Capítulo 32

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— Venham todos por aqui!

Anabele gritava, numa tentativa de orientar os ordinários que não pudessem ajudar na batalha contra os Venoms — como agora eram chamadas as criaturas — para longe dali. Os homens também deveriam reunir-se, esperando pelas ordens de Nicolas.

Ela, Vincent e Amanda haviam montado uma espécie de emergência em três casas agora abandonadas que se situavam longe de onde os Venoms sobrevoavam por ora.

Haviam estendido mantas, cobertores no chão, além de terem reunido agasalhos, água e suprimento que puderam encontrar na vizinhança.

Amanda havia organizado tudo em apenas alguns minutos, enquanto Vincent continuava recolhendo o que conseguia, procurando especialmente por remédios ou ervas medicinais que eram escassos por ali, e Anabele tentava atrair o pessoal que não empunharia armas.

Armas que surpreendentemente estavam estocadas ali mesmo na província. Nicolas havia explicado que quando o presidente enviara o único filho para lá, havia preparado um verdadeiro arsenal em caso de eventual necessidade, e para garantir que escaparia seguro, localizava-se na casa do túnel.

Então vira realmente uma granada ali mais cedo, Anabele lembrara. Sentira vontade de rir da piada de mau gosto que virara sua vida quando soube. E então Nicolas e alguns dos duzentos soldados presos para fora da capital, haviam marchado para lá em busca do armamento.

— Venham, mais rápido!

Anabele sabia que eles estariam de volta a qualquer momento e não se importariam muito se algum ordinário fosse atingido na batalha. Os soldados ainda eram singulares, precisavam manter isso em mente.

— Isso, ali, naquela direção, minha mãe e outras pessoas vão ajudar o Senhor a acomodar-se enquanto isso não termina — respondeu ao olhar inquiridor de um homem, com uma aparência bastante velha e machucada.

— Ajude-o — disse para uma mulher que andava apressadamente. A mulher alta, de cabelos claros e olhos verdes encarou-a por um momento e simplesmente continuou andando.

— AJUDE-O! — gritou, agora a agarrando pelo braço. A moça, assustada, voltou até o senhor fragilizado e começou a guiá-lo, ainda olhando para Anabele.

— Você tem alma de singular! — berrou Anabele, esperando que aquilo algum dia se tornasse o insulto que para ela era.

Tremendo de frio, viu uma barreira de soldados se formar rápida e silenciosamente no meio das altas plantações. Soube imediatamente que Nicolas havia retornado com a munição.

Tremendo de frio, esperou pelo que viria a seguir.

Silêncio.

Pessoas corriam de volta para casa, mas ainda assim Anabele podia quase tocar o silêncio que a circuncidava. Não sabia se perdera a audição ou se o silêncio vinha do medo, da expectativa, da apreensão que sentia.

Mais silêncio.

Olhou para as plantações que agora balançavam mais suavemente.

Nenhum soldado mais a sua vista.

Prendeu a respiração. O tempo pareceu se arrastar.

— Agoraaaa!

O silêncio finalmente foi quebrado.

Um incontável número de disparos teve início. Os soldados miravam as criaturas que voavam mais baixo. Ao serem atingidas, faziam um barulho ensurdecedor.

O céu foi tingido por linhas de fogo que subiam incessantemente, alojando-se sob as escamas dos Venoms. Não fosse pelo som que emitiam, Anabele diria que não estavam sequer sentindo os tiros. O ritmo de seu voo não havia sido alterado, continuavam logo sobre as cabeças dos ordinários.

Sombras do MedoWhere stories live. Discover now