Capítulo 40

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— Davi...


— Ane, eu sei que disse que não deixaria mais você, mas eu disse também que você me salvou. E isso significa que agora eu preciso ajudar — ele sorriu, provocante. — Duvido que seu ex, Henry, faria isso.

Anabele sorriu, cansada.


— Não, não faria.


O sol agora já ardia alto no céu. O calor que irradiava lutava contra o frio provocado pela presença das criaturas. Estas pareciam ganhar cada vez mais espaço na luta. O chão estava coberto por corpos e água, dos pedaços de gelo que derretiam. 


Anabele e Davi estavam parados em frente ao grande barracão, dentro do qual se escondiam três entradas para abrigos. Pessoas ainda esperavam sua vez para descerem, porém não tão organizadamente quanto antes, já que os soldados que antes controlavam as filas haviam sido convocados para ajudarem na tarefa que esperavam ser a última.

— Então, eu também vou — disse ela, resoluta.

Davi riu.

— Claro que você diria isso.

— Não vou aguentar ficar aqui parada, enquanto você corre com uma bomba nos braços.

— Não precisa ter ciúmes, Ane. Meus braços são seus — o sorriso estava presente em apenas um dos cantos da boca de Davi.

Anabele socou seu braço.

— Eu estou falando sério. Vou ajudar.

— Você pode ser inteligente, mas não é rápida e nem forte — disse Davi, rindo. Anabele o socou novamente. — Se você bater umas doze vezes no mesmo lugar, talvez comece a doer.

Ela deu leves pancadas repetidamente em seu braço.

— É, talvez precise de mais — Davi sussurrou.

Ele a envolveu com os braços e a encarou.

— Foi aqui que você me aceitou de volta... — Seus olhos cinza brilhavam. — E é aqui que vou voltar para você.

Anabele desviou o olhar. Ele pegou seu queixo e levantou sua cabeça suavemente.

— Fique com sua mãe, ela deve precisar de você... com todos aqueles sábios da capital lá embaixo.

Anabele riu.

— Eu volto, prometo.

— Você acha que vai funcionar? — perguntou, preocupada.

— Faz sentido, eu acho.

— É, eu também.

Anabele encolheu-se no abraço. Encostou a cabeça no peito de Davi.

— Posso ficar assim um pouquinho? Só para ter certeza de que vou lembrar como é me sentir em casa enquanto você não volta — Anabele podia sentir o coração dele batendo. O som a acalmava.

— Você sempre terá onde pousar, meu anjo. Bem aqui. — Ele respondeu.

Continuaram assim, em silêncio por alguns minutos, até que uma voz os despertou:

— Quantas vezes você precisa errar até que aprenda, Anabele?

Ela virou-se imediatamente, soltando-se de Davi.

— Você está bem, Vincent?

— Estou. Vou ajudar com os explosivos — ele parecia relutante ao perguntar. — E você?

— Estou bem.

Um silêncio desconfortável preencheu o espaço entre eles.

— Quero que os dois fiquem — disse Anabele, por fim.

— Não se preocupe, Ane. O guarda-costas sabe se defender. Vai ficar bem.

Vincent retesou-se.

— Espero que você não fique.

— Vincent! — repreendeu Anabele. — Desde quando você deseja que alguém se machuque?

— Pelo visto, você não me conhece tão bem.

— Pelo visto não.

Vincent estudou-a por um momento, e então seus olhos inflamaram-se.

— Como você pode ser tão estúpida?

Os olhos de Anabele cresceram com a surpresa.

— Você não vai falar assim com ela — engrossou Davi, dando um passo à frente.

Anabele barrou o corpo de Davi com o seu.

— Isso é entre mim e ele, Davi. Não preciso que você me defenda — e olhando então para Vincent, acrescentou. — Assim como nunca precisei que você me defendesse dele. Eu não sei o que você acha que eu fiz para merecer todo esse tratamento, mas não, eu não mereço, Vincent. Você é meu amigo, deveria respeitar minhas escolhas, especialmente quando elas não prejudicam ninguém, ou no mínimo vir conversar comigo claramente.

Vincent enrijeceu o maxilar e estreitou os olhos duros, mas não respondeu.

— No final das contas, não desejo mal nem mesmo a essa versão ridícula sua, mas espero que saiba que ela não é o amigo que amo.

Vincent afastou-se sem dizer nada. Anabele o chamou, mas ele não olhou para trás.

Ela sentia os olhos marejados. Davi abraçou-a.

— Até logo, meu amor — despediu-se, com os lábios tocando a pequena testa de Anabele. — Eu vou voltar... e o seu amigo também.

Sombras do MedoWhere stories live. Discover now