Epílogo

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Por quanto tempo havia ficado inconsciente?

Anabele sentia o coração bater tão forte no peito, que tinha medo de que arrebentasse sua carne.

O medo. Sentia o medo incontrolável novamente.


O sol ardia alto no céu, mas ela tremia de frio, deitada em sua velha cama. Levantou-se, sentindo dores dos pés à cabeça e caminhou até a janela.

Tudo era devastação. Casas estavam demolidas, plantações mortas. O único sinal de vida eram as moscas que sobrevoavam os corpos caídos.


Pulou a baixa janela e correu, desviando dos mortos que encontrava pelo caminho.

Evitou olhar para baixo, com medo de reconhecer algum deles. Mas não precisou avançar muito para que algo a fizesse parar, sentindo os ossos congelarem.

Como o último golpe, cruel e fatal, viu a muralha erguer-se ao longe, muito maior do que antes.

Mas dessa vez era escura. Veias de fogo, grossas como troncos de árvores, corriam por ela. Viu lá em cima, Arthur e um Venom parados lado a lado, admirando a obra de seus esforços.

A criatura e o presidente riram em uníssono, fazendo ecoar em todo o mundo o sinal do fim dos tempos. Mas um som ecoou ainda mais alto. O grito de Anabele.


— Ei, ei, pequena, está tudo bem, você estava tendo um pesadelo. A mão de Davi estava quente em sua testa molhada de suor. Mesmo assim, o calor era bem vindo, já que o ar estava frio.

Anabele olhou a sua volta. O quarto em que estava era muito maior do que o seu que, pensando bem, não sabia se ainda existia. Tinha paredes beges muito bem pintadas. A sua frente, uma grande cortina branca escondia a janela.

A cama em que estava seria suficiente para três pessoas, e ao seu lado, havia um abajur branco com detalhes em azul sobre uma pequenina mesa de madeira.

Davi estava sentado em uma poltrona azul claro, posicionada também ao lado da cama.

Estava lindo, com uma camisa de mangas longas da cor de seus olhos e calças brancas. Na verdade, reparou, uma das pernas estava inteiramente engessada.

Tinha também alguns curativos pelo rosto, mas que em nada afetavam sua beleza.

Anabele observava tudo, tentando processar as informações que recebia, mas o que chamou sua atenção foi um barulho leve e insistente que vinha de fora.

— Davi, que som é esse? — finalmente conseguiu perguntar.

Ele a encarou por um segundo e então sorriu, antes de caminhar, trôpego, apoiado em uma bengala lustrosa em direção às cortinas.

Quando as abriu, Anabele mal conteve um grito de surpresa e alegria. Finalmente a realidade era melhor do que os sonhos.

Levantou-se depressa. Sentiu a cabeça doer e rodar, os pés latejarem intensamente, mas não se importou.

— Está chovendo — balbuciou, encantada.

— Há dois dias.

Anabele levou a mão à cabeça dolorida.

— Por quanto tempo dormi?

A lembrança do pesadelo fez com que cada poro de seu corpo ficasse arrepiado.

— Três. Quando você desmaiou bateu a cabeça. Os médicos a examinaram e disseram que ficaria bem. Que apenas precisava descansar.

— Três dias parecem mais do que o suficiente. E você está bem? — perguntou, apontando para a perna engessada.

Sombras do MedoWhere stories live. Discover now