— Ainda não acredito que trouxe aquele garoto – disse Judith, envergonhada, enquanto as pessoas em volta se dispersavam.
Yuri me esperava no carro, seus olhos estavam inchados e lembrei como tudo havia sido difícil para ele. O garoto chorou no meu ombro e não saiu de perto do caixão. De fato, o que ele sentia pelo meu filho era forte e parecia mais difícil para Judith aceitar isso do que para mim. Ela observou tudo com olhares julgadores e agora que não havia ninguém por perto havia puxado um cigarro e se deixava desabar um pouco.
— Sabe que ele é um dos motivos do Damien ter pulado daquela passarela, não sabe?
— Assim como nós dois – refutei. – Ele é apenas uma criança, acho que não tem noção do que fez.
— Como você é inocente, Jonas.
— Trabalho com esses jovens e conheço o Yuri. Como pode achar que ele fez algo de propósito depois de ver como agiu no enterro?
— Seja como for, se livre dele – ela jogou o cigarro no chão e o pisoteou – Você continua egoísta. Errou feio dessa vez.
— Apenas quis deixar o preconceito de lado uma vez na vida – revelei, mas estávamos os dois cansados demais para continuar a discussão – Olha, tente dormir um pouco, tome os remédios que te receitaram e descanse.
— Nosso filho está debaixo da terra agora – ela puxou a bolsa e se afastou – Não vou conseguir descansar tão cedo.
Observei ela se afastar e suspirei. Quando nos separamos, há dois anos, acreditei que as coisas voltariam ao normal um dia e ficaríamos juntos. Quando o tempo passou, entendi que jamais iríamos reatar. Nosso filho morava comigo e não nos restou nada além de uma boa amizade. Lembrei das vezes em que nós três nos reunimos, compramos pizza e rimos como uma família normal. Nunca mais fizemos nada disso depois que Damien resolveu se assumir.
— Obrigado mais uma vez por me deixar ir – disse Yuri, depois que dei a partida no carro – Desculpe não ter me controlado, achei que conseguiria ficar quieto e não incomodar ninguém.
— Você não incomodou – menti, lembrando de Judith – Vamos apenas tentar seguir em frente agora, okay?
Ficamos em silêncio durante metade do caminho. Por mais que achasse ele um bom garoto, não queria prolongar a conversa. Quanto mais rápido devolvesse ele para casa melhor, mas minha curiosidade sempre vencia a lógica.
— Sua família sabe sobre você? – Perguntei.
— Sim, mas somos só eu e meu pai. Minha mãe me abandonou quando eu era pequeno, então ele é a única família que tenho.
A frase soou um tanto melancólica, mas ignorei o tom dele e continuei com meus questionamentos.
— E ele aceitava você e Damien?
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Lutador Verde
General Fiction[CONCLUÍDA] Após a morte do filho, Jonas decide ir até as últimas consequências para mudar a forma como a sociedade enxerga a homossexualidade - mesmo que para isso tenha que lutar contra cada homofóbico que apareça pelo caminho. 1° Lugar no concur...