Capítulo 33

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Eu estava no meu quarto naquela noite, tentando ler um livro, quando ouvi a porta bater no andar de baixo. Ouvi passos pela cozinha e depois a geladeira sendo aberta. Depois, ele seguiu até o pé da escada e parou. Segundos depois, pude ouvi-lo subindo os degraus pesadamente e seguindo pelo corredor, em direção ao meu quarto. Eu conseguia senti-lo atrás da porta, imóvel, com a mão erguida, se decidindo se batia ou não. Tentei me preparar para a conversa que teríamos e pensar em argumentos que eu poderia usar para justificar tudo assim que ele entrasse. Mas então ele recuou, e o piso de madeira rangeu sob seus pés quando ele foi para o seu quarto, do lado oposto ao meu. Me levantei da cama e escancarei a minha porta, a tempo de vê-lo batendo a dele. Inspirei fundo e voltei para dentro.

Já devia ser muito tarde, e eu já deveria ter ido dormir, mas o sono me faltava. Eu havia desistido de terminar o livro, já que eu não conseguia me concentrar nas palavras que eu lia. Quando eu chegava no fim de um parágrafo, percebia que minha mente tomara outros rumos durante a leitura, e que eu não havia conseguido absorver nada do que estava escrito. Então eu lia tudo do começo. Mas não estava dando certo. Era inútil insistir naquilo agora, então larguei o livro e o substituí por fones de ouvido. Coloquei uma música, aumentei o volume e fiquei encarando o teto do meu quarto enquanto minha mente divagava.

Quase não ouvi as batidinhas na minha janela. Tirei o fone e arregalei os olhos quando o vi, parado do lado de fora, sobre o telhado, os olhos dourados brilhando no escuro, me observando.

- Você ficou louco?! - Sussurrei para ele quando abri a janela. - O que está fazendo aqui?

- Posso entrar?

Era quase ridícula a ideia de termos qualquer conversa com ele sentado sobre meu telhado. Fiz um gesto indicando meu quarto e ele entrou, passando uma perna de cada vez sobre o peitoril da janela. Fui até a porta e me certifiquei de que estava trancada. Eu não queria nem pensar no que meu pai faria se visse Alex no meu quarto em uma hora dessas.

- Você sabe que horas são? O que está fazendo aqui?

O observei com mais calma e percebi que ele estava com as mesmas roupas que vestia mais cedo.

- Desculpa - Alex deve ter notado a confusão estampada no meu rosto diante daquele pedido de desculpas, pois explicou logo em seguida. - Sobre mais cedo. Desculpa por ter agido daquele jeito. Eu não estava... - Ele pareceu pensar por um instante no que diria, por fim, se resumiu em uma única palavra. - bem.

- Ah, tudo bem - Me aproximei e ele não recuou. - Quer me contar o que aconteceu?

Alex baixou o olhar e balançou a cabeça.

- Confia mim quando digo que você não precisa saber? - Ele disse. - Que não é nada importante?

Eu queria gritar com ele, dizer que ele não podia fazer isso. Não importa o que fosse, era importante pra mim. Eu me preocupava com ele e queria saber o que estava acontecendo. Eu só queria entender. Mas algo na expressão dele fez eu me calar. Ele não parecia triste, exatamente. Parecia mais com pesar de alguma coisa. Com medo. Ele não queria mesmo falar sobre aquilo, então resolvi respeitar. Por enquanto. Tentaria ajudar de outro jeito, e depois, quando estivesse mais calmo, o confrontaria.

Assenti.

- Tudo bem. Eu confio em você.

Alex sorriu, mas foi um sorriso sem emoção.

- Obrigado - Ele sussurou.

Seus ombros subiram e desceram em uma respiração pesada. Ele parecia tenso, como se algo ainda o incomodasse. Lentamente envolvi minha mão na sua, que estava cerrada em punho. Ele ergueu seus olhos até encontrarem os meus, então foi cedendo aos poucos. Sua mão se abriu e seus dedos se entrelaçaram com os meus, e aquela onda familiar de arrepios percorreu meu corpo. Eu só precisei tocá-lo para sentir o que ele sentia.

O Uivo da LuaWhere stories live. Discover now