Capítulo 9

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Aquilo é que era fim de semana, pensou Julie. Richard bem que poderia dar a Bob algumas aulas sobre como impressionar uma mulher. Não, ele poderia dar uma palestra sobre o assunto.

Na manhã de domingo, enquanto olhava seu reflexo no espelho, ela ainda não podia acreditar. Não tinha um fim de semana como aquele havia... bem, nunca tivera um fim de semana como aquele. Era a primeira vez que Julie ia ao teatro e, quando estavam na limusine e Richard enfim lhe dissera para onde iriam , ela havia achado que provavelmente gostaria do programa. Sua ideia de musicais se baseava em filmes de uma geração anterior, como O vendedor de ilusões e Oklahoma!. No fundo, achava que assistir a um espetáculo em Raleigh, em vez de em  Nova York, seria como assistir a uma peça de teatro de uma escola secundária.

Como estava errada!

Julie ficou encantada com tudo: os casais em trajes noturnos tomando vinho no jardim antes de o espetáculo começar; o silêncio da multidão quando as luzes se apagaram; as primeiras notas vigorosas da orquestra, que fizeram com que ela se sobressaltasse; o romance e a tragédia da história; o virtuosismo das interpretações e as canções, algumas tão lindas que a deixaram com os olhos marejados. E as cores! Os adereços e trajes muito coloridos, o uso de focos de luz intensa e sombras assustadoras, tudo combinando para criar um mundo no palco estranhamente surreal e muito vivo.

Toda a noite parecera uma fantasia, concluiu. Nada daquilo era familiar e, durante algumas horas, ela havia se sentido como se tivesse entrado em universo paralelo, no qual não era uma cabeleireira de uma cidade pequena, o tipo de garota cujo grande feito da semana era algo trivial, como tirar uma marca de sujeira ao redor da banheira. Não, aquele era outro mundo, um lugar ocupado por habitantes de comunidades fechadas e exclusivas, que analisavam cotações de ações nos jornais enquanto a babá arrumava as crianças para a escola. Mais tarde, quando ela e Richard saíram do teatro, não teria achado estranho se tivesse visto duas luas no céu.

Não, ela não estava se queixando. Lembrou-se de que na limusine, a caminho de casa - sentindo o cheiro almiscarado de couro e as borbulhas de champanhe fazendo cócegas em seu nariz -, havia pensado: então é assim que as pessoas privilegiadas vivem. Entendo perfeitamente por que elas se acostumam com isso.

O dia seguinte também fora uma surpresa, não só pela diversão, mas por ter sido bem diferente do anterior. Eles saíram de dia em vez de à noite, foram passear num balão movido a ar quente, andaram por ruas animadas e fizeram um piquenique na praia. Foi um repertório completo de programas em apenas dois dias, como recém-casados aproveitando as últimas horas da lua de mel. Embora o passeio de balão tivesse sido divertido - apesar de um pouco assustador quando o vento ficou mais forte -, de tudo o que eles fizeram, de andar de mãos dadas a posar alegremente enquanto Richard tirava fotos dela, o programa de que Julie mais gostou foi o piquenique. Estava mais de acordo com as coisas às quais estava acostumada, refletiu. Tinha ido a muitos piqueniques em sua vida - Jim gostava deles - e por um momento se sentiu ela mesma  de novo. Essa sensação não durou muito. Na cesta de piquenique havia uma garrafa de Merlot, além de queijos e frutas e, quando acabaram de comer, Richard se ofereceu para massagear seus pés. Isso lhe pareceu antiquado. No início ela riu e disse não, mas quando ele pegou seu pé com delicadeza, tirou sua sandália e começou a massageá-lo, ela cedeu, imaginando que Cleópatra devia se sentir de um modo muito parecido quando relaxava sob o abanar de folhas de palmeira.

Estranhamente, naquele momento Julie pensou em sua mãe.

Ainda que tivesse concluído havia muito tempo que ela não era nem um pouco confiável como mãe ou modelo de comportamento, lembrou-se de algo que ela dissera certa vez, quando Julie lhe perguntara por que havia parado de se encontrar com um namorado recente.

O GuardiãoWhere stories live. Discover now