ATO 34

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Se você continua vivo é porque ainda não chegou aonde devia.

     O cenário que estávamos era no centro de alguma cidade vazia

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O cenário que estávamos era no centro de alguma cidade vazia. A reunião secreta já estava acontecendo quando cheguei repentinamente, atrapalhando o discurso de Patrick. Todas as crianças desviaram o olhar para mim. Eu ainda sentia meu coração saltar pela boca.

     A adrenalina continuava forte em meu corpo.

     — Onde você esteve, sua louca?! — questionou Mavis.

     — Fui resolver algumas coisas pendentes. Mas já está tudo certo. Como está o treinamento? — perguntei desviando qualquer outro tipo de pergunta que fosse me comprometer.

     — Nós traçamos a última etapa do plano. Iremos atrair Pompoo para o pátio principal neste fim de semana e a mataremos. Ficaremos separados e posicionados em locais estratégicos para caso algum funcionário nos atacar. Também pegamos um pouco da habilidade do Brok, caso ocorra algum imprevisto. Todos estão muito bem treinados, Pan, só falta a sua confirmação — afirmou ela.

     — Como irão atraí-la para o pátio? — questionei.

     — Simularemos uma briga entre nós. O alvoroço será o suficiente para trazer a diretora — respondeu Mavis — não tem como nada dar errado. Agora me diz, você descobriu alguma coisa que nos daria mais vantagens? — Nesse momento, todos se aproximaram.

     — Não. Nada importante. Eu achei uma ótima ideia de distrai-la com uma briga falsa. Pompoo está com seus dias contados! — respondi forçando um sorriso — Pessoal, quero que saibam que vocês são a minha verdadeira força aqui dentro. Eu não conseguiria chegar onde cheguei sem o apoio de cada um aqui. Quando alguém disser para vocês que não podem alcançar seus objetivos e que não podem realizar sonhos que não sejam por meio de maquinas, digam a elas que vocês podem sim. Vocês podem fazer o que quiserem e quando quiserem, é só não temerem mais.  Obrigada por tudo, de coração.

     Brok bateu as mãos, no qual acarretou inúmeros aplausos e assovios, vindo de todos eles. A tensão ainda era grande. Eles comemoravam algo que ainda não foi ganho. Por hora, fiquei em silencio, observando. É melhor não contar a ninguém sobre as vozes do pátio. Isso iria colocar mais medo e insegurança.

      — QUEIME NO INFERNO, POMPOO! — Gritou Patrick. Os demais também repetiam a frase.

     Ao termino da reunião, voltamos para o mundo real, já de manhã. A fome rotineira havia batido. Os irrecuperáveis andavam apressados para o refeitório sem conversar muito uns com os outros. Eu estava exausta. Meu corpo havia repousado, mas minha mente ainda explodia com tantas incertezas. Aquilo acarretou em uma dor de cabeça insuportável.

     — Pancada, tem certeza de que não aconteceu nada? — questionou Petúnia intrigada enquanto subia as escadas ao meu lado.

     — Só estou com enxaqueca. Quando eu me alimentar ficarei melhor, não se preocupe. Estou ansiosa para colocar o plano em pratica — chegando no pátio, Rumpel varria o tapete de centro enquanto a vitrola tocava uma melodia fúnebre.

    Despistei Petúnia e os demais e corri para o segundo andar em direção ao escritório do zelador. Eu precisava encontrar a chave da cela. Libertar Dante era o único modo de descobrir tudo o que estava acontecendo.

     A porta estava destrancada como de costume. 

     Rumpel poderia chegar a qualquer momento. Torcia para que aquele tapete estivesse bem sujo, me dando mais tempo.

     Olhei em volta, havia um molho de chaves pendurado em um gancho ao lado da entrada. Analisando bem, identifiquei a chave da cela. Era a mais diferente das demais. Arrastei uma das cadeiras do lugar para de baixo do gancho, subi e peguei o molho. Aproveitei toda a adrenalina que meu corpo ainda produzia e tirei a chave das outras. Enfiei no bolso e desci a cadeira com um pulo.

     Deixando tudo do jeito que estava, abri a porta e saí.

     Infelizmente essa é a parte que dá errado: Rumpel estava ali. Parado no corredor em frente a seu escritório observando minha saída.

     — Entra — pediu vindo em minha direção, me forçando a voltar para a sala.

     — Rumpel... eu... ia falar com você, e...

     — O que você pegou desta vez? — perguntou interrompendo e trancando a fechadura da porta.

     Naquela hora, minha mascara havia caído. Ele, no fundo sabia das coisas que estávamos fazendo. Meu pulmão começara a produzir pouco oxigênio, eu estava com falta de ar.

     — Você devia ter me matado enquanto podia. Eu não vou parar, Rumpel. Não vou parar e vou passar por cima de todos vocês se for preciso!

     — O que você sabe? — o zelador caminhou para a sua mesa e de lá puxou uma gaveta fisgando algo que não vi.

     — Eu sei de tudo. Sei que você é um covarde que se esconde nas sombras da sua irmã e o quanto fazem as crianças aqui sofrerem. Vocês são monstros. Me diz que treinou um lobo de caça que se comporta mais que os humanos, de fato, aquele animal é mais humano que você! — Rumpel vinha até mim segurando algo pontiagudo. Uma faca grande e reluzente.

     — Vou perguntar de novo. O que você sabe? — e me prensou na parede com a mão enquanto encostava sua arma branca em meu pescoço. Eu nunca tinha visto Rumpel com uma expressão tão séria quanto aquela. Ele não piscava, não transpirava. Parecia completamente calmo.

     — Eu... eu sei... sobre as crianças que vocês deram sumiço... sei onde estão...

     — Que crianças? — perguntou pressionando meu corpo ainda mais.

     — Encontrei... arquivos... na sessão reservada... — minhas frases saíam dolorosas, sua mão apertava meu tórax com firmeza. Eu já não tinha mais forças para dizer nada quando por fim ele me soltou e afastou a faca.

     — Muito bem.

     — Muito bem, o que? Vai me... matar aqui mesmo? — respondi tossindo.

      Rumpel não respondera. Ele voltou para sua mesa e estendeu os braços para pegar o quadro que ficava no centro da parede. Ao remove-lo, vi um monitor e ao lado, um suporte que sustentava um fio. As características daquilo eram idênticas a de um drenador, só que embutida na parede. O rapaz apertou alguns botões, pegou o fio e o esticou até a sua cintura.

     — Coloque isso — ordenou estendendo-o para mim. Não questionei. Talvez ele queria me matar de uma forma menos dolorosa. Implantar boas lembranças enquanto me perfurava com sua enorme faca. Não seria uma morte ruim. Morrer no mundo dos sonhos e na vida real ao mesmo tempo. Estar dominando seus últimos segundo de vida. Ver quem você gosta, sentir de novo aquela sensação de felicidade. Ver a Luna, quem sabe? Eu poderia escolher qualquer coisa para ver e sentir enquanto morria.

     Admito que fui longe demais com tudo isso.

     Os passos pesavam ao atravessar a sala e pegar o fio das mãos de Rumpel. Sentei em sua cadeira confortável e pluguei o fio em minha nuca com as mãos tremulas e suadas. Não trocamos mais olhares e nem palavras. Tudo se apagou a partir dali.

 Tudo se apagou a partir dali

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II - Rebelião dos IrrecuperáveisWhere stories live. Discover now