Trinta e cinco

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O caminho até o hospital foi silencioso. Não era necessariamente desagradável, mas causava aflição quando Logan quase podia ouvir as engrenagens da mente de Tóquio se movendo, e ela idem.

Ele estava um pouco perturbado. O dia estava sendo difícil e a noite parecia guardar algo muito pior. Era completamente imprevisível. Não havia notado quando ele e os outros cinco se aproximaram tanto, mas percebeu isso da mesma forma que Joe também notou. Então tinha Tóquio, em particular. Depois o maldito papel da psicóloga no porta-luvas do carro.

E então a garota que ele considerava uma irmã mais nova entre a vida e a morte.

Parecia o roteiro de um filme ruim carregado de drama e dor. Ele desejou que realmente fosse. Que não fosse sua vida, de fato.

— Acha que ele vai se incomodar com minha presença? — descendo do carro, ela questionou. Começou a pensar a respeito no fim do caminho.

Logan fechou a porta do veículo negro, repousou os braços sob a lataria do teto, apoiou o queixo em suas mãos unidas. Deu de ombros porque não sabia mesmo da resposta. Estava cabisbaixo, seus olhos opacos e os lábios comprimidos numa linha reta.

— Não sei se estou pronto pra hoje e para entrar lá. Não sei se dou conta.

— Eu vivi para ver Logan Marshal, o Logan Marshall duvidar de si mesmo — Tóquio imitou o seu gesto mesmo que do lado oposto do carro, deixando seus braços descansarem sob a lataria gelada e apoiando a cabeça. Ambos tinham os olhos fixos no rosto um do outro. Ela ela tentou aliviar a barra, ergueu os lábios num riso pequeno e arriscado. — Não posso dizer que todos vão sair inteiros desse dia que, venhamos e convenhamos, está sendo louco, mas todos estamos dando o nosso melhor. Você não é uma exceção.

Ele curvou um pouco o lábio, era quase um sorriso. Tóquio sentiu-se minimamente melhor visto que os lábios de Logan não eram mais apenas uma linha reta e sem vida.

— Sei que o seu cérebro de jogador de futebol demora a assimilar tudo...

— Me desculpa — ele cortou a falsa ofensa que ela começava a trabalhar, assustando-a um pouco.

— O que? — algumas linhas se formaram em sua testa devido a confusão.

— Por falar aquelas merdas para você e sobre você. Eu não sei o que Noah disse sobre mim, mas caso tenha dito que sou um babaca, ele tinha razão, de qualquer forma.

— Não houve um debate especial sobre você — Tóquio balançou os ombros, em descaso — Mas eu odiei que tenha espalhado "ela é minha garota" por aí quando sabe que não é verdade.

Tudo bem, estavam sendo sinceros e parecia não haver deboche ou cinismo em suas palavras, mas algo incomodou ao Marshall com a declaração da loira de que ele sabia que não era verdade. De fato, tinha total consciência disso, mas parecia ignorar aquela realidade por algum tempo, então quando ela era dita de forma tão crua poderia soar meio árduo.

— Podemos conversar sobre isso depois? Não consigo deixar de pensar em hoje cedo — ele encolheu um pouco os ombros, a brisa balançava alguns fios de seu cabelo que caiam em sua testa.

Tóquio sentiu-se encurralada. Não por ele ou suas palavras, mas por si mesma. Tinham muitos sentimentos no olhar de Logan, ela os via mas não compreendia.

Sendo sincera, não compreendia muito dos seus também.

— Tudo bem. Vamos entrar agora — ela apontou para a entrada do hospital com a cabeça.

Logan assentiu.

Eles enfim se afastaram do carro, saíram do estacionamento pouco iluminado e caminharam rumando a entrada. No meio do caminho, porém, foram parados pela face abatida de Ryan, que encarava o nada, sentado no meio fio.

Petricor| RETA FINALOnde as histórias ganham vida. Descobre agora