo, pequena.

Abraço-a e sou afastado bruscamente. Não a culpo, tem um vestido bem ali que pode ser amarrotado até pela brisa noturna.

— Eu não sou a favor de incesto também — dou risada, o que a contagia. — Mesmo que você não seja do meu sangue, é minha irmã. — Passo os dedos na pele morena do seu rosto. — Você está linda, o que me dá um álibi caso algum garoto chegue perto de você e eu seja obrigado a um homicídio.

— Você é muito exagerado. — ela solta um riso frouxo. — Mas é galante. Não que essa roupa não te ajude. Na verdade, acho que se essa roupa estivesse em qualquer um, eu me encantaria.

Dou uma olhada no espelho enorme que se prende na parede do banheiro. Lembro do dia em que entrei no quarto e não consegui discernir as curvas do seu corpo, mas agora a impossibilidade se dá ao fato de tirar os olhos da escultura perfeita que se enquadra no tecido. O vestido não tem alça e o tecido fino e esvoaçante desce livre até os pés dela. Ele marca a curva suave dos seus quadris com uma fita prateada. No busto o vestido tem seu grande charme, um arranjo de renda parecido com penas de pavão e desenhos, que juntos parecem uma nevasca.

InfectedWhere stories live. Discover now