Quarenta e um

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A morte de Elizabeth foi um grande choque. Os dias eram banhos de água fria, um atrás do outro, ou partes do mundo caindo uma de cada vez em suas cabeças.

Marcus não permitiu um velório. Não permitiu que ninguém estivesse lá. Foi apenas ele e Ryan, no jardim de casa, velando-a e sofrendo com a sua partida.

Nada no mundo é mais traumatizante que um pequeno caixão branco, um pequeno corpo gelado envolto por flores amarelas e o silêncio da morte.

Marcus permitiu apenas que Logan e Joseph se despedissem dela, mas todo o tempo e toda a dor ficou sobre seus ombros e de Ryan. Houve muitas lágrimas naquele dia. E muita solidão.

Era estranho ter pessoas a sua volta e ainda assim se sentir só, perdido. Ele entendia do que Ágata estava falando.

Ele finalmente entendeu completamente como era estar perdido.

Ágata deixou mensagens de apoio e as outras meninas também, algumas pessoas da escola e até alguns professores, mas ele não viu nada. Ryan Flynn estava se afogando dentro do próprio peito. Isolado em sua casa, não passando pelo luto, mas o tornando a sua vida.

O piano, algo que havia abandonado há muito tempo atrás, voltou para o seu novo eu com força arrebatadora. A cada nota ele se expunha de dentro para fora, e tanta emoção sendo transferida para a música a fazia soar lindamente, ainda que que, tristemente, ninguém o ouvisse.

Ryan estava sozinho e não apenas metaforicamente. Marcus sumiu quando Elizabeth enfim foi enterrada. Já faziam alguns dias que não dava as caras e não se preocupou em dizer para onde iria. O Flynn mais novo sentiu o peso do abandono em um momento tão delicado, mas escondia de si mesmo a parte que sofria por isso.

Mandou todos os empregados irem embora da casa. O coração tempestuoso de Ryan assombrou toda a casa assim como as lembranças de Elizabeth. Ele a ouvia rir, ouvia seus ruídos e as vezes jurava que a via.

Davina pensou que ele enlouqueceria. Ryan se afundou em amargor e nem Logam nem Joseph puderam fazer algo a respeito porque ele não permitia de jeito nenhum. A garota o visitava sempre que podia e o avisava sobre as provas que estavam por vir constantemente.

— Voce não pode fazer isso consigo mesmo — seu tom era triste. Ryan estava sem dormir há dois malditos dias, haviam olheiras profundas em seu rosto — ela não gostaria de te ver assim.

Ryan girou o pescoço lentamente, os olhos estavam gélidos sobre ela.

— Não sabemos o que ela iria querer ou não. Elizabeth morreu.

Todo o seu interior se contorceu ao dizer estas palavras. Ao assumir que ela estava morta. A falar isso em voz alta.

Davina respirou fundo. Abaixou-se e se ajoelhou em frente a Ryan no tapete felpudo da sala – que, por sinal, estava uma bagunça – tomou as mãos do loiro com as suas, o coração se apertou ao constatar o quão fria estavam. Lembrou-se então do calor que antes elas emanavam. Havia desistido das palavras, elas não adiantariam com Ryan.

Ele apertou sua mão. Davina, que estava a bons centímetros a baixo, ergueu os olhos para o rosto abatido do loiro. Viu o exato momento em que o queixo de Ryan começou a tremer e seus olhos lacrimejarem. Viu a tensão em seus ombros sumir para que ele os encolhesse. Ryan tentava a todo custo de segurar, mas era praticamente impossível.

Quando Davina abandonou o aperto em suas mãos, ainda de joelhos no chão, ergueu o corpo o suficiente para que seus braços rodeassem o pescoço de Ryan, ele finamente caiu.

Exatamente como havia caído todos os dias desde aquele dia.

Não era a primeira vez que as lágrimas de Ryan molhavam a sua roupa, que o seu coração errava algumas batidas e que ela desejava tirar todo aquele sentimento ruim do peito dele.

Petricor| RETA FINALOnde as histórias ganham vida. Descobre agora