Unforgettable

Mera coincidência?

Imbecilmente envolvida na adrenalina e no momento coloquei o pé em cima de um banco e atei os cordões com precaução. Não sabia o que iria acontecer, nem sequer sabia se tinha sido a melhor reação ao som expelido pela voz grave. Uma sombra aproximou-se. Ele estava colocado estrategicamente impedindo a visão da sua face durante a conversa.

- Não é um bocado perigoso andares a correr a esta hora?

- E o que tem a ver com a minha vida?

- Estou apenas preocupado.

Encarei a figura musculada ao notar um movimento na sombra e falei convicta.

- Sei tomar conta de mim.

- Já não está cá quem falou.

O intrometido retornou a sua corrida logo após eu ter reparado quem era. Pela primeira vez tinha ficado sem reação, por causa de um rapaz e isso irritava-me, mas não mais do que eu ter sorrido.

Era ele, o rapaz do sorriso, mas a esta hora? Era tão pouco provável isto acontecer, mas eu tenho a certeza, era ele! Nem me deu tempo para reagir quando vi que era ele; tinha acabado de falar e virado logo para outra rua. Mas agora não adiantava de nada, não ia atrás dele. Naturalmente, ele não estava a correr, não tinha roupa disso. O que é que ele estava ali a fazer aquela hora? Não ia saber, por isso mais valia esquecer o assunto. Enquanto corro penso em tudo, desde o meu passado até ao meu futuro. Hoje parei de correr não quando estava cansada nem quando tinha corrido o suficiente, parei quando não queria pensar mais. Voltei para casa e ouvi risos na cozinha, entrei e fui lá ter.

- Vistam-se! Não quero ficar traumatizada! - Entrei na cozinha de olhos tapados.

- Não sejas tontinha. -Thomas de boxers falou encostado ao balcão.

- Não somos como tu, tens de perceber isso! – O tom de voz da Eleanor mudou para menos agradável e sem brincadeira. - Foste correr sozinha a esta hora porquê? Estás doida?

A El ao início estava a brincar, depois parecia realmente chateada. Ela não gostava que eu fizesse estas coisas, na verdade tinha mais medo do que eu.

- Já estou aqui e estou bem! Não há mal nenhum e sabes como sou. Tens um pedaço de mau caminho encostado ao balcão e estás aqui a chatear-te comigo porquê? Doida és tu!- falei enquanto a agarrava carinhosamente.

- Jennifer, já estás a desviar o assunto!- Eleanor proferiu ao largar-me dela.

- Tive vontade, não conseguia dormir e não...Agora tomo banho e durmo até meio da manhã. Não passei em ruas suspeitas nem nada disso. – Conclui pouco agradada com a conversa. Moro 'sozinha' e adoro essa liberdade, não preciso que Eleanor vire a minha mãe.

- Não devias de fazer isso, ficamos os dois preocupados. – Thomas mostrou a sua opinião e tentou apaziguar.

- Os três...olhem eu vou tomar banho, deviam ir dormir ou fazer o que quiserem. – Falei pouco agradada ao beber água.

- Os três? – O casal falou em coro e, por segundos, um sorriso ameaçou voltar.

- Também ficaste preocupada foi? Tu nunca te preocupas!

Eleanor continuava irritada e não conseguia disfarçar isso na maneira como falava.

- Quem foi o terceiro afinal?- Thomas voltou a dar um ruma a conversa e olhou fixamente para mim.

- Um rapaz que veio ter comigo enquanto corria, nada demais, acho que era aquele do sorriso. O que te falei Eleanor.

- Ainda por cima a falar com estranhos!

- Já pareces a minha mãe! – Eu gargalhei ao falar acabando por aliviar um pouco o ambiente.

- É bom rapaz. Estou aqui sã e salva! – Tentei suar amigável e esconder o meu desagrado. - Peço desculpa, para a próxima deixo bilhete. Vamos descansar? Amanhã conto-te tudo melhor - Dei um beijo a El e esperei que a rapariga me desculpasse.

- Pronto, vamos lá!- Ela rendeu-se e um riso de Thomas foi ouvido.

Esteve claramente a divertir-se com isto. Ele sabe o quanto gosto de perigo e o quanto a sua namorada se preocupa e consegue achar graça a incompatibilidade das duas.

Fomos todos descansar. Dormi até à hora de almoço e quando acordei cheirava a comida, preparei-me e fui ter a cozinha. Era Thomas quem estava a preparar o almoço, a El andava a arrumar a casa. Sentei-me no lugar do costume e chamei a Eleanor para estarmos todos juntos.

- Não te percebo rapariga...porque é que andas a arrumar? A casa já estava limpa! E olha, devias era aproveitar, tens um namorado que cozinha bem e tudo.

- Sempre a mesma Jen!- O casal falou em resposta ao meu monólogo depois de uma gargalhada.

- Ainda vais arranjar um namorado muito melhor que eu. – Thomas, como sempre, deu-me esperanças.

- Ela vai morrer solteira, ninguém a consegue aturar. – Já Eleanor insiste em brincar com a situação.

- Está muito engraçadinha a menina Eleanor! Se eu encontrar alguém, vai ser pior que eu ou então alguém que me acalme. – Deixei de divagar e encarei o casal. - Duvido que isso aconteça e se tiver que ficar sozinha também fico!

- Tu sozinha? – a minha companheira mostrou-se indignada.

- O que não faltam são gajos a quererem-te!

Estes dois estão mesmo bem juntos!

- Ela tem de ter alguém, nem que seja um amigo com benefícios...- A bailarina, com um sorriso malicioso nos lábios, comentou com segundas intenções.

- El então? Não digas isso Thomas, não preciso que me mintam. Bora comer que tenho muitos planos para a tarde!

- Até parece que é mentira...Estamos incluídos?

Almoçamos todos juntos e de tarde fomos para a praia, o tempo estava bom e mesmo que não estivesse praia é sempre ótima. Já andava a chateá-los há muito e garças a isso arriscaram-se a meter em cima de uma prancha de surf. Estivemos a jogar voleibol, uma espécie de voleibol entre outras coisas. Não estivemos sozinhos, foram lá ter uns amigos nossos o que ajudou muito para ser uma tarde divertida.

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