Sonhos, pesadelos e a verdade

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Acordo de um sonho ou um pesadelo, estou todo suado, e com a respiração ofegante. Me sento na cama e tento respirar calmamente, coloco as mão sobre a cabeça, e começo a relembrar do sonho. Sonhei que estava na minha antiga casa, minha mãe estava fazendo biscoitos, e escutei um barulho, desci as escadas chamando por ela. Mas ao chegar na cozinha, Lara estava parada na porta, ela caminhou até minha direção, colocou a mão em meu rosto, e fechei os olhos.

–Senti tanta a sua falta. –disse ainda de olhos fechados.

–Ah.. meu bem. Eu estou aqui. –ela respondeu com a voz suave.

–Por que você fez isso comigo Lara?

–Eu não fiz nada. A culpa não é minha. Eu te amo Thomas. –obro os olhos, e olho fixamente nos dela.

–Eu te amo. –respondi e em seguida lhe dei um beijo.

Assim que separo meus lábios dos seus, vejo em seu pescoço o colar que lhe dei.

–Você é um sonho bom. Mas uma realidade perfeita. –sussurro, e ela sorri.

De repente escuto um barulho, como se alguém tivesse disparado uma arma. Ela olha para mim, e começa a piscar repetidas vezes, abre a boca como se fosse dizer algo, e olha para as mãos sangrando. Meu coração começa a acelerar, ela vai caindo no chão, mas a seguro em meus braços.

Não consigo mais dormir. No lugar da minha mãe, perco a Lara. Em pesar que eu nunca cheguei a dizer que a amo. Mas eu a amo, e preciso dizer isso a ela. Mas a porcaria do meu orgulho insiste em falar mais alto. Me viro de um lado para o outro, e aquela cena não sai da minha cabeça, isso pode parecer idiota, mas começo a chorar. Não estou chorando, apenas por que tive um sonho ruim, mas por que a deixei ir, a única pessoa que tenha me amado, e que eu amo. Eu a amo tanto.

Acordo, olho no relógio, já são 11:38. Ainda está chovendo, devo ter pego no sono sem perceber. Fico por mais algum tempo deitado. Me levanto e vou até a cozinha, minha avó já preparou o café, me sento na mesa e começo a comer.

–Bom dia querido. –ela diz assim que entra na cozinha.

–Bom dia vovó, a senhora está melhor?

–Graças a Deus. E você querido? Está com a carinha meio abatido.

–Não consegui dormir muito bem. Mas estou bem. –digo para tranquiliza- lá.

–Bom, com essa chuva não tem muito o que fazer.

–Por que a senhora não vai assistir sua novela?

–Tem razão, e mesmo que não estivesse chovendo, eu não poderia fazer muita coisa, não mesmo. -ela sorri.

–Nem que a senhora quisesse, eu não deixaria. –digo, sorrindo também.

–Ah... meu querido Thomas. Você é um presente de Deus. Sua mãe teria tanto orgulho do homem que se tornou. Bonito, educado, inteligente. Se parece tanto com ela.

–Infelizmente, não tenho tantas lembranças assim.

–Eu sei querido. Me desculpe. Mas saiba que ela te amava tanto, assim como também amava seu irmão.

–Sei disso. –digo cabisbaixo, e tomo um gole do café.

–Bom, vou ver minha novela. –ela suspira fundo, e se levanta e vai para a sala.

Continuo tomando meu café, e assim que termino subo para meu quarto. Pego meu violão, e começo a tocar, passo um bom tempo ali, tentando me distrair, a chuva ainda está caindo lá fora. Coloco o violão no lugar, e pego um livro, lembro-me de quando vi a Lara na livraria, ela estava linda, consegui ver o nome do livro, e imediatamente tive a ideia de levá-la ao cinema para ver o mesmo, O Conde de Monte Cristo. Esse passou a ser um dos meus filmes prediletos, apesar de já tê-lo visto uma ou duas vezes.

Tudo o que eu faça, me lembra ela. Felizmente me distraio lendo o livro, mas sou interrompido quando alguém bate na porta.

–Entre.

