Capítulo 44

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Quando eu abri os olhos, tudo parecia estranho para mim.

Eu continuava ali. No meio daquela floresta, cercada por árvores densas e a lua azul ainda iluminava o céu. Mas eu estava sozinha. Todos haviam sumido. Meu tio, Rubi e todos os outros não estavam mais ali. Nem mesmo a grande fogueira que anteriormente crepitava bem na minha frente havia desaparecido. Estava diferente. Era como se eu não estivesse mais no mesmo lugar. E quando eu olhei mais atentamente ao redor, eu percebi que eu realmente não estava no mesmo lugar.

As mesmas árvores me cercavam, mas elas pareciam mais vivas, e um cheiro diferente pairava no ar. Um cheiro doce e de certa forma, reconfortante. Quando olhei para o chão sob meus pés, vi que ele estava coberto de pequenas flores brancas. Eram tantas, e de um branco tão intenso, que o chão parecia coberto de neve. Encarei a lua no céu e de repente me dei conta.

Aquele cenário era exatamente como os sonhos que eu vinha tendo há algum tempo. A mesma floresta, as mesmas flores brancas, a mesma lua...

Mas ali, eu não estava correndo de nada, não estava com medo. Me sentia apenas... bem. Segura.

Olhei para as minhas mãos. Não havia nenhum corte. Nenhum sangue. Estavam limpas. Mas eu ainda segurava o colar de pedra da lua entre elas. Ao dar um passo para a frente, não fui impedida por nada. Não havia mais cordas me prendendo a árvore alguma.

Aquele lugar...

Onde eu estava?

Talvez... Talvez eu tivesse morrido, e aquilo fosse uma espécie de pós morte. Um paraíso. Era isso. Rubi terminara o feitiço. A maldição fora quebrada. Meu tio havia conseguido o que tanto queria e agora eu estava morta.

Então veio a voz.

- Minha lua.

Aquela voz.

Me virei para todos os lados à procura da dona daquela voz. Mas não havia ninguém ali. Era apenas eu.

- Selena, minha querida?

Um brilho repentino surgiu na minha frente, incandescente e etéreo, do mais puro tom de branco. Ele desapareceu tão rápido quanto havia surgido, e em seu lugar, havia uma mulher. Era alta. Vestia um lindo vestido branco esvoaçante, que à luz da lua, parecia quase azul. E seus cabelos... Seus longos cabelos eram tão negros quanto os meus.

O ar de repente faltou em meus pulmões, e meus olhos se aqueceram com as lágrimas que já surgiam. A mulher olhava para mim com gigantes olhos azuis. Olhos azuis que eu reconheceria em qualquer lugar. Ela estendeu os braços e antes que eu percebesse, já estava correndo em sua direção. Em direção àqueles braços que há muito eu não sentia.

- Mãe?

- Oi, meu amor.

A abracei com tanta força que temi que pudesse quebrar seus ossos. Mas ela não disse nada, apenas retribuiu o abraço.

- Eu... ah meu Deus! Não acredito que é mesmo você - As lágrimas eram como duas cachoeiras sob meus olhos. Eu não conseguia evitar. Não conseguia parar de chorar - Não acredito que está mesmo aqui. Ah mamãe... Eu senti tanto a sua falta. O papai também. Não sabe a falta que fez nas nossas... - Então eu parei. Pisquei repetidas vezes, confusa. - O que é isso? O que está acontecendo? Onde... onde eu tô? Isso é o céu? Eu morri, não foi? Ele... meu tio conseguiu, não foi? Ele...

- Shhh - Ela me afastou apenas para conseguir ver meu rosto. Minha mãe limpou minhas lágrimas e sorriu. E só ao ver aquele sorriso, meu coração se encheu de um calor maravilhoso. Era como matar a saudade de alguém que há muito não via, e que você tinha certeza de que nunca mais veria. Mas ali estava ela. Minha mãe. - Você não morreu, bobinha.

O Uivo da LuaWhere stories live. Discover now