Capítulo 18

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Arthur conversava com uma família de importantes singulares próximos ao centro do salão. A mulher, chefe da família, loira, alta e muito gorda, convidava-se para jantar com Arthur e seu filho no próximo fim de semana, pois tinha reclamações a fazer. Alguma coisa a respeito de morar muito próximo a onde os ordinários criavam os animais. O cheiro a incomodava, o barulho, ou qualquer coisa do gênero. Arthur havia parado de escutar há alguns minutos.

Foi salvo pela aproximação de Marcus.

— Com licença, cara Marleny. Odeio interromper e espero que me perdoem por isso, mas assuntos importantes requerem a atenção do presidente. — A mulher se derreteu em sorrisos para Marcus, por suas palavras gentis e fez sinal com a mão para que se afastassem.

Arthur e Marcus obedeceram imediatamente.

— Por isso você é meu braço direito, Marcus. — Ele riu.

— Davi chegou, Arthur. — Os olhos do presidente brilharam.

— Finalmente. E onde está ele?

— No escritório, esperando pelo senhor.

— Certo — disse Arthur, andando em direção às escadas. — Ele não colocará os pés para fora desses muros mais. Espero que já esteja ciente disso.

— Não acho que ele queira.

— Não tenha tanta certeza, Marcus. Ele nunca deveria ter saído daqui, em primeiro lugar.

Antes que começassem a subir as grandes escadarias em direção ao aposento particular de Arthur em que realizava suas reuniões mais pessoais, Marcus disse entre lábios, sorrindo para a moça que andava decidida em sua direção:

— Boa sorte, Senhor presidente! Lá vem mais uma.

— Com licença, senhores. É uma honra conhecê-lo, Senhor presidente.

A moça sorria encantadoramente para Arthur, muito embora ele pudesse jurar que seus grandes olhos verdes não concordavam com suas palavras. Estavam tão duros e frios quanto uma pedra de gelo.

— O prazer é meu, cara... — Arthur sorriu, esperando pela resposta.

— Anabele.

— Anabele — repetiu Arthur, lentamente. — A senhorita certamente não é da terceira capital.

— Não, não sou. Mas não venho de tão longe assim — ela sorriu mais uma vez. — Não quero importuná-lo a noite toda, apenas gostaria de parabenizá-lo pela obra. Sente-se realizado?

A pergunta soou como uma afiada faca.

Marcus remexeu-se inquieto com a pergunta da moça. Era muito bonita, de fato, mas um tanto quanto atrevida ao questionar os sentimentos do homem mais poderoso do mundo e, como se não bastasse, fazia-o naquele tom de desafio. Por algum motivo, destacava-se das outras mulheres ali presentes. Na verdade, não sabia definir o que era, além do fato de ter cabelos negros curtos, penteados para trás. Raríssimo ver mulheres singulares assim, já que não gostavam de se parecer com as ordinárias.

Trajava um longo vestido brilhante da cor dos olhos, muito justo, o que realçava seu corpo magro, e que se abria na altura dos joelhos. Lembrava, de certa forma, uma sereia.

— Tanto quanto todas as pessoas presentes aqui. Não estou certo? — rebateu Arthur, sorrindo friamente.

— Se há alegria maior, desconheço. Os ordinários talvez não concordem, mas quem se importa?

Anabele riu, alegremente. Arthur e Marcus acompanharam-na.

— Bom, obrigada pela festa e por tudo que tem feito por tantos, Presidente! — A última palavra estava mergulhada em ironia.

Arthur levantou a taça, encarando a moça que já se afastava.

— Muito mais será feito no mesmo sentido, minha querida — sussurrou o presidente, recomeçando a andar.

Sombras do MedoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora