Quarenta e três

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Eu não pensei que conseguiria vir até aqui. Honestamente, não me sinto forte. Força foi o que precisei ter para adiar o início da terapia. Força bruta. Não me sinto forte: me sinto apoiado. É meio que o contrário de forte, sabe? — a mulher balançou a cabeça em concordância, seus olhos o incentivavam a prosseguir — eu finalmente sinto que não preciso ser forte, não o tempo todo. Estou pronto para admitir estar vulnerável.

Logan lembrava-se palavra por palavra que havia saído de sua boca. Ele as guardou por tanto tempo que as decorou, as conhecia de trás para frente e de olhos fechados.

Principalmente de olhos fechados.

Havia uma coisa estranha no peito. Uma sensação diferente. Não sabia exatamente se era bom ou ruim, talvez fosse só alívio e ele estivesse acostumado demais com ser pressionado e caos por toda parte. Era estranho para ele depois de passar toda a sua vida se reprimindo e sendo reprimido, ter alguém que o ouvisse e não recebesse nenhum olhar reprovador por falar.

Logan estava saindo da clinica naquele momento. Estava anestesiado, pensava bastante sobre a hora que passou naquela sala e sobre o fato de Emma Young, a terapeuta, transparecer tanta confiança e clareza ao falar. Bom, compreendia que era o trabalho dela, mas Logan sentia-se como um quebra cabeças em pedaços, com algumas peças perdias ou meio quebradas em cima de uma mesa empoeirada, enquanto ela era um inteiro, com cada peça em seu lugar e a imagem do seu eu perfeitamente formada.

Logan era um borrão. A sua luz, algo que ele sabia ter existido em algum momento, foi terrivelmente apagada pelo pai e a relação tóxica que tinham. Apagada pela cobrança que tinha consigo mesmo e a que vinha de fora.
Sentiu uma pequena ansiedade nascer em seu peito. Aquele momento depois de tantos anos sem realmente reconhecer-se nesse mundo o fazia ter esperança de conseguir, mesmo que em partes, ser inteiro como o Logan sem Elliot seria. O logan de algum outro lugar do universo.

Aquele foi o primeiro passo para juntar suas peças. Os seus pedaços.

Era um pouco trágico como Tóquio tinha participação naquela decisão. Logan pensou sobre como a olhou naquele dia, onde a chuva caia e o seu corpo estava sendo coberto pelas gotas frias. Pensou sobre o seu objetivo, sobre como era cobrado pela crueldade de quebrar o coração daquela garota. Sobre como os seus amigos eram cobrados. Pensou também no mal que já havia feito, e se questionou profundamente sobre quem estaria verdadeiramente machucando caso fizesse qualquer coisa em Tóquio se romper.

O rumo de tudo havia mudado drasticamente, mas ele não conseguia se arrepender disso.

Passou pela recepção e a mulher atrás do balcão sorriu pra ele, o que Logan retribuiu da forma que conseguiu. Passou pela grande porta de vidro que havia na saída do local e o sol acariciou a sua pele, dando a ele boas vindas a um novo ciclo. Logan puxou o ar para seus pulmões como se fosse a primeira vez. Fechou os olhos por alguns instantes e quando os abriu novamente, os arregalou levemente.

Sentiu o coração acelerar um pouco. Curvou os lábios, seus olhos cintilaram.

— Vocês não estão fazendo isso — Logan negou com a cabeça, o curvar de seus lábios se transformou em um sorriso largo.

— É claro que estamos — Ryan confirmou.

Ryan Flynn e Joseph Smith esperavam por Logan em frente a clínica, com os cantos da boca erguidos em um sorriso orgulhoso e os olhos transbordando o mesmo sentimento.

Petricor| RETA FINALWhere stories live. Discover now