Capítulo 22

9 0 0
                                    

Para Julie, os dias começaram a ter um novo ritmo. Desde as manhãs quando Mike saía da oficina para cumprimentá-la na rua, até seus almoços em lugares afastados e as noites preguiçosas de longas conversas, ele estava se tornando uma parte emocionante e importante em sua vida.

Eles ainda estavam indo devagar no relacionamento, como se acreditassem que um gesto brusco pudesse fazê-lo desaparecer como fumaça. Um não passava a noite na casa do outro. Embora algumas vezes essa oportunidade tivesse se apresentado, nenhum dos dois pareciam prontos para isso.

Um dia, passeando com Singer após o trabalho, Julie se deu conta de que aquilo era só questão de tempo. Era uma terça feira, duas semanas depois do primeiro encontro deles e, o que era mais importante, dez dias depois do terceiro encontro, o que, segundo as revistas, era o número mágico com relação ao sexo. Eles haviam passado por esse marco sem perceber, mas isso não a surpreendeu. Desde a morte de Jim, ela tinha momentos em que se sentia um tanto... sensual, como gostava de dizer. Mas já fazia tempo que não transava que quase aceitara o celibato como um estilo de vida permanente. Havia até se esquecido de como era desejar algo assim, mas seus hormônios andavam muito ativos ultimamente e havia momentos em que se via fantasiando sobre Mike.

Não que Julie fosse atacá-lo sem aviso. Isso provavelmente assustaria Mike. De qualquer modo, ela ficaria tão apavorada quanto ele. Se beijá-lo pela primeira vez a deixara com os nervos à flor da pele, como seria o próximo passo? Ah, imaginou-se dizendo em pé na frente dele, essas gordurinhas? Desculpe-me, mas você sabe que temos comido muito fora ultimamente. Apenas apague as luzes, querido.

Era possível que aquilo tudo acabasse sendo um fiasco, com cotovelos se esbarrando, cabeças batendo e frustração no final. E então o que aconteceria? Sexo não era a coisa mais importante em um relacionamento, mas também não era a terceira ou quarta em ordem de importância. Julie imaginou que, quando chegasse a hora, o estresse associado ao seu primeiro momento juntos tornaria quase impossível desfrutá-lo. Eu deveria fazer isso? Deveria sussurrar aquilo? Era como ir a um daqueles programas de TV de jogos com perguntas impossíveis, só que os participantes ficavam nus, pensou Julie.

O.k, talvez eu esteja me preocupando demais, repreendeu-se. Mas é o que acontece quando você só teve um homem na vida. Esse era o resultado de ter uma vida comportada e, para ser sincera, não queria mais pensar nisso. Um passeio com Singer deveria ser relaxante, não deixá-la com as mãos frias e suadas.

Singer perambulava à sua frente, pelos lotes arborizados que se estendiam até a Intracoastal Waterway, e Julie avistou o caminho que a maioria dos corretores usava. Um mês antes, haviam surgido placas por todo o caminho até a água, e ela tinha visto faixa de plástico cor de laranja onde eles pretendiam construir a estrada. Em alguns anos aquilo se tornaria um bairro. Embora isso fosse bom em termos de valorização imobiliária, era um pouco desagradável. Julie gostava da privacidade dos terrenos desocupados, que também eram ótimos para Singer. Realmente não queria ter que começar a levar uma pá quando fosse caminhar com ele, recolhendo suas fezes dos gramados recém-plantados. Pensar nisso lhe dava náuseas e ela não suportaria os olhares que Singer lhe lançaria. Não tinha a menor dúvida de que ele entenderia o que estava acontecendo. Depois das primeiras vezes, a olharia antes de virar seu focinho, pensando algo como: Fiz minhas necessidades perto da árvore, quer ser boazinha e limpara para mim?  

Nem pensar. Não havia a menor chance de ela aguentar isso.

Julie andou durante quinze minutos antes de chegar à água e se sentar um pouco num tronco, observando os barcos passarem. Não conseguia ver Singer, mas sabia que ele estava por perto, pois viera de tempos em tempos se certificar de que ela o estava seguindo.

O GuardiãoWhere stories live. Discover now