9. A verdade

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Conheci Adam, o pai de Yuri, quando trabalhei como instrutor de academia há alguns anos

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Conheci Adam, o pai de Yuri, quando trabalhei como instrutor de academia há alguns anos. Ele frequentava o lugar diariamente, gostava de conversar e de azarar as garotas; então conforme o tempo foi passando, descobri tratar-se de um pai solteiro, que como qualquer outro, adorava o filho. Para ele, o fato de ter um garoto era mais fácil do que se tivesse tido uma menina. "Garotas são mais complicadas, tem aqueles jeitinhos e enfeites todos. Para os meninos basta comprar uma blusa qualquer e eles usam por semanas!", lembro dele dizer.

Quando deixei a academia e comecei a trabalhar como professor, passei anos sem vê-lo até a primeira reunião dos pais no colégio. Demorei para reconhece-lo, mas aquela frase veio à minha mente e achei engraçado como Adam se enganou em relação à Yuri. Naquele dia, outras frases dele me alcançaram e me senti vitorioso por ter um filho que ao menos não aparentava ser gay. Afinal, Damien não tinha a voz fina, não "despirocava" e a aparência dele era a de um garoto hétero.

— Jonas? – Disse Adam, surpreso por me ver no apartamento dele. – Posso saber o que faz aqui?

Yuri ficou em um canto, mais afastado da gente, e pareceu intimidado. O pai dele era um homem alto, quase do meu tamanho, olhos mais escuros que os do filho, cabelo em tom grisalho e voz grossa. Sempre acreditei que ele fosse uma boa pessoa por conta de todo o carisma e sorriso fácil. Até então, era difícil entender porque Yuri queria lhe fazer mal.

— É um prazer te ver de novo – falei, estendendo a mão para cumprimentá-lo. – Desculpe por tudo, mas precisei de ajuda e Yuri foi bastante solidário.

— E posso saber como meu filho pôde te ajudar?

Ele largou a pequena bagagem que carregava. Pelo visto tinha acabado de retornar do aeroporto, usava um terno de trabalho e o rosto revelava uma expressão cansada. Mesmo assim, me observava com atenção, mirando meu cabelo molhado e roupas desgrenhadas.

— Não sei se está a par das notícias, mas meu filho morreu recentemente.

— Sim, fiquei sabendo.

— Não estive bem durante esses dias. Bebi demais, me envolvi em uma briga e, resumidamente, Yuri me deixou passar a noite aqui – suspirei. – Sei que não é o que se espera de um professor, mas...

— Dadas as circunstâncias, ele fez bem – disse Adam, olhando para o filho e sorrindo – Espero que você esteja melhor. Sinto muito por estar passando por isso.

— Obrigado.

Mesmo a expressão dele tendo mudado – ficando mais relaxada –, o clima ainda não era agradável. Talvez fosse por Yuri não ter dito uma única palavra e ter ficado afastado o tempo inteiro. Depois de um tempo, me senti deslocado ali.

— Quer ficar para o café da manhã? – Perguntou Adam. – Consegui passar com algumas guloseimas pela alfândega. Tenho certeza que irá adorar. Yuri é louco por doces.

Lutador VerdeWhere stories live. Discover now