Capítulo 5

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No sábado à noite, durante o jantar, Richard olhou para Julie, do outro lado da mesa, com um leve sorriso brincando em seus lábios.

- Por que você está sorrindo? - perguntou ela.

Richard pareceu voltar ao presente, com uma expressão encabulada.

- Desculpe. Eu só estava sonhado acordado por um segundo.

- Estou sendo tão entediante assim?

- De jeito nenhum. Só estou feliz por você estar comigo esta noite. - Levando o guardanapo ao canto da boca, ele a olhou. - Eu já disse que você está linda hoje?

- Um monte de vezes.

- Quer que eu pare de repetir?

- Não. Pode achar estranho, mas gosto que me coloquem num pedestal.

Richard riu.

- Farei o possível para mantê-lo nele.

Eles estavam no Pagini's, um restaurante aconchegante em Morehead City, com cheiro de temperos frescos e manteiga derretida. O tipo de lugar em que os funcionários vestiam uniformes preto e branco e a comida muitas vezes era preparada ao lado da mesa. Havia uma garrafa de chardonnay num balde de gelo sobre a mesa e o garçom lhe servira duas taças que produziam um brilho amarelo à luz suave. Richard havia aparecido à porta usando um paletó de linho, segurando um buquê de rosas e com um cheiro discreto de água-de-colônia.

- Então, como foi sua semana? - perguntou ele. - Que coisas empolgantes aconteceram na minha ausência?

- Quer dizer, no trabalho?

- No trabalho, na vida, no que for. Quero saber de tudo.

- Provavelmente eu é que deveria estar lhe fazendo esta pergunta.

- Por quê?

- Por que minha vida não é nem um pouco excitante - respondeu ela. - Trabalho num salão de beleza numa cidade pequena, lembra? - Julie disse isso de um modo alegre e bem humorado, não como se quisesse inspirar compaixão. - Além disso, acabei de perceber que não sei muito sobre você.

- É claro que sabe.

- Não sei, não. Você ainda não me falou muito sobre si mesmo. Nem sei direito o que faz.

- Mas eu não lhe disse que sou consultor?

- Sim, mas não entrou em detalhes.

- Porque meu trabalho é entediante.

Ela fingiu ceticismo, e Richard pensou por um momento.

- Está bem... o que eu faço... - Ele fez uma pausa. - Bem, trabalho nos bastidores, certificando-me de que nada desmorone.

- Isso não é entediante.

- É apenas um modo elegante de dizer que trabalho com números o dia inteiro. Nesse sentido, sou o que a maioria das pessoas considerariam um nerd.

Ela o olhou, pensando: duvido.

- A reunião era sobre isso?

- Que reunião?

- Aquela em Cleveland.

- Ah... não - respondeu ele, balançando a cabeça. - A empresa está com outro projeto, preparando-se para participar de uma licitação na Flórida, e há muita pesquisa para fazer: projeções de custos, estimativas de tráfego, cargas esperadas, esse tipo de coisa. Eles têm uma equipe própria, é claro, mas chamam consultores para se certificarem d que tudo estará de acordo com as normas governamentais. Você ficaria surpresa com a quantidade de trabalho a fazer antes de se iniciar um projeto. Sozinho, sou o responsável pela destruição de grandes áreas florestais só para produzir a papelada exigida pelo governo, e neste momento estou com pouco pessoal.

O GuardiãoWhere stories live. Discover now