I - Sorte e Ouro

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Foi Isis quem me acordou. Seus cabelos ruivos estavam aninhados em volta de sua cabeça como uma nuvem no por do sol, brilhando mesmo na luz cinzenta que entrava da janela, e ela parecia um lindo fantasma flutuando sobre mim.

—Bethany, acorde... Acorde! – ela gritou, desesperada, puxando meu braço enquanto eu forçava meus olhos a se manterem abertos – Bethany, precisamos ir. A casa está pegando fogo. A cidade inteira está em chamas!

—O que? – arregalei os olhos, me levantando em um só pulo, e me forçando a ficar em pé apesar da tontura e do cheiro forte de fumaça – Vamos, vamos descer...

—O andar de baixo está inteiro em chamas – ela gritou, tossindo com a fumaça que começava a encher o quarto – Mamãe está lá fora. A única saída é a janela!

Respirei fundo, abrindo a janela. Era uma queda de dois andares. Não era impossível, mas ainda sim podia causar um ferimento grave se caísse de mau jeito. Marian nunca me perdoaria se Isis quebrasse uma perna ou um braço – Me de sua mão, eu te seguro e você desce.

—Mas e você? – perguntou ela, apavorada, sem parar de tossir.

—Eu posso pular, sem problemas – falei, pegando sua mão. Ela levou a mão livre ao pescoço, como se fosse rezar, e me encarou na expressão de mais puro pavor que jamais imaginei ver em seu rosto.

—Minha correntinha! – ela arfou, tossindo mais uma vez – Está em cima do criado mudo, pode ir sem mim, eu já venho...

—Não vai conseguir pular depois – puxei a mão dela. Ela não podia mesmo estar cogitando voltar para toda aquela fumaça por causa de uma gargantilha.

—Estou acostumada a pular a janela do meu quarto, estarei lá fora antes que possa fazer a volta – ela falou, sorrindo travessamente, e encarando meu olhar cético – Desculpe Bethany...

Antes que eu pudesse entender o que se passava na cabeça dela, ela me empurrou com seus dedos finos com toda a força contra a janela, me jogando para o lado de fora sem qualquer resistência, surpresa demais para reagir.

Bati com as costas na grama, urrando de dor. Minha cabeça doía como se meu crânio estivesse se quebrando em centenas de pedacinhos, e eu sentia um líquido escorrendo por trás da minha orelha direita. Não havia dúvidas que eu estava sangrando.

—Isis? – Marian perguntou, entrando no meu campo de visão e se aproximando correndo – Bethany? O que aconteceu? Onde está Isis?

—Ela me... Empurrou – falei, sem folego – Voltou para buscar... A correntinha.

—Não, não, ela não pode ter feito isso – Marian falou, se levantando e correndo para dentro da casa em chamas, como se pudesse atravessar o fogo. Entrei em desespero assim que ela desapareceu casa adentro, tentando me levantar. Era como se uma mão gigantesca me empurrasse contra o solo, me impedindo de me mexer.

A Rainha Da Beleza - A Rainha da Beleza Livro I [NÃO REVISADO]Where stories live. Discover now