ATO 30

3.2K 558 289
                                    




(Ps. Este capitulo em especial é melhor com a trilha sonora)

     — Ela diz que somos crianças, mas ela só tem dezesseis anos! E isso não importa, eu vou acabar com aquele desgraçado

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

— Ela diz que somos crianças, mas ela só tem dezesseis anos! E isso não importa, eu vou acabar com aquele desgraçado. Cada dia que passa eu sinto mais nojo desses funcionários — dizia Patrick com passos rápidos em direção à biblioteca.

     — Patrick, não! — peguei em seu braço e o parei no meio do caminho — Se Lara pediu para não contarmos a ninguém, significa que nem mesmo nós deveríamos saber. É capaz que Joshua esteja ameaçando-a. No momento não tem nada que possamos fazer, se não, ficar de olho — O garoto expressava desaponto, mas concordou com a ideia. De fato, era uma situação delicada.

     — Pode ser. Mas não vou permitir que ela coloque os pés nessa biblioteca de novo. Eu ainda sou o líder desse grupo, sendo criança ou não.

     Faltamos nas aulas e fomos para o pátio. A vitrola tocava uma música instrumental de violino. Sentei no banco do piano, enquanto Patrick encostara suas costas no grande instrumento. Respirei fundo e comecei a toca-lo.

     Patrick adorava quando eu ficava ali. O fazia lembrar da Lola. Isso poderia distrai-lo por um tempo, da mesma forma que me distraía.

    Vivo me perguntando da onde veio essa minha habilidade de tocar piano. Deveria ser mais uma das minhas lembranças perdidas.

     Não sei se valeu a pena tudo o que descobri até então. Talvez, se eu tivesse sido alienada junto com os demais, seria mais fácil digerir este lugar. Eu não precisaria me importar com uma rebelião e nem com o passado de ninguém. Nem mesmo com o meu. Viveria no mundo dos sonhos para sempre, formando momentos bons com pessoas boas, até o dia em que eu envelhecesse e desaparecesse deste mundo.

     Não seria nada mal.

     Acho que todos nós temos o dom de escolher. Tudo o que acontece na nossa vida é consequência dessas escolhas. Se vamos mal em uma prova, ou em um relacionamento por exemplo, é apenas por nossa culpa e por nossas escolhas. No caso, eu escolhi investigar, ir atrás, querer fugir e levar todos que eu pudesse, mas nunca sofri tanto quanto estou sofrendo. Pode não valer a pena no fim, mas eu escolhi.

     Patrick me abraçou por trás encostando seu rosto no meu. Parei de tocar e acariciei seu rosto.

     — Obrigado por existir, Pandora — sussurrou ele, mesmo sabendo que ninguém poderia nos escutar. Não respondi, apenas fechei os olhos e sorri.

     Tivemos o orfanato só para nós naquela tarde gelada. Rumpel não apareceu para nos advertir da falta nas aulas. Passamos na sala de quadros e fizemos pinturas aleatórias, nos manchando inteiros de tinta. Depois damos uma volta na sala de cera que estava disponível para visitas, e depois ficamos no refeitório conversando com Dalva até o sinal tocar e todas as crianças voltarem ao pátio.

     Procuramos não pensar nos últimos acontecimentos durante este período. Como disse Lara, somos crianças ainda. E querendo ou não, estávamos carregando o peso de muita gente nas costas, com assuntos complicados demais para serem resolvidos.

     Por fim, a sirene invadiu nossos ouvidos.

     Passos apressados caminhavam para o refeitório. Logo, todas as crianças encontravam-se ali.

     — Porque os dois pombinhos não foram para a aula hoje? — perguntou Mavis preocupada.

     — Estávamos cansados — respondi — Essas reuniões esgotaram a gente. Aconselho a faltar uma vez também. É revigorante!

     — E onde está a Lara? — perguntou Alisson — Ela também não apareceu na aula.

     — Não sabemos. Talvez ela tenha tirado o dia para ler — dizia Patrick com seriedade — Agora vamos comer, estou morrendo de fome.

     O outono havia chegado, trazendo o frio com ele. O orfanato sempre foi um ambiente gélido, mas com as mudanças de tempo o frio piorava. O pátio principal era o local mais quente devido a quantidade de gente que ficava ali. Naquele fim de tarde, estávamos todos junto, escutando a bela música da vitrola e fazendo esforço para não contar as coisas que eu e Patrick descobrimos.

     Observei os demais.

     Petúnia estava em sua penteadeira, passando um batom escuro, enquanto Dayse rodopiava perto da vitrola.  Os gêmeos Mellany e Cristhian estavam sentados em um canto abraçados, Gabriel, o novo Alfa, fazia anotações em um caderno velho, Rumpel varria o tapete de centro como todos os dias e nosso grupo formava uma roda de crianças que sussurravam estratégias para o próximo treinamento de combate.

     Porém, senti algo muito estranho no ar. Algo que logo despertou a atenção de todos.

     A grande porta de mogno se abrira. As tochas cravadas nos quatro cantos do local tremeluziam, mas não se apagaram. Um vento gelado passou por todos nós. Pompoo estava no centro da entrada. Em conjunto, todas as crianças levantaram, surpresas. Rumpel repousara sua vassoura e prestara atenção.

     A diretora puxou Brok de trás dela, pegando-o pelo braço. O garoto cambaleou para frente após levar um empurrão. Brok trajava uma velha regata cinza e uma calça menor que suas pernas.

     — Ele não tem mais serventia para mim — dizia olhando diretamente para seu irmão, Rumpel — Crianças que desrespeitam as regras não merecem minha confiança, muito menos meus privilégios — e virou as costas rapidamente, agitando seu longo vestido vinho. As portas se fecharam e Brok caíra no chão com um baque. Ele desabou em lagrimas, de barriga para cima.

     Senti um forte aperto no coração.

     Brok devia estar devastado. No fundo, ele sabia que não existia amor vindo daquela mulher. Pompoo nunca foi uma mãe, muito menos um ser humano. 

     Rumpel virou as costas e subiu para o segundo andar, ignorando o ocorrido. As demais crianças encaravam o garoto, mas não fizeram nada para ajudá-lo.

     — Meu amigo... — murmurei caminhando devagar em direção a Brok. Meus punhos tremiam de raiva. E então, ao me aproximar dele, deitei ao seu lado naquele chão frio — Fique tranquilo, eu estou com você.

     Rumpel parara no meio das escadas e voltara a atenção ao pátio. Olhava com tristeza, assim como todos que nos encaravam. No momento seguinte, outra criança se moveu do lugar. Levantou da penteadeira, largou sua escova de madeira no chão e veio até nós, deitando do outro lado donde Brok estava. Suspiramos enquanto olhávamos para cima, onde o teto de madeira continuava podre e com algumas aranhas que vinham para lá e para cá.

     — Nós, estamos com você — terminou Petúnia.

     — Nós, estamos com você — terminou Petúnia

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.
II - Rebelião dos IrrecuperáveisWhere stories live. Discover now