79. Feysand - Fear..

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Tudo estava tão escuro que até mesmo poderia assustar qualquer um. 
Ruídos no meio da noite eram extremamente comuns depois do que passaram. Tanto Feyre quanto Rhys lembravam continuamente de como quase perderam um ao outro.
Por isso, assim que um barulho de algo caindo ecoou pela casa, Fey se levantou, assustada.

Rhysand não estava ali. 
A memoria da Grã-Senhora viajou para Nyx...

De primeira, levantou-se, indo até o berço do filho e respirando fundo ao ver ele bem. O recém-nascido se movimentou um pouco na cama, tentando abraçar o lençol.
Ele estava bem.
Estava seguro.
E dormia de um jeito tão fofo que esquentou o corpo da mão, fazendo brotar um sorriso na face esbelta de Feyre.

Esta que, reparou na luz acessa no banheiro e se esgueirou até lá, fazendo aparecer as garras para poder se defender. Porém, não foi necessário quando encontrou o marido curvado sobre a pia, ofegante e vidrado, com a agua escorrendo e a coloração avermelhada de sangue no mármore branco. 

"Rhys...?" Sussurrou, olhando para o lado contrario, uma repulsa subiu, trazendo bile a garganta dela.
Feyre tinha medo do vermelho outra vez.
"Nada... Esta tudo bem, querida. Volte para a cama e descanse, por favor..."
A voz fanha de Rhysand partiu o coração da Archeron em pedaços.
"Não. Você precisa de mim." 

Ela andou até ele, se aproximando e vendo o que tal fazia.
Rhys apertava as próprias mãos com uma força extrema, as unhas abriram a pele, demonstrando que fazia isso a tempos.
"Ah... meu bem."
Murmurou Feyre, levando a mão sobre a dele e vendo o olhar do mesmo sobre si.
Sorriu de forma minimalista e encostou o rosto no ombros de tal, beijando a bochecha dele enquanto acariciava os dedos calejados e massageava a palma.

Ele parecia vulnerável. 
E isso a assustava.
Não acontecia a meses, para ambos.
Sabia por tudo que havia passado, entendia a dor e o apoiava.
Porém, ainda assim, machucava não o ver sendo sarcástico ou irônico como sempre.

"O sangue... ele não quer sair. Não para de sair... Eu não consigo fazer nada. Não pude fazer nada..."
Rhys tremia e gaguejava, não sabendo o que falar ou como fazer isso.
"Eu sei... Está tudo bem." Sussurrou. Beijou outra vez o rosto do mesmo. 
Apontou com a cabeça para a mão.

"Você já está lavando, já está saindo. Viu?"
Tocou com leveza cada parte da mão dele, segurando em alguns pontos.
"Não sai. Nunca. Não vai.." 
Começou a repetir.

A única reação de Feyre foi olha-lo, demonstrando a preocupação ao ver as lagrimas escorregando pelo rosto. O coração se apertou e sentiu partir-se em milhares de pedaços, mas, invés de parar e se afastar para dar espaça, continuou com a mesma forma de carinho.

Isso já aconteceu uma vez. E Feyre jurou para si mesma nunca o deixar. Então para trazer Rhys de volta, começou a beijar as lágrimas do amado, assim como ele fez com ela uma outra vez. Esse era o momento de ambos, para se acalmarem. As mesmas ações, simbólicas ao passado onde se ajudaram e demonstrando continuar com tais atos.

"O tempo mal está do nosso lado."
Ele começou, observando seus olhos de um modo tão  profundo e ainda sim... sentia o vazio. 
A voz de Rhys era apenas ecos, via tudo pelo o laço.
Ele não estava ali.
Não estava seguro.
Revivia todas as percas..

"Não quero desperdiçar o que resta"
Feyre suspirou, pegou a toalha e enxugou a água, sumindo com o vermelho e beijando cada arranhão, curando tais com o poder da Corte Crepuscular. Odiaria que ele visse isso na manha seguinte, quando acordasse do surto.

Não soube exatamente o que fazer, então o puxou de volta ao quarto, abrindo as cortinas para que Rhys visse as estrelas. 
Posicionou a cadeira em frente a janela e o deixou sentado, analisando as montanhas, além de sentir o vento.

Caminhou um pouco até o berço ao lado da cama, pegando o filho com delicadeza, para não o acordar e cantarolou para o mesmo conforme voltava a Rhys. 
Sentou-se no colo do amado, vendo um sorriso brotar no rosto do illyriano assim que reparou no corpo pequeno do bebê.

Rhysand respirou fundo, piscando lentamente, pegando-o no colo e balançando na cadeira. Feyre se levantou, retirando peso do outro e também dando um pouco de espaço.
Observou ele fazer uma brincadeira com as sombras, como se fosse um pequeno espetáculