Ella e seus troféus

63 10 2
                                    


   Ella tentava lembrar de seus troféus de infância... Não os tinha em sua memória.

   Ela não havia sido uma criança muito ativa em torneios ou algo do tipo, ela tentava sempre se esquivar. Sempre optar por não ter as atenções sobre si, para si, por si.

   No entanto, grandes recordações ela obteve, mais valiosas que qualquer prêmio que poderia receber. Honra ao mérito? Melhor esportista? Melhor aluno? Nenhum desses.

   Ella ficava feliz por receber o prêmio de atenção da bibliotecária. Se sentia em outro universo quando abria a porta daquele cômodo, e passava horas e horas na presença daquela senhora de cinquenta e tantos anos. A senhora abria livros para contar histórias na mesma facilidade que abria a porta da galáxia, tão sabiamente e profundamente que Ella poderia mover-se de galáxia à galaxia mesmo estando em terra firme.

   O modo tão vivo de se fugir da realidade era costumeiro, tanto quanto beber água, ela todo dia teria que fazê-lo, era mais que uma necessidade.
  
   Fora dali, sofrera com todos aqueles que não a compreendiam, e nem queriam a compreender. Talvez a pouca idade tenha influenciado isso, ou não.

   Ella não tinha fisicamente em suas mãos grandes troféus, na verdade, nem pequenos. Mas em seu coração sentia verdade, sentia como se fosse completamente uma vencedora, uma astronauta talvez, quem sabe até uma cientista, ela não entendia de fato o que a preenchia, se era a atenção daquela senhora a protegendo das ameaças do mundo, ou se era a maneira em que a mesma flutuava mesmo quando nem sequer tentava fechar os olhos para poder ignorar o mundo.

   Ela imaginou muitos troféus na sua estante, mesmo ninguém sendo capaz de vê-los, e ela se orgulhara por conseguir imaginar esse feito também.

   Nos dedos ela contava quantas provas e concursos ela já participou... Restara todos os dedos. Ela não tinha derrotas, no entanto, nem tivera participado para isso.

   Mas ela tinha uma medalha, de verdade, que ganhou quando seus pensamentos foram criando forma, era uma medalha de excelência, um bom ano letivo a trouxera isso.

Mesmo tendo a perdido, ainda sim, era uma conquista unicamente dela e seus esforços. Apesar de não recordar tão bem, ela lembrara, ela conseguiu, mesmo com as dificuldades de se sobressair e se expor em meio à aquela pequena multidão.
  
   Ela gostou da sensação, mas os livros em suas mãos ainda haviam sabores melhores, sabores estes que seriam confundidos com a liberdade e também a flutuação.

   No final das contas, ela notou que a quantidade de medalhas e troféus não a deixara mais triste ou feliz, que o verdadeiro medalhão que devemos ter é aquele que não vemos e sim, sentimos.

   Como a leitura, a imaginação e toda a sua loucura, de sentir e de ser, na mesma hora que não. Melhor que troféus, ela conquistou lembranças que são mensuráveis e inesquecíveis, que nem em sua terceira idade ela conseguiria esquecer.

A verdadeira prova da vida é o que você consegue ver. E pelo seu ponto de vista, você irá seu troféu merecer.

Inesperado Onde as histórias ganham vida. Descobre agora