Fuga inevitável?!

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Adentrei o pequeno quarto que partilhava com Jack e visualizei-o sentado a escrever. Fui silenciosamente até ele e tentei ver o que afinal era tão importante para ele escrever tão concentrado e sozinho. Apenas consegui um 'querida Jen'.

- Eih! -ele protestou quando me viu e virou o papel ao contrario -assustaste me!

Ele está a escrever para mim? Sou a única Jen, certo? Não, existem milhares de pessoas denominadas de Jennifer! Mesmo assim se eu lhe pedir para ver ele não me vai deixar. Preciso de um plano! Jack interrompeu os meus pensamentos para o possível plano quando me agarrou e chamou-me de 'coisa boa'. Acidentalmente (ou não) caímos na cama quando ele me puxou para beijar o pescoço. Isso Jack, continua.

E foi a questão de esperar até ele estar suficientemente distraído e alcançar o tão desejado papel. Sentei-me no seu colo, direita, e comecei a ler silenciosamente. Inicialmente tentou lutar mas depois desistiu e deixou-me à vontade abraçando a minha cintura e de cabeça na curva do meu pescoço.

Querida Jen,

Sim, Jen. Porque sei que sou o único que te chamo assim e vejo o teu sorriso quando o faço.

Às vezes, tudo o que precisamos é de fechar os olhos no fim de um longo dia e relembrar que ao nosso lado existe um outro mundo em forma de pessoa para nos reconfortar e reorientar. Alguém que caminhe ao nosso lado mesmo que o tempo ou a distância nos levem para outro lugar. Uma bússola, mas de carne e osso. Um Norte, mas que seja mais do que uma simples direcção. Um abrigo, mas que seja mais do que sensação de protecção física, que proteja a nossa alma das inconsistências do mundo que insistem em deixar-nos de rastos.

No mundo, o que não falta é gente que não sabe se deve ir ou ficar, que não sabe se vale a pena arriscar ou se deve desistir. Entre tanta gente indecisa, cobarde e preguiçosa, que ao mais pequeno sinal de problemas resolve fazer as malas e partir para outra, eu encontrei-te. Tão decidida e senhora de si, com certezas e um 'vale a pena arriscar'.

És mais do que um Norte, és do Norte, e talvez por isso tenhas um encanto diferente. Eu não sei, mas quero descobri-lo contigo.

Sei que nunca ouves ninguém, que misteriosamente o perigo te atrai, que nunca te esquecerás de certos momentos ou conversas, que não ligas ao que dizem e adoras as invenções criadas para te tentarem deitar a baixo. Não esquecendo que adoras desfilar (mesmo que não te tenhas apercebido), que aceitas que nada é para sempre (mas ainda assim pensas ter um marido aos 90 anos e trocarem olhares cúmplices), que adoras quando te desafiam, que não obedeces a ordens e detestas que tentem controlar-te, que não amas por metade e te entregas de corpo e alma a tudo.

És capaz de mandar alguém para o 'inferno' com um sorriso na cara. És capaz de ignorar alguém por ser altivo ou intrometido. Mas também és capaz de te meteres numa luta por um desconhecido. És capaz de falar com um sem-abrigo e até preferes, porque eles já viveram muito em pouco, assim como tu. Que preferes compreender a entender. Sonhas alto e contentas-te com pouco.

Também descobri que não tens medo de amar nem falar, mas que não falas de sentimentos nem te expões. Seria pior que ficar nua, ficarias frágil, exposta e envergonhada. Porém não coravas. Isso não, porque só coras por

Ele escreveu mesmo isto? O meu Jack? Procurei os seus olhos azuis, um pouco envergonhados a confirmarem que a carta era sobre mim. Mas, porquê? Porque eu lhe escrevi a confessar parte dos meus sentimentos e ele não sabe como reagir pois não sente o mesmo? Certamente que é isso e que eu me vou magoar e...

- Não era suposto leres isso agora -ele coçou o seu pescoço - não está acabada

- Acaba-a. Agora. -tentei soar convicta e afastar os pensamentos negativos. Ele olhou-me, depois deu-me a mão e começou a falar.

UnforgettableWhere stories live. Discover now