Capítulo 29

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Depois do tumulto do mês anterior, a semana seguinte foi surpreendentemente tranquila para Julie. Ela não viu Richard em lugar nenhum. Na segunda-feira também não aconteceu nada e ela torcia para que a terça não fosse diferente.

Parecia que não seria. Seu telefone era a prova de que números fora da lista e não divulgados era um modo eficaz de evitar telefonemas indesejados. Embora fosse um alívio não se preocupar com isso, Julie havia começado a pensar que poderia enterrar o telefone no quintal, porque era óbvio que nunca mais, pelo resto da vida, ninguém lhe ligaria apenas para conversar.

Somente quatro pessoas - Mabel, Mike, Henry e Emma - tinham seu número e, como ela passava o dia inteiro com Mabel e a noite inteira com Mike, eles não tinham por que ligar. Em todos os anos que o conhecia, Henry nunca havia telefonado, o que tornava Emma a única pessoa que poderia pensar em usar o telefone. Mas depois de saber como as ligações haviam assustado Julie, Emma parecia estar lhe dando um descanso, sem querer sobressaltá-la.

Julia admitia que no início aquilo não havia sido ruim. Era bom poder cozinhar, tomar banho, folhear uma revista, ou se aconchegar em Mike sem ser perturbada, mas, depois de uma semana, sem ser perturbada, mas, depois de uma semana, se tornara um pouco irritante. É claro que ela poderia usar o telefone e fez isso, mas não era mais a mesma coisa. Como ninguém ligava, ninguém podia ligar, Julie começou a se sentir como se estivesse sido transportada de volta no tempo.

Estranho o que uma semana tranquila faz com a perspectiva de uma pessoa.

O fato é que a semana tinha sido tranquila. De verdade. Normalmente tranquila. Julie não tinha visto ninguém nem parecido com Richard, nem mesmo a distância, e estava atenta a ele quase o tempo todo. E, é claro, havia Mike, Mabel e Henry. Julie tinha espiado pela janela do salão em ambas as direções uma dúzia de vezes por dia. Quando dirigia, às vezes entrava numa rua diferente e parava, olhando pelo retrovisor para ver se alguém a estava seguindo. Examinava o estacionamento minuciosamente e ficava de frente para a porta quando estava na fila do correio ou do supermercado. Quando chegava em casa e Singer ia na direção do bosque, ela o chamava de volta para vasculhar a casa. Enquanto ele percorria os cômodos, Julie esperava do lado de fora, com a mão no spray de pimenta que comprara no Walmart. Minutos depois Singer voltava abanando o rabo, parecendo feliz como uma criança numa festa de aniversário.

O que você está fazendo aí na varanda?, parecia perguntar. Não quer entrar?

Até o cão notava que ela estava um pouco paranoica. mas como dizia o velho ditado, é melhor prevenir do que remediar.

E havia Mike. Ele não a perdia de vista por mais de alguns minutos, exceto quando ela estava no trabalho. Embora fosse ótimo tê-lo por perto, em alguns momentos isso era um pouco sufocante. Fazia algumas coisas melhor quando Mike não estava bem ali.

No âmbito legal, havia uma certa confusão. A policial Jennifer tinha aparecido na semana anterior e conversado com os dois. Ela ouvira sua história e dissera que não hesitasse em telefonar caso voltasse a acontecer algo fora do comum. Isso fez Julie se sentir melhor, o que, por sua vez, também fez Mike se sentir melhor, mas até agora eles não haviam tido motivo para telefonar. Além disso, o promotor público havia desistido do processo e, embora tivesse deixado aberta a possibilidade de instaurá-lo no futuro, por ora Mike não corria perigo. O promotor disse que fez isso não por achar que Mike fosse inocente, mas porque Richard não aparecera para prestar um depoimento formal. E também não tinham conseguido entrar em contato com ele.

Que estranho, pensou Julie, ao saber disso.

Mas oito dias de nada, absolutamente nada, haviam encorajado Julie. Não que ela fosse boba a ponto de se esquecer do risco - nunca serei dessas convidadas de programas de TV considerada uma idiota por toda a platéia por não ter visto que isso ia acontecer, disse a si mesma, mas ocorrera uma mudança sutil sem que ela estivesse particularmente consciente disso. Na semana anterior esperara ver Richard. Esperava vê-lo à espreita em algum lugar e havia se preparado para isso. O que iria fazer dependeria das circunstâncias, é claro, mas ela não hesitaria em gritar, correr ou, se preciso, soltar Singer para cima dele. Estou pronta para tudo, repetia para si mesma, basta você dar um passo. Qualquer sinal de problema e se arrependerá, Sr. Franklin.

O GuardiãoWhere stories live. Discover now