–Posso falar com você? –Dylan diz, enquanto entra no quarto.

–O que você quer? –digo colocando o livro de lado.

–Que você me escute.

–Eu não quero ouvir nada do que você tenha para me dizer.

–Por favor Thomas, para de agir feito uma criança, e escuta o que eu tenho para te falar. Eu prometo que não te perturbo mais.

–Fala. O que é? –digo, e ele puxa a cadeira e se senta.

–Me desculpe! Desculpe por ter sido um irmão imaturo. Quando você mais precisou de mim, eu não estava ao seu lado. –fico em silêncio olhando para ele.

–Depois que a mamãe morreu. –ele continua. – Eu não sabia o que fazer, papai fez errado em te culpar, afinal você não teve culpa nenhuma. Mas eu agi errado em não ter te defendido quando ele te batia. Mas também foi por minha causa que ele mandou te internar. Eu tentava falar para ele parar com aquilo, que a culpa não era sua, mas ele nunca me ouvia. Então eu sabia que se te provocasse a ponto de você chegar a me bater, ele teria que tomar outra providência. Depois da surra que você me deu, e que bela surra pra um garotinho. –Dylan ri, e volta a falar. – Eu o convenci te mandar você para uma clinica psiquiatra, assim, lá ele não poderia ficar te xingando, e agredindo como fazia. Aquela foi a única maneira que eu encontrei em te ajudar.

Permaneço em silêncio, ouvindo atentamente cada palavra que ele dizia.

–Eu te amo cara, você é meu irmão, e dói tanto em mim saber que eu poderia ter feito algo pra te defender, enfrentar o papai, ou sei lá. Mas eu não fiz, e me arrependo amargamente por isso. Por favor Thomas, me desculpe por tudo, eu me sinto culpado. Minha obrigação era cuidar de você, e eu falhei nisso. –seus olhos começam a encher de lágrimas, mas ele as segura.

–Dylan...

–Eu não terminei. –ele me interrompe, e então volta a falar.

–Eu sei que você deve me odiar, mas eu não te culpo, nem sei se deveria. A única coisa que eu te peço é o seu perdão.

–Você sabe pelo o que eu passei? Tem ideia do quanto eu sofri. Eu me senti culpado por anos, pela morte da minha mãe, e ainda meu próprio pai me batia, e culpava por isso. E eu estava sozinho Dylan. Sozinho. A única pessoa que eu pensei que poderia estar ao meu lado, me abandonou. Demorou muito até que eu te desculpasse, mas nunca cheguei a perdoar. Mas depois que eu conheci a Lara, ela me ajudou a enxergar, me ajudou a pensar em te perdoar. E foi o que eu fiz. Mas você, como um tremendo babaca, quis tirar a única coisa boa que aconteceu na minha vida.

–Me desculpe.

–É só isso que você consegue dizer? Me desculpe?

–Certo. A culpa não foi dela Thomas, a Lara não teve culpa alguma por eu ter a beijado. Ela nem sabia que eu estava em casa naquele dia. Eu estava estressado por algumas coisas, e acabei bebendo um pouco. Coisa que eu nunca faço, eu não sei o que deu em mim naquele dia, e por um impulso a beijei.

Eu não sabia o que falar, depois do modo que a tratei, nem deixei ela se explicar. Eu não sei se eu dava um soco na cara dele, ou o abraçava. Como eu pude ser tão idiota em pensar que a Lara seria capaz de fazer alguma coisa daquelas.

–Sua namorava ficou tão furiosa, ela me deu um soco, bem no meio da cara, aliás, ela tem um belo soco de direita. Meu nariz começou a sangrar. De verdade Thomas, eu nunca tive a intenção de fazer alguma coisa dessas com você, eu realmente não sei o que deu em mim.

Ele se levanta e vai até a porta, eu não consigo dizer nada, só o observo abrir a porta e sair.

–Não precisa me dizer nada agora, mas pense. Eu te amo irmão, e sinto muito, por tudo o que eu te fiz, e deixei de fazer.

...

A Casa ao LadoWhere stories live. Discover now