11. Preto e branco

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— Estou preocupada com você – disse Judith, acendendo mais um cigarro e se encolhendo por conta do frio que circulava a rua deserta

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— Estou preocupada com você – disse Judith, acendendo mais um cigarro e se encolhendo por conta do frio que circulava a rua deserta.

Decidi acompanha-la até o carro depois do pequeno surto que teve quando me viu com Yuri. Tive que explicar direito o que aconteceu, sem deixar de lado o que o garoto passou com o pai; afinal ela também viu as marcas nos braços e peito dele.

— O que tem em mente? Adotá-lo e fingir que ele é o Damien?

— Não quero substituir nosso filho. Sabe disso.

— E decide manchar a memória dele trazendo esse garoto para cá? Por acaso leu a mesma carta de suicídio que eu? Sabe o que Yuri fez e mesmo assim resolveu trazê-lo!

— Você não entende. Não se aproximou dele igual a mim, não sabe que é um bom garoto e que qualquer coisa que possa ter feito não foi proposital. O Yuri merece um voto de confiança.

— Só pode estar cego!

Não queria discutir com ela, por isso fiquei em silêncio enquanto observava suas mãos tremerem. Pelo visto o dia de desabar havia chegado e ela estava pior do que imaginei. O rosto inchado de tanto chorar, os olhos vermelhos, a ponta dos dedos manchados de nicotina e o cabelo carregada por fumaça.

— Nós perdemos um filho – lamentou, deixando as lágrimas escaparem. – Porra, você não deveria fazer isso!

— É justamente porque perdemos um filho que tento fazer meu melhor para ajudar pessoas como ele. A começar pelo Yuri – quis abraça-la, mas como Judith não parecia receptiva apenas coloquei as mãos no bolso da calça e suspirei – Veja bem, minha chefe falou sobre um abrigo para crianças e...

— Não vou fazer isso. Ninguém vai preencher o espaço dele no meu coração.

— Isso não é justo. Não pode dizer que estou tentando fazer algo assim.

— Então o que é? – Ela praticamente gritou. – Primeiro leva Yuri para o enterro e agora chego e vejo ele aqui!

— Venho tentando fazer a coisa certa e pouco me importa o que você ou qualquer outro pensa – deixei claro. – Além disso, estamos separados. Não tem o direito de vir aqui e exigir algo de mim!

Ela jogou o cigarro no chão e o pisoteou. Depois levou a bolsa para frente do corpo e puxou de lá o molho de chaves do meu apartamento.

— Pois aqui está! Não me intrometo mais na sua vida e nem nas decisões estúpidas que toma. Já que não temos mais nada que mantenha um na vida do outro, que se foda você e aquele menino.

Peguei as chaves e acompanhei os passos dela até chegar ao carro.

Judith não estava sendo justa, mas não discutiria agora. Minha prioridade era a missão que meu filho me deixou: ajudar pessoas como ele.

Lutador VerdeWhere stories live. Discover now