Capítulo 6

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O Sailing Clipper era um bar típico das cidades pequenas litorâneas: pouco iluminado e com cheiro de mofo, cigarro e bebidas alcoólicas envelhecidas, popular entre os trabalhadores, que se amontoavam ao redor do balcão. Encostado à parede oposta, o palco destacava-se mais alto do que a pista de dança um pouco torta, que quase nunca ficava vazia quando as bandas tocavam. Dezenas de mesas que tinham gravadas as iniciais de quase todos que já haviam entrado pela porta estavam dispostas ao acaso, com cadeiras que não combinavam ao redor.

O grupo no palco, Ocraoke Inlet, se apresentava no Clipper com frequência. O dono do estabelecimento, um homem com uma perna só chamado Joe Torto, gostava da banda porque tocava canções que deixavam as pessoas bem-humoradas e com vontade de ficar mais tempo, o que era bom para os negócios, pois elas bebiam mais. Eles não tocavam nada de original, ousado ou que não pudesse ser encontrado em jukeboxes em bares de todo o país, e era exatamente por isso que Mike achava que todos gostavam tanto deles. Gostavam de verdade. Quando se apresentavam, a casa ficava cheia, o que não acontecia com as bandas em que ele tocava. Contudo, Mike nunca fora convidado a tocar com eles, embora conhecesse bem a maioria de seus integrantes. Mesmo sendo uma banda de segunda categoria, esse pensamento o deprimia.

A noite toda fora deprimente. Droga, toda semana, na verdade. Mike estava arrasado desde segunda-feira, quando Julie tinha ido buscar suas chaves e mencionara casualmente, que sairia com Richard no sábado, em vez de ir jantar com eles. Passava o tempo todo resmungando para si mesmo sobre a injustiça daquela situação e alguns clientes até comentaram sobre isso com Henry. O pior é que Mike não teve coragem para falar com Julie durante o resto da semana, pois, se falasse, ela insistiria em saber o que o estava incomodando. Não estava pronto para lhe dizer a verdade, mas vê-la passar na frente da oficina todos os dias fazia com que se lembrasse de que não tinha a menor ideia do que fazer.

É claro que Henry e Emma eram ótimos e ele gostava de passar o tempo com eles. Mas Mike sabia que era uma peça sobressalente nesse trio. Eles tinham a companhia um do outra para ir para casa.Mike, por sua vez, não tinha companhia nenhuma, exceto o rato que corria por sua cozinha de vez em quando. Eles tinham um ao outro para dançar; Mike era obrigado a ficar metade do tempo sozinho à mesa, lendo rótulos de cerveja que arrancava das garrafas. E quando Emma o convidava para  dançar, o que fizera esta noite, ele abaixava a cabeça e pedia a Deus que ninguém o visse dançando com sua irmã.

Irmã. Cunhada. Os detalhes não faziam diferença num momento como este. Quando ela o convidava para dançar, ele se sentia como se sua mãe tivesse se oferecido para ir com ele ao baile de formatura porque ele não conseguira arranjar uma acompanhante.

Não eram assim que as coisas deviam ter sido esta noite. Era para Julie estar lá. Devia dançar com ele, sorrir enquanto tomava uma bebida, rir e flertar. E teria sido assim, não fosse Richard.

Richard.

Mike o odiava.

Não  conhecia. Nem queria conhecê-lo. Não lhe interessava. Franzia a testa só de pensar no nome dele - e fizera isso a noite toda. 

Observando o irmão atentamente, Henry terminou sua cerveja Coors e pôs a garrafa de lado.

- Acho que você devia parar de beber essa cerveja barata - comentou. - Parece que ela está lhe dando gases.

Mike ergueu os olhos. Henry estava sorrindo e esticava o braço para pegar a garrafa de Emma. Ela tinha ido ao banheiro e, considerando as filas sempre longas com uma multidão como aquela, Henry sabia que poderia demorar um pouco, até já pedira outra garrafa para substituir a dela.

- Estou bebendo o mesmo que você.

- É verdade - disse Henry -, mas você deve saber que alguns homens lidam com isso melhor do que outros.

O GuardiãoWhere stories live. Discover now