Epílogo

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Você não consegue mudar o que não consegue encarar.

     — DESGRAÇADA! AQUELA DESGRAÇADA ME DESTRUIU! — Exclamava em prantos

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     — DESGRAÇADA! AQUELA DESGRAÇADA ME DESTRUIU! — Exclamava em prantos. As escadas caracóis nunca estiveram tão gélidas quanto naquela noite. Pandora desapareceu pelos portões principais com a diretora e não retornou mais. Aos poucos os irrecuperáveis se dispersaram e por mais que toda a tensão fosse junto com a diretora, ainda se manteve nas crianças. Rumpel se certificou de que ninguém ali comentasse o ocorrido. 

     — Você não precisa daquilo — reconfortou Dante que sentou ao seu lado no degrau frio e colocou sorrateiro sua mão em seu ombro — nunca precisou. 

     — Tudo desmoronou de uma hora pra outra. Eu juro pra você. Se eu descobrir que foi o Brok, pode ter certeza que o sangue dele vai escorrer por aquele pátio. Eu... eu não tenho mais nada.

     — Como não? Eu to aqui.

     — Você deve estar comemorando por dentro não é? Sem Lola, Sem Pandora sem ninguém que eu gosto. 

     — Estou triste. Muito triste, Petúnia. Em nenhum momento desejei que perdesse tudo. Eu só quero dizer que agora, nesse momento você precisa se reinventar, antes que enlouqueça também.  

     — O único louco aqui, é você. Se cobriu com a pele da minha gata. Sai daqui Dante. Ou vai sobrar pra você também. Some da minha frente — ordenou com a voz tremula. Desabaria a qualquer momento de novo. Mas não na frente de Dante. Entendendo o recado, o garoto levantou em silencio e subiu novamente para o pátio. 

     — Aquela peruca, não define quem você é - encerrou fechando a porta e desaparecendo de vista.

     Por fim, uma ultima lágrima caiu e se desfez naquele chão escuro das escadarias. Petúnia colocou a mão em seus cabelos curtos, e em seguida em seu rosto. Fazia tempo que não tocava seu rosto. Fazia muito tempo que não sentia seus fios loiros, de verdade. Seus pés estavam doloridos com o coturno que calçava e cada degrau que descia, a dor se intensificava. Já não sabia quantas dores estava sentindo naquela hora. 

     Não fazia muita diferença.

     Sua identidade estava arruinada. Como poderia encarar as crianças lá em cima? Opondo-se a tudo e todos, agora se apondo a si mesma. Acelerou os passos. Só queria deitar em sua cama. Ao abrir a porta dos dormitórios, retirou o coturno e o jogou em um canto. Seu corpo implorava por paz. Ao chegar na ala feminina, deitou de barriga para cima e encarou o teto repleto de fungos. Como prosseguir depois de tudo isso? Como superar o insuperável?

     Logo olhou para o drenador ao seu lado. Pegou o fio e conectou em sua nuca. Ao menos isso, a deixaria longe dali, mesmo odiando a ideia. Indo contra tudo o que acreditava. Petúnia fechou os olhos e apenas se foi.

     Um redemoinho de lembranças ricochetearam seu corpo e rondavam-na pra lá e pra cá como vultos cinzentos. Vozes de todos os timbres a chamavam por Pétrus e Petúnia. Outras, até mesmo gritavam. Petúnia jamais havia estado neste conceito. Talvez pelo fato de sua cabeça estar da mesma forma que suas lembranças embaralhadas: Ricochetando para todos os lados. Até que conseguira repousar em um chão sólido, porém todo escuro. Olhando para baixo, avistou água. Elas não refletiam nada, pois não havia nada no céu, muito menos embaixo dela. Mas sabia que estava andando sobre um vasto mar escuro.

II - Rebelião dos IrrecuperáveisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora