"Tem um bom dia Jack!"

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        Terça-feira, eram seis e meia da manhã, ainda tinha sono e estava cansada. Levantei-me e preparei-me para ir correr. Tinha de começar a deitar-me mais cedo, não podia continuar assim, não estava totalmente bem e isso afetaria o meu rendimento. Podia ficar na cama a descansar mais mas não, fazer exercício faz parte de mim. Escrevi um bilhete e deixei-o na cozinha, para prevenir eventuais discussões. Comi uma peça de fruta e sai de casa já com os fones nos ouvidos. Corri sempre ao meu ritmo até ver duas pessoas a comportar-se de forma estranha. Tirei os fones e observei. O rapaz do sorriso estava a lutar com outro, parecia-me um assalto ou algo do género. O outro gritava com ele, falava outra língua que não entendia.

- Hey!- gritei eu à medida que me aproximava.

Ambos olharam para mim e voltaram a brigar.

- Sai daqui Jennifer! Foge!

Quando estava quase a chegar o assaltante fugiu, correu o mais rápido que pode. Eu podia ter corrido atrás dele mas reparei que o rapaz sentou-se no chão, tinha sangue e estava a tentar recompor-se. Baixei-me perto dele.

- Estás bem?

Olhei para ele, estava a deitar sangue pelo lábio e nariz, tinha uns quantos arranhões no pescoço, era tudo o que se via. Ele olhou para mim, respirava descontroladamente, voltou a olhar para o chão. Aquele rapaz que sempre sorria estava agora cabisbaixo. O corpo que normalmente estava suado agora estava ensanguentado. Estava de rastos, certamente com dores, mas continuava a apresentar a mesma energia de sempre e o sorriso - embora mais suave.

- Que raio de pergunta, claro que não estás bem! Como te chamas? Foi um assalto certo? Ou estavas só a tentar impressionar uma miúda?

O seu sorriso aumentou.

-Estou bem sim senhora! Sou o Jack. Foi um assalto, mas só levou o telemóvel e fones. Devia querer mais, começou a bater-me depois de já ter as coisas.

Vi as horas. Tirei a t-shirt, peguei no casaco corta-vento e vesti-o.

- Vamos tratar disso e depois fazer queixa. E nem penses recusar!

A camisola ia ajudar a parar de sair sangue do nariz.

- Não vou estar a sujar a tua camisola, isto para já. Obrigada mas não preciso de nada. Não é preciso queixa nem hospital nem nada disso! Eu estou bem, juro!

- Faz o que te mando! Confias em mim?

Olhou para mim novamente.

- Con...como é que vou confiar numa rapariga que se vem meter num assalto?

- Não demores Jack!

Riu-se mas levantou-se, fomos até ao posto da polícia mais próximo. Inicialmente, no posto, fui eu que falei. Disse que queria apresentar uma queixa e precisava de uma mala de primeiros socorros. Levaram-nos para uma sala e trouxeram a dita mala. Ainda estávamos a sós, ele sentado e eu em pé a abrir a mala. Calcei umas luvas.

- Tens a certeza do que vais fazer? Há tanta coisa ai dentro...

- Vou matar-te não achas? Viemos já para a polícia para ser mais facilmente declarar o óbito e prenderem-me. Não reclames e tira a camisola!

O Jack olhava para mim, agora com melhor cara, riu-se e respondeu-me sem hesitar.

-Isto já é assim? Vê-se bem que és uma mulher despachada, vais logo ao assunto!

Já tinha limpo o sangue. Estava a preparar o gelo enquanto ele falava e tirava a camisola. Ri-me e coloquei o gelo com cuidado.

- Já estás a pensar no que não deves menino Jack. Segura no gelo. Tens aqui mais uns arranhões e as nódoas negras vão aparecer mais tarde.

Ele era moreno, o corpo estava todo definido. Tinha uns arranhões no peito mas nada de especial, limpei-os. Olhei para a barriga, mas que barriga. Morena, com os abdominais definidos mas sem exagero. No entanto, uma pequena parte da barriga estava vermelha. Toquei.

-Dói?

-Não, só sinto calor nessa zona.

De repente entrou um homem já nos seus 40anos, sentou-se na mesa e começou a rir-se. O cabelo era grisalho, estava em forma, a pele estava pouco queimada do sol mas as mãos mostravam muitos anos de trabalho. As mãos eram grandes, estavam limpas, apresentavam algumas cicatrizes e manchas.

-Podes vestir a camisola- disto isto sentei-me também.

- Vamos lá a isto? O que se passou então?- Polícia começou com as perguntas.

O Jack contou tudo o que se tinha passado, eu disse o que vi. Todavia era necessário preencher uns papéis com os dados pessoais e a queixa por escrito. O senhor achou melhor ser um de nós a escrever, assim ia tratando do resto e íamos embora mais cedo. Nós concordamos e eu tomei a iniciativa, escrevi a queixa e pedi os dados ao Jack.

- Número de telemóvel não posso por, fiquei sem ele- Jack concluiu obviamente um pormenor que nos falhara.

- Pode ser o da menina -disse o guarda sem tirar os olhos do computador.

Coloquei o meu número. Entreguei ao Jack o duplicado e ao polícia o original. Quando acabamos tudo fomos acompanhados até á porta pelo mesmo homem.

- Precisávamos de mulheres destas cá na polícia! Um conselho de amigo Jack, tome bem conta dela, já não se fazem raparigas assim!

O Jack sorriu e depois concordou com o polícia.

- Estou a acabar o curso mas quem sabe um dia posso escolher este posto para trabalhar- Declarei jovial.

- Está numa escola de polícias? Teria muito gosto em trabalhar consigo. – O polícia esqueceu o aleijado e voltou-se para mim.

- Estou na universidade a acabar investigação forense, depois vou fazer mais umas formações em tiro e estou pronta. Só tenho de fazer os testes físicos mas nada de complicado.

- Não acredito que precise disto mas desejo-lhe toda a sorte. Cá a espero!- o polícia terminou voltando logo para dentro.

O Jack estava ainda a olhar para mim. Não percebi bem porque, andei até ao passeio e ele seguiu-me.

- Com que então futura polícia?

- Polícia de investigação sim! – Verifiquei as horas no aparelho eletrónico- Tenho de ir, já estou atrasada. Vais bem sozinho?

- Hum....vou, claro. Obrigada por tudo Jen!

- Descansa - mexi no lábio dele para ver como estava a ferida - se isto infecionar vai ao médico ouviste?

- Assim o farei!

-Tem um bom dia Jack!

Fomos embora, cada qual para seu lado, cada um para a sua vida.


***

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