Velha história

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Mesmo depois de tudo o que meu pai me fez, eu consegui perdoá-lo. Por que é tão difícil eu fazer o mesmo com meu irmão ? depois de que Dylan me disse, eu fiquei pensando em tudo o que já me aconteceu. E conhecer a Lara foi a melhor delas, e olha agora, eu a deixei ir.

Tentei dormir, mas tive sonhos ruins, ou pesadelos bons. Sempre o mesmo sonho, com a Lara, eu não consigo tirá-la da cabeça, desde o dia em que a vi pela janela. Ela já estava no seu quarto, eu adorava observá-la sem que ela percebesse, adora vê-la lendo despreocupada, ou apenas sentada na cadeira em frente ao computador, sem fazer nada, só olhando para a tela. Minha nossa, como eu pude ser tão estúpido, tão idiota. Eu a amo, e preciso dizer isso a ela. Mas ainda sinto uma ponta de orgulho.

...

Na manhã seguinte, assim que levantei fui direto pra sala, não vi ninguém por ali, então resolvi sair, assim que ligo o carro pra sair da garagem, vejo Riley, o ''irmão'' da Lara.

–E aí Riley, tudo bem?

–Hey, e aí cara. Tudo certo, e você? –ele diz se aproximando da janela.

–To indo. Você tem noticias da Lara? -prefiro ser direto.

–É... Ela está morando com o pai na Philadelphia. Está na faculdade.

–Que bom. Mas ela vem pra cá?

–Não sei. Mas ela liga todos os dias pra falar com a mãe. Se você quiser eu posso te passar o endereço de onde ela mora e da faculdade.

–Eu agradeceria. –disse gentilmente.

Ele pega papel e caneta da mala e escreve, me entregando o papel em seguida.

–Ta aí.

–Valeu Riley, muito obrigado.

–Não por isso.

–Até mais.

–Até.

Ligo o carro e saio dali, eu não sei ao certo o que fazer, mas a primeira coisa que passa pela minha cabeça é ir até onde ela está. Eu não faço a menor idéia do que vou dizer, como vou dizer. Mas estou ansioso para vê-la.

Olho para o relógio, é muito cedo ainda, e eu estou a caminho, percebo que o carro está ficando sem combustível, não demora nem 10 minutos, e avisto um posto de gasolina. Paro ali, abasteço, e decido tomar um café, na lanchonete no posto. Já que não comi nada desde que acordei. Assim que faço meu pedido, sento em uma mesa e começo a pensar no que vou dizer pra ela, como vou pedir seu perdão.

''Olá Lara. Peguei seu endereço com o Riley. Vim te pedir desculpas. (a) por eu não ter te ouvido (b) por ter pensado que você teria a cara de pau de ficar com meu irmão (c) por pensar que você pudesse me trair e (d) por ter te deixado ir embora.''

Mas que grande panaca que eu sou. O que eu estou pensando ? que ela vai me ver e correr pros meus braços, depois de tudo o que eu disse, o que eu deixei de dizer, o que fiz e até mesmo pensei. Ela não vai simplesmente dizer que vai voltar comigo e tudo bem. Ou vai ? caramba, por que é tão difícil assim ?

–Oi. –a garçonete diz com um sorriso bizarro no rosto, me tirando de meus devaneios

–Oi. –respondo olhando para ela.

–Vai querer mais alguma coisa?

–Ahm... Eu acho que não. –disse negando com a cabeça.

–Tem certeza? Se quiser...

–Só a conta por favor –ela anotou alguma coisa na caderneta e me entregou o papel. –Obrigado.

Ela apenas deu um sorrisinho e saiu. Me levantei e fui até o caixa, peguei uma barra de chocolate, paguei e sai. Assim que entrei no carro, liguei o rádio, e lá estava. ''Best of me –Sum 41'', de novo. Até parece que essa música quer me atormentar. Eu sei que devo pedir desculpas, que fiz por onde pra perder a pessoa que mais significa para mim. Liguei o carro e sai.

...

Parei em frente a faculdade que Riley me disse. Já é quase a hora do almoço, ela deve sair ou chegar a qualquer momento. Caramba, eu estou nervoso, passo a mão no cabelo de 10 em 10 segundos. Eu não sei o que falar, como falar, e se falar. Assim que a vejo sair pela porta, eu fico paralisado, sem reação. Minha nossa, como ela está linda. -Saia desse carro e vai até Thomas-, o que você –eu- está esperando ? Ela está se despedindo da amiga, certo, eu vou sair. Abro a porta e saio, enquanto vou caminhando na direção dela, um carro para bem em frente. Ela entra, tento ver quem está dirigindo, até que abre a janela. É o pai dela.

...

–Thomas, querido. Onde você estava? –minha avó pergunta assim que entro em casa.

–Fui tentar falar com a Lara.

–Já não era sem tempo. Como ela está?

–Eu não sei. –disse em suspiro assim que sentei no sofá –Não consegui falar com ela.

–E por que não?

–O pai dela chegou, e ... O que eu faço? Por que é tão complicado pedir desculpas pra alguém que se ama. Agora eu sei que ela não teve culpa. E eu fiquei a culpando esse tempo todo, e estava errado esse tempo todo.

–Eu sei querido. Nós não queremos aceitar que estamos errados, e afastar a pessoa que se ama por este erro é ainda pior tentar admitir o erro para si próprio.

–Ah... vó .

–Vou te contar uma história.

–Ok. –disse sorrindo para ela.

–Quando eu era mais jovem, eu era uma moça muito bonita. Mas eu só pensava em estudar, queria ser estilista, queria morar em Paris. Certo dia eu conheci um rapaz, eu não gostava dele, achava-o muito metido e arrogante. Até que um dia ele veio conversar comigo, e começamos a ser amigos, e eu me apaixonei por ele, e como eu tinha meu sonho para realizar, e estava prestes a conseguir, havia até conseguido uma bolsa para estudar em outro país. Eu fui embora, nunca havia dito o que eu sentia por ele, achei que seria melhor assim. Se passou um ano, e em uma tarde de primavera eu estava entrando no meu prédio e o vi. A principio, pensei que fosse por acaso, uma coincidência. Nós conversamos, e acabamos namorando, depois noivamos e se casamos, tivemos uma filha linda, e dois netos maravilhosos. E sabe o que ele me disse pouco antes de morrer?

–O quê?

–Que a pior decisão que ele teve foi me deixar ir embora, ele não queria admitir este erro. Então ele foi atrás de mim, pois o amor que ele sentia era sincero, e um amor sincero e verdadeiro não vai ser a distância nem o tempo, e nem mesmo as coisas erradas que fazemos, que irá apagar. Querido, se você a ama não deixe que coisas tolas faça com que você passe o resto da vida se culpando por um erro que você pode concertar.

Ela me deu um beijo na testa, se levantou e saiu. Subi e fui tomar um banho, enquanto estava de baixo do chuveiro fiquei pensando no que minha avó me disse. Talvez eu não aceitasse tanto minha culpa, por não ter perdoado meu irmão de verdade. Eu sabia que ele tinha feito aquilo, e tudo o que ele me fez e deixou de fazer também. Mas se eu perdoei meu pai, eu também posso perdoar meu irmão.

A Casa ao LadoWhere stories live. Discover now