Cinquenta e dois

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Ninguém soube o paradeiro de Cole Blake por vários dias. Ele saiu de casa sem deixar rastros e, como sempre, deixando a bagunça que causou para que os outros lidassem sozinhos. No entanto, o que ele não esperava era que dessa vez, Josefine não lidaria sozinha, mas teria a força dos filhos para ajudá-la a organizar o caos que estava.

Começou de forma tímida, como estranhos, mas deu certo. Eles não conseguiam explicar como aconteceu, como suas companhias antes demonizadas de repente se tornaram reconfortantes, mas através de uma pequena fresta eles viam a palavra "família" reluzir outra vez. E Cole com certeza não estava incluído nisso.

Josefine conseguiu dar início no pedido de divórcio e com o apoio dos filhos, se livrar dos vestígios de Cole na casa onde os filhos cresceram. Seus pertences foram despejados no lixo dentro de saco pretos. Tóquio não achou seguro a mãe conversar com o pai naquele momento, então ela mesma enviou uma mensagem avisando-o sobre isso, mesmo que não houvesse tido nenhum contato com ele depois do seu sumiço covarde.

As manhãs tinham sabor de recomeço. Cada uma delas, enquanto os três viviam em paz, e sozinhos parecia uma vida inteira. Uma vida nova, completamente distante. A parte triste disso era que, da forma correta, eles deveriam ter sido sempre família. Aprender a acompanhar as mudanças das pessoas ao nosso redor enquanto elas crescem e têm novas experiências é totalmente diferente de tentar conhecê-las com rapidez, com forte anseio de recuperar o tempo perdido em pequenas manhãs e pequenos fins de noite.

Era feliz, mas triste. Mais feliz do que triste, porque ao menos era um recomeço.

Naquela tarde elas estavam no apartamento do Edmundo, mais especificamente na sala, apontando para as paredes e os móveis da casa.

— Eu não vou cuidar de flor nenhuma — Edmundo resmungou enquanto respingos de tinta azul pastel caiam na sua camiseta. Ele balançou a cabeça em negativa e um bico cresceu em seus lábios — Já me obrigaram a pintar as paredes. Isso não é o bastante?

— Não — Tóquio sorriu, convencida. Ela tinha os fios loiros amarrados em um coque frouxo e bagunçado. — Esses cactos deixam esse lugar sombrio. E você precisa de alguma responsabilidade.

— Então você vai fazer meu trabalho na construtora? — Edmundo debochou — Vai vir aqui duas vezes na semana e cuidar dessas coisas. Já tenho muitas responsabilidades.

— Eu me encarrego disso — Josefine entrou na conversa. Ela também tinha um rolo encharcado de tinta em mãos que usava para pintar a parede com o tom claro de azul escolhido a dedo por ela e a filha — Preciso de alguma responsabilidade.

— Você tem muitas responsabilidades — Edmundo a defendeu mesmo sem que isso tivesse sido solicitado.

Josefine riu.

— Minhas responsabilidades eram todas com o seu pai, Edmundo. Sou uma mulher com bastante tempo livre fora da terapia e uma mente não muito saudável. Acho que uma coisa assim ajudaria, não?

— Com certeza — Tóquio sorriu para ela enquanto se escorava na parede atrás de si.

— Tóquio! — Edmundo partiu o seu sorriso ao meio com o grito desesperado e repressor — A minha camisa, sua imbecil. Você manchou! Desencosta daí — Ed deixou o rolo de tinta no chão, em cima dos jornais que cobriam o piso, e correu até ela. Analisou o estado da camisa cinza com a mancha horrorosa nas costas, depois deu um tapa na cabeça da mais nova. — Use as suas próprias roupas.

— Aí, Edmundo, dói!

— Que bom, essa foi a intenção.

— É só uma camiseta sem graça — Tóquio girou o pescoço na tentativa de ver as suas costas tingidas — igualzinha a mais trinta do seu closet. — ergueu os olhos ácidos para o irmão.

Petricor| RETA FINALWhere stories live. Discover now