Capítulo 48

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Eu não entendia o que era aquilo que estava sentindo.

Ver meu tio de joelhos, não aguentando o peso do próprio corpo, com o rosto coberto de sangue e sujo de terra, e com os olhos vermelhos de tanto derramarem lágrimas de medo, me causava euforia. Uma desconhecida parte de mim se sentia poderosa diante daquela cena. Não sentia culpa, nem arrependimento. Apenas um sentimento terrível de vitória e vingança.

A outra parte, a parte sã, estava enterrada bem lá no fundo. Tão no fundo que eu nem ao menos conseguia ouvi-la. Nem ao menos conseguia me lembrar que ela existia. A parte humana de mim, naquele momento, tinha ido embora.

E eu estava prestes a satisfazer por completo a única parte que se fazia presente em mim naquele momento. Se eu estivesse devidamente consciente agora, diria que aquilo era a personificação do mal.

- Por favor... - O som de sua voz chorosa quase me deleitava. - Por favor, não me mate... Você já fez o bastante. Já se vingou o bastante...

- Acho que ainda não estou satisfeita.

Ergui levemente a mão. Um movimento quase imperceptível, mas o suficiente para fazer meu tio se retrair de medo, temendo que mais estava por vir.

As pessoas que restaram ao redor possuíam a mesma expressão aterrorizada que Robert. Medo era o que eu estava causando neles. Não ousei me virar para ver como meu pai e Alex estavam. Se chamavam por meu nome, não me importei em dar ouvidos.

- Eu sinto muito... - Meu tio soluçava. - Por favor, eu sinto muito. Pare, por favor...

Ergui ainda mais a mão, ainda apenas uma ameaça.

- Acha que arrependimento vai trazer minha mãe de volta? - Ele continuou em silêncio, encarando o chão - Responda! - Ordenei.

Ele balançou a cabeça repetidamente.

- Não.

- Se você não poupou a vida dela, por que eu deveria poupar a sua?

Ele ergueu a cabeça, e olhou para algo atrás de mim. Ou alguém. Depois baixou novamente o olhar, engolindo em seco.

- Não deve - Nao era isso que eu esperava ouvir. - Então por favor, só acabe logo com isso.

Tombei a cabeça levemente para o lado, fingindo decepção.

- É muito mais divertido quando você implora para que eu pare.

Ele cuspiu aos meus pés.

- Eu sei que nada do que eu disser vai fazer você parar. E eu entendi... entendi que não posso contra você. Então tudo bem... - Mesmo em meio à dor que sentia, ele trincou os dentes com raiva. - Só acabe logo com essa merda.

Minha mão finalmente se elevou na altura dos meus ombros, e meu tio se ergueu do chão imitando o movimento. Seus braços e pernas começaram a se esticar, como se estivessem sendo repelidos pelo próprio corpo. Ele gritou. Eu sentia seu sofrimento. Sabia que aquela dor que ele estava sentindo era insuportável. E eu estava adorando aquilo.

- Não vai ser tão fácil assim - movi a mão e seus membros se esticaram ainda mais.

Ele não conseguia mais falar, apenas seus gritos eram ouvidos.

O Uivo da LuaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora