Má noticia

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Depois que Dylan saiu do meu quarto, fico pensando nas coisas que ele me disse. Sobre ele ter me provocado a bater nele, e convencido meu pai a me internar, para me ''proteger'', como ele falou. E realmente, aquilo foi uma ajuda, lá eu ficava longe do meu pai, e não pensava tanto sobre a culpa pela morte da minha mãe. Mas confesso que foi um choque quando soube de seu acidente.

Lembro-me, que entraram no meu quarto, pensei que fosse alguma medicação, mas eles pediram para que eu os acompanhasse. Entrei na diretoria, -como chamavam- e a doutora me pediu para que se sentasse. Sentei na cadeira em frente sua mesa e então ela começou a falar.

...

–Thomas, infelizmente temos uma má notícia para lhe dar. Ontem a noite, seu pai sofreu um acidente de carro, ele está internado no hospital, não tenho muitas notícias sobre a situação dele, mas posso lhe dizer que ele está consciente.

Fico quieto, ouvindo cada palavra dela, eu não sei o que pensar, estou paralisado.

–Nós vamos te dispensar. –ela continua – Para que você possa ir visitá-lo, se assim preferir.

Eu aceno com a cabeça confirmando, e então ela diz para eu voltar ao meu quarto e pegar meus pertences. Assim que chego no hospital, Dylan está sentado numa cadeira no corredor, perto do quarto onde meu pai estava internado, ele se levanta assim que me vê.

–Os médicos ainda não entregaram nenhuma notícia, eles estão lá dentro, com ele.

Ele diz, mas eu não respondo, me sento num banco ao lado do seu, e esperamos por alguns minutos até que algum médico apareça para entregar alguma notícia.

–Vocês são filhos do Sr. Chapman? –um médico alto, com os cabelos grisalhos nos pergunta, e logo nos levantamos.

–Sim. –diz Dylan.

–Bom, o estado do pai de vocês é grave, ele sofreu uma forte batida, que causou vários ferimentos, e acabou quebrando uma costela, que perfurou seu pulmão. Nós estamos tentando de tudo para que ele possa sobreviver, mas infelizmente, não podemos garantir nada. Ele está em coma induzido, para que pudéssemos realizar a cirurgia, deve acordar dentre uma ou duas horas. Se quiserem entrar e esperar, fiquem a vontade. Caso contrário, podem ficar na sala de espera.

Depois que o médico – Doutor Phillip, pelo o que consegui ver em seu crachá - sai, eu me sento novamente no banco em que estava, coloco os cotovelos no joelho e levo as mãos á cabeça, e respiro fundo.

–Você quer entrar agora? –Dylan me pergunta.

–Não. –me levanto e dou as costas para ele.

Assim que chego até a cantina do hospital, compro apenas um café, sento-me em uma das mesas vagas que tem ali, e fico observando as pessoas entrarem, médicos saírem. Fico por um longo tempo ali. Me levanto e vou para o quarto onde meu pai estava. Abro a porta, ele ainda está dormindo, e Dylan não está lá. Me sento em uma cadeira que tem ao lado de sua cama. Fico observando o monitor fazendo aquele barulhinho com os batimentos. Eu estava tão exausto, não fisicamente, mas mentalmente. Tentava digerir tudo o que estava me acontecendo, tudo o que estava acontecendo com meu pai. De uma hora para outra eu estava perdendo as pessoas que eu mais amava. Primeiro minha mãe, depois meu pai, mesmo depois de tudo o que ele fez para mim, eu não conseguia simplesmente odiá-lo. Mas em vez disso eu tinha pena dele, do que ele estava fazendo consigo mesmo, comigo, e até mesmo com Dylan.

Antes de acontecer o que aconteceu com minha mãe, meu pai era um homem admirável, cuidava tão bem de mim e do meu irmão, e amava incondicionalmente minha mãe, talvez fosse isso. Pelo amor que eu sabia que ele sentia por minha mãe, sabia que a morte dela fosse muito pior para ele do que para mim, talvez por isso ele me batia, e me acusava. Pois ele não suportava a dor, a ideia de não ter estado ao seu lado. Mesmo que isso não fosse uma desculpa justificável.

–Katherine? –saio de meus devaneios assim que o escuto chamar o nome de minha mãe.

–Ei... Oi pai, tudo bem? –eu me ajeito na cadeira olhando para ele.

–Onde eu estou? –ele diz assim que abre os olhos.

–O senhor está no hospital. Sofreu um acidente de carro.

–O que você está fazendo aqui? Não deveria estar na clínica?

–Eles me dispensaram para que eu pudesse vê-lo. Eu não sou louco pai.

–Você se parece tanto com ela. Com sua mãe.

Fico em silêncio, sem saber ao certo o que dizer, então ele continua.

–Eu a amei assim que a conheci. Eu ainda a amo, e vou ama-la para sempre.

–Eu sei. –foi a única coisa que consegui dizer.

–Ela te ama tanto, como também amava seu irmão. E eu não estava ao lado dela. Eu não consegui salvá-la. Eu deveria, era pra mim estar em casa, mas não estava.

–Pai...

–Você era só um garotinho. –ele disse me interrompendo -, Você não tinha como fazer nada. Eu sinto muito Thomas. Eu ... eu senti tanta raiva por perder a mulher que eu tanto amava, e te acusei. Por favor meu filho, me perdoe, eu não suportava a dor e bebia tanto, todas as vezes que te acusei, que bati em você, eu não estava na minha consciência, eu não sabia o que estava fazendo. Depois que eu percebia, doía tanto, e eu voltava a beber. Coisa que eu nunca fui de fazer na vida. Nada vai justificar. Eu estava indo te buscar na clínica, eu tinha percebido o que estava fazendo, e estava indo te buscar para que você pudesse me perdoar, e que pudéssemos reconstruirmos nossa vida. Me perdoe meu filho. Eu te amo.

–Eu também te amo pai.

–Me perdoe.

–Eu te perdoo. –disse segurando sua mão, ele fechou os olhos e dormiu.

Na manhã seguinte, eu e Dylan esperávamos na sala de espera, e o médico entrou e começou a falar.

–Eu sinto em lhes avisar, mas seu pai não resistiu. Fizemos tudo o que pudemos, mas seu estado era crítico, foi surpreendente ele não ter morrido na hora, ou até mesmo durante a cirurgia. Ele foi forte. Meu pêsames.

Assim que ele saiu, eu sai dali e fui o mais longe que consegui. Não me contive, e acabei por chorar.

A Casa ao LadoWhere stories live. Discover now