Capítulo 21

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Anabele procurava inquieta por Henry, que ainda não havia aparecido. Sentia os olhos arderem com as lágrimas que se aproximavam e respirava dolorosamente. Sabia que havia sido loucura confrontar o presidente daquela forma e tinha certeza de que não o enganara. Realmente nenhuma mulher da capital tinha cabelos que não chegassem ao menos na metade das costas e que não reluzissem como se tivessem sido banhados em luz.

Agora mesmo, Anabele podia ver uma mulher com cabelos muito longos e escarlates, dançando sozinha em círculos animadamente. Por algum motivo, seu estômago revirou quando seus olhos se encontraram. A ruiva passou a língua pelos lábios, gargalhou e continuou rodopiando.

Anabele continuou caminhando à procura de Henry. Parou no centro do salão, em frente à majestosa fonte em que água cristalina agitava-se. Pela primeira vez naquela noite, sentiu vontade de provar algo do banquete.

Não se lembrava quando tinha visto tanta água limpa a sua frente, já que não se lembrava da última vez em que havia chovido. Uma coisa era consequência direta da outra.

Olhando todo aquele desperdício, sentia-se mais agoniada e revoltada do que nunca. Por algum motivo, quando decidiu seguir Henry, pensou que poderia encontrar uma explicação para a existência das muralhas, para a existência de toda aquela divisão. De alguma forma, pensou que teria respostas. 

Na verdade tinha. E a resposta é que realmente não havia uma.

Eram mesquinhos a ponto de fechar o mundo em uma redoma, para que somente os singulares pudessem usufruir. Anabele suspeitava de que quando o que havia sobrado não fosse mais o suficiente, mesmo alguns singulares seriam expulsos de dentro das capitais. Isso aconteceria até o dia em que o próprio planeta expulsasse todos, indistintamente. Com dor no coração, pensou que talvez isso devesse ocorrer logo. Havia maldade em excesso no mundo. A bondade havia se tornado a exceção.

Precisava encontrar Henry e sair dali imediatamente. Queria voltar para casa, para o conforto das pessoas queridas e bondosas que eram sua família e para a paz que Jhou transmitia.

O coração agitou-se então, ao pensar que voltar para casa poderia significar o início de algo com Henry. Sabia que queria aquilo. Apenas não sabia se devia. Havia finalmente notado seus sentimentos.

Eram intensos e isso a preocupava. Intensidade gerava expectativas, e expectativas geravam decepções. Não sabia se estava preparada para sair de sua zona de conforto.

Razão era conforto. Emoções significavam riscos.

Não podia negar, contudo, que as palavras de Henry e seu toque a haviam convencido sobre os sentimentos dele, além de a terem feito desejar que seus momentos juntos se perpetuassem por toda a eternidade.

Enfim, estava apaixonada e todo o blá-blá-blá que isso acarretaria. Mas agora precisava sair da capital. Estar ao redor de tantas pessoas egoístas havia lhe feito um mal físico. O desprezo que sentia por todos aqueles singulares lhe causava ânsia.

Não suportaria mais nem um segundo ali.

Sentiu a garganta arder. Sede, concluiu. Olhando uma última vez para a fonte, antes de virar-se em busca de Henry, sentiu o coração parar de bater no peito.

Sombras do MedoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora