Episódio 11.2 - Liera: Anciã

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- A garota não! - Bradei ao levantar as defesas da telecinese - Ela está sob a proteção da regente de Acalla! - O executor se armava com outro espinho quando girei um dos pés ordenando ao solo que abrigasse Tagi em seu interior. A garota estava segura, era o momento de garantir aquilo aos demais súditos do Vilarejo da Fronteira.

Eu senti a presença de Yuri antes mesmo do regente da Nação Independente surgir em Acalla para testemunhar os eventos, Leona também estava em algum lugar por ali. Me valendo uma vez mais das performances elementalistas, levantei do chão estacas elementais e as lancei contra o Executor tão rápido quanto pude mover os braços. A rajada ocupou o arqueiro impossibilitando-o de armar seu arco. A distração causada pelo ataque me garantiu vantagem, com o impulso dos ventos alcancei o exilado sem que ele notasse minha ação.

- Pressão. - Expressei. A magia dos Filhos da Guerra concentrou-se na palma de uma das mãos no momento exato em que toquei a armadura do Executor. As paredes de rocha maciça não seguraram o corpo enrijecido do arqueiro que atravessou as edificações próximas.

Eu saltei sobre a ruína de pedras em busca do inimigo e o encontrei caído. Ainda no ar me armei com uma bola de fogo visando acertá-lo, ele foi mais rápido na evasiva e rolou na poeira para se livrar do ataque. Ao tocar o solo, fui golpeada pelo Executor que girou o próprio corpo no chão e me acertou com as pernas. Com o mesmo impulso dos movimentos giratórios que me derrubaram, ele se colocou em pé com um salto e arrancou do elmo um dos espinhos manejando-o como um instrumento de perfuração.

O executor firmou a arma nas mãos e a desceu contra o meu corpo em um movimento transversal. Ainda com a energia elemental eu estendi os braços em uma ordem de abertura da terra, uma fenda se partiu abaixo me acolhendo no interior. Me desloquei pelo elemento sem resistência alguma e emergi atrás do exilado que me golpeou prevendo o ataque, mas eu estava pronta para aquilo, defendi o golpe com um dos braços e com o outro me agarrei à longa trança que contornava seu corpo enquanto ele se voltava a mim.

- Pressão!

Em uma performance acrobática eu acertei o peito do Executor com a sola de um dos pés. O resultado foi uma explosão violenta que projetou o exilado para dentro da floresta. O elmo preso à trança foi arrancado da armadura permanecendo em minhas mãos, nele havia sangue fresco. Os últimos civis que insistiram em permanecer no vilarejo notaram que um Executor havia caído. Eu caminhei para a entrada da floresta sentindo os olhares atentos que me acompanhavam, olhares que testemunharam horrorizados a queda da regente ao ser acertada pelo espinho atirado dentre as árvores.

O impacto do meu corpo contra o solo me turvou a visão. Eu ouvi os gritos de suplico e a revolta dos súditos que clamavam pela vida da rainha. Um grupo de civis veio ao meu socorro, outros proferiram ordenamentos demandando a execução do exilado ali mesmo, um ato de justiça que colocaria suas próprias vidas em risco.

- Sem mais vítimas! - Gritei. Motivada pela dor eu cedi ao ápice do poder ancião. Mesmo sabendo que seria penalizada por fazer uso da magia proibida de Neali, eu me conectei com a mente de cada filho de Acalla que ali estava, compartilhando com eles as minhas sensações e me valendo dos sentidos coletivos também. Eles sentiram a dor da regente, eles a carregaram em seus próprios corpos tornando meu sofrimento tolerável. Com a telecinese de Leona, eu sustentei meu corpo no ar. As vestes maculadas pela terra e pelo sangue marcavam a brutalidade da rivalidade histórica entre Acalla e os Exilados. Um grupo de pessoas dentro da floresta enxergava o executor, eu o vi através de seus olhos e estendi as mãos arrastando-o à minha presença.

- Revele-se!

Uma vez em posse do corpo, dominei o exilado e o posicionei ante a mim. A escuridão havia chegado e a tensão que pairava era quase palpável. Com uma das mãos eu o sustentei em suspensão, com a outra conjurei uma bola de fogo para evidenciar aos súditos a identidade do primeiro Executor capturado.

- Os Exilados prevalecerão! – Ele estava quase irreconhecível quando pronunciou aquelas palavras. A identidade do exilado poderia ser questionada diante da deformidade da sua face, a essência de sua energia, no entanto, era algo que ele não podia mais esconder sob a armadura incompleta.

Eu ascendi aos céus com a levitação arrastando comigo o corpo ensanguentado. Busquei pela energia dos demais líderes que ali estavam, encontrando apenas Yuri que se defendia de outros três Executores em um evidente empate de forças.

- Yuri! Tenho algo para a tal investigação. – Bradei ao soltar o corpo de Sarsir.

O ancião exilado caiu desfalecido próximo ao regente independente. Eu me juntei a Yuri no solo e lhe estendi as mãos, o ancião Combatente correspondeu me entregando seu próprio machado de guerra. Sem hesitação, desferi um golpe da lâmina contra o corpo de Sarsir finalizando ali a sua existência. O ancião do clã dos dominadores estava morto, seu poder invadiu meu corpo como a geada interminável das terras extremas. Findado o processo, eu tomei fôlego para amenizar as dores da ferida e do poder tomado. Fazendo uso da ligação mental eu ressoei através dos corpos dos súditos a quem me conectei, vozes de todas as grandezas e com os mais variados tons cortaram a escuridão para transmitir a mensagem de Acalla:

- A magia da dominação sobre as bestas celestiais é minha! Que a palavra seja dita, eu vou defender o meu povo, o meu território e as minhas posses! Cada exilado que atentar contra Acalla perecerá pelas mãos da regente! - Eu atirei a arma contra os invasores que deixaram Acalla antes da lâmina tocar o solo.

- Nós precisamos achar Leona. Você acha que eles voltarão? - Questionou Yuri.

- Não sei. Mas tenha por certo, Yuri, o fim dos ataques não significará o fim dessa guerra. Não para Acalla.

***

AcallaWhere stories live. Discover now