XVIII - Curativos Dourados

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Em algum momento, todas deveríamos ter pegado no sono, por que acordamos com um pulo quando a porta abriu no chão entre nós, e senti meu coração disparar antes da longa cabeleira negra surgir da escuridão

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Em algum momento, todas deveríamos ter pegado no sono, por que acordamos com um pulo quando a porta abriu no chão entre nós, e senti meu coração disparar antes da longa cabeleira negra surgir da escuridão.

-Acabou – Annie falou delicadamente, apertando os olhos para se ajustar a pouca luz – Vamos descer.

Não perguntei como Annie sabia daquele lugar, ou por quanto tempo sabia dele. Algo em seu rosto me dizia que não era uma boa hora para fazer perguntar. Ela me ajudou com meu tornozelo, e então esperamos que Jin e Kali nos seguissem pelos longos lances de escadaria até a saída no terceiro andar, nos fazendo pegar uma escada lateral mais distante da casa das musas do que seria pelo segundo andar da biblioteca.

Mas não perguntei por que evitar o segundo andar, enquanto passávamos por toda a destruição que atingira o Petit Palace.

Ainda sequer amanhecerá. Havia sangue e vidro por todos os lados, cristais e espelhos quebrados refletindo todo o horror em nossa volta, mas não havia corpos. Não, não havia corpos antes do dela - o primeiro que eu vi.

Ela estava jogada no corredor como um velho pedaço do tecido, um vestido cor de rosa que um dia foi brilhante e sonhador sujo, e rasgado em pontos de intenções claras, no peito e na saia, até a altura do quadril. Os cabelos loiro-brancos, que antes tinham cachos perfeitos, tinham mechas arrancadas em volta dela e estavam coberto quase por inteiros de sangue oxidado. Mesmo se eu não a tivesse visto antes, eu saberia que era ela. Pois olhando nos olhos arregalados, parados e mórbidos de Lilie, eu percebi que havia mais lilás neles do que nos da irmã.

Meus ouvidos zumbiam tão alto que me davam vontade de gritar, mas se eu gritei não ouvi. De alguma forma, eu sei que Jin e Kali gritaram. Lagrimas despontaram dos meus olhos, da mesma forma que aconteceu quando vi aquele rapaz com rosto de anjo – Adam – prestes a ser morto no massacre do pai de Dylan. Não sei como percebi que Dylan estava ali – mas nem Fox, nem a Rainha estavam. Ao lado dele, uma mulher de cabelo longo e cheio, de um castanho achocolatado, que por alguma razão me fazia acreditar que era a imagem da felicidade em qualquer momento mais feliz do que aquele. Ela tinha o nariz anguloso e os lábios cheios, mas foram os olhos que me fizeram perceber que aquela era Rebecca Bordeaux, mãe de Dylan.

E ele precisava ampara-la. Mesmo que seus olhos não estivessem nela, sequer estavam em Lilie, não, ele olhava para a criatura que parecia uma selvagem ao lado do corpo morto. A mão de Isabel sangrava, mas ela seguia socando o chão cheio de vidro e sujeira ao lado de Lilie, praguejando insultos que eu sabia que jamais gostaria de saber o significado, curvada sobre o corpo imóvel e violado. Eu podia ver sua dor, antes de olhar no rosto dela. A dor de quem teria pra sempre de lembrar-se das últimas palavras que disse para a menina morta em sua frente. Aquela que ela amava como uma irmã mais nova.

A dor também estava em Dylan, em sua impotência de ter de estar ao lado da mãe e não da garota cheia de arranhões e fúria diante dele, mas havia algo mais, uma chama, uma certeza estranha nos olhos dele que parecia mais preocupante a duquesa do que todo o ataque em torno deles.

A Rainha Da Beleza - A Rainha da Beleza Livro I [NÃO REVISADO]Where stories live. Discover now