Capítulo 10

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Mike estava na oficina, balançando a cabeça pensativamente e fazendo o possível para não estrangular seu cliente.

E para não matar Henry, por ter lhe empurrado esse cliente em particular.

Assim que Benny Dickens havia entrado, Henry subitamente se lembrara dar um telefonema importante e sumira de vista.

- Você não se importa de atendê-lo, não é, Mike?

Benny era um rapaz de 21 anos cuja a família era dona da mina de fosfato na saída da cidade, uma empresa com mais de três mil funcionários, o que a tornava a maior empregadora de Swansboro. Benny tinha abandonado a escola na décima série, mas possuía uma casa enorme na beira do rio, comprada com o dinheiro do pai. O rapaz nunca nem pensara em trabalhar e tinha dois filhos pequenos, de mães diferentes. Sua família era de longe o maior cliente da oficina, do tipo que as pequenas empresas não podiam se dar ao luxo de perder.O velho Dickens adorava Benny. Achava que o filho era um deus. Muito tempo atrás, Mike concluíra que o pai dele era um idiota.

- Mais alto - dizia Benny, começando a ficar com as bochechas coradas e a voz estridente. - Eu disse que queria alto!

Benny se referia ao ronco do motor de seu Corvette Callaway recém-comprado. Ele o levara para a oficina para Mike "deixá-lo mais alto". Provavelmente para combinar com as chamas que pintara no capô na semana anterior e com o sistema de som estéreo que mandara instalar. Benny iria com o carro para Fort Lauderdale nas férias de verão, na semana seguinte, com a esperança de seduzir o máximo de jovens que pudesse. Um rapaz realmente impressionante.

- Está alto - disse Mike. - Mais alto do que isso é ilegal.

- Não é ilegal.

- Você será parado pela polícia - disse Mike. - Posso lhe garantir.

Benny piscou como se tentando entender o que Mike dizia.

- Você não sabe do que está falando, seu mecânico estúpido. Isso não é ilegal, ouviu?

- Mecânico estúpido - disse Mike, balançando a cabeça. - Entendi.

Duas mãos em volta do seu pescoço, os polegares no pomo de Adão. Era só apertar e sacudir.

Benny pôs as mãos nos quadris. Como sempre, usava um Rolex.

- Meu pai não concerta todos os caminhões dele aqui?

- Sim.

- E não é um bom cliente?

- Sim.

- Não foi pra cá que eu trouxe meu Porshe e meu Jaguar?

- Sim.

- Não pago sempre em dia?

- Sim.

Benny agitou os braços, exasperado, sua voz se tornando mais estridente.

- Então por que você não deixou o motor alto? Lembro que vim aqui e expliquei isso muito claramente. Eu falei que queria alto! Para passear pela avenida principal! As garotas gostam de barulho! E não estou indo lá para me bronzear, ouviu?

- Garotas, nada de bronze - disse Mike. - Ouvi.

- Então faça com que fique alto!

- Alto.

- Sim! E quero o carro pronto amanhã!

- Amanhã.

- Alto! Consegue entender isso, não é? Alto!

O GuardiãoWhere stories live. Discover now