'Menina Jennifer'

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Apesar de agora andar no ginásio não dispenso as minhas corridas matinais. O tempo está cada vez melhor e mais convidativo para andar ao ar livre. Já sai de casa e não tenciono mudar, tenho que chegar a horas ao novo curso e depois ir à faculdade. Mais um dia a correr de um lado para o outro. Tenho de me focar para tudo correr bem e aproveitar ao máximo.


Continuei como de costume até que vi o Jack e paramos os dois. Mais um encontro matinal. Era tão bom. Era um bom dia diferente.


- Bom dia Jen! -deu-me um beijo na bochecha e sorriu

- Bom dia molhadinho! -dei-lhe um beijo e ri-me

- Ahahah suadinho! E olha que não estás muito melhor -fez uma cara como se estivesse com nojo

- Estás muito esquisito hoje ou estás a tentar não confessar? -olhei-lhe nos olhos, aquele azul tão bonito e que me fazia querer perder neles


- Não me olhes assim, fico tímido! -tapou-me os olhos com uma mão e sorri sem razão aparente - vês? Tu é que não me resistes


Falávamos quase todos os dias, o que é estranho para mim. Normalmente apenas falo com quem estou pessoalmente e pouco atenção dou a telemóveis e computador. Devo confessar que ele é paciente e insiste. No entanto é isso que está a tornar esta relação diferente de todas as outras, pelo menos as minhas, e nos aproximou tanto em tão pouco tempo. O feitio dele ajuda e o meu completa.


- Jack queres ter filhos não queres? -tirei a mão dele e torci-lhe o braço rapidamente mas sem magoar, como se estivesse em defesa

- Jennifer...por favor...tu...tem calma...- fez-me olhinhos, como quando o gato das botas o faz e ninguém lhe resiste. Os olhos dele já são irresistíveis, então assim nem é bom falar.

- Olha a chantagem...-larguei-o -vai lá, tenho de ir, tenho um longo dia

Riu-se.

- Tens sempre um longo dia! - deu-me um beijo na testa- tem cuidado Jen


Dei-lhe um beijo na bochecha e continuamos, cada um para seu lado.


Aquele Jack, tão perfeito e tão sozinho. De certeza anda sempre a comer gajas e por isso não namora. Um gato daqueles na faculdade é impossível não ter alguém atrás dele. É que para além de divertido e preocupado é aparentemente um bom partido, é um bom rapaz em tudo.


(...)


Como é que se veste para um curso de tiro? Não sei muito bem mas não devo de ir muito mal. Estou com umas calças de ganga escuras, uma camisa vermelha com os botões tapados com as golas a fazer um laço que cai, o cabelo num coque meio desfeito e uns sapatos de vela azul-escuro, levava uma mala preta e ainda uma casaca de cabedal preta na mão. Nunca se sabe o que vai acontecer! Já tivemos a apresentação onde falamos do curso e do plano deste.


Hoje íamos ter a iniciação das armas básicas, das que qualquer agente tem, começaríamos por uma parte teórica e depois passaríamos á prática, como usá-las.


Ouvi tudo com atenção e fiz algumas anotações. Reparei também que os professores, digamos, agentes que nos vão ensinar são muito diferentes. Desde mais velhos aos mais novos, desde estarem em forma a terem uma barriga que revela incapacidade de participar em qualquer rusga. Os alunos também variavam muito em questões de idades, de resto todos aparentávamos boas condições físicas, empenho e interesse. Já no género, prevaleciam os homens, éramos poucas as mulheres. Mas quantidade não é qualidade!


Fomos então para a sala onde íamos experimentar a nossa capacidade de acertar no alvo. À entrada tinham uma espécie de auscultadores que colocaríamos de forma a proteger os ouvidos do barulho. Ao fundo estavam os alvos, bonecos desenhados com as respectivas linhas e locais onde deveríamos acertar. A meio, onde íamos estar, haviam algumas divisórias e uma espécie de mesa em cada uma delas com a respectiva arma. As paredes da sala tinham um revestimento especial e havia pouca luz até meio da sala.


Coloquei-me numa divisória e peguei na arma, olhei em frente e avistei um espaço amplo, com muito mais luz e o meu alvo. Deram ordem para começar e assim o fiz. Disparei. A arma fez um movimento que não esperava, acabando a bala por não atingir o ponto que queria.


-Tem de fazer mais força Azevedo -falou o agente James que se encontrava atrás de mim


Todos são chamados pelo apelido mas o meu é estranho, principalmente quando é um inglês a dizê-lo. Acaba por ser engraçado. Voltei a disparar, com mais força, e o tiro acabou por ser mais certeiro.


- Lembre-se, a prática leva à perfeição!- aproximou-se mais e eu voltei a disparar - Mas vamos com calma, deixe-me ajudá-la -pegou na arma dele e colocou-se em posição, explicando o que teria de alterar- repita agora


Voltei a pôr-me pronta.


- Assim? - olhei para ele e aguardei indicações


O agente James é um dos mais novos e foi graças ao seu mérito que começou já a formar novos agentes. Tem instinto para a coisa, digamos antes, vocação. A farda assenta-lhe bem. As calças são-lhe justas mas não demasiado, apenas em cima realçando-lhe mais os seus atributos. Para cima, usava apenas uma camisa, também escura, com uma pequena placa que dizia 'Agente James' e o resto dos emblemas. Encostou-se a mim e corrigiu-me os braços.


- Não se esqueça da força


Mais uma vez disparei.


- Só falta corrigir a parte final. Coloque-se outra vez -assim o fiz e quando acabei senti algo contra o meu rabo, ele estava agora colado a mim. Simulamos um tiro e ele explicou.


Tentava-me manter concentrada. Ter um agente daqueles com o seu material encostado a mim e a movimentar-se era algo...não diria desconfortável mas sim, bom demais para o momento.


- Posso experimentar? -olhei-o -preciso que se afaste, por favor

- Claro menina Jennifer -afastou-se e cruzou os braços a observar-me


Disparei e desta vez acertei em cheio. Estava feliz e orgulhosa de mim. Fiz uma espécie de dança da vitória e parei logo. Não devia ter feito aquilo, muito menos acompanhada por um professor. Só me faltava começar aos pulos de alegria feita estúpida. Ouviu-o a rir-se.


- Muito bem! -o agente James bateu palmas- agora pode continuar a treinar para depois trocar a arma, na qual vai experimentar várias munições


Continuei o exercício sozinha até que ele apareceu novamente.


Não me faça isso muitas vezes, Agente James.


***

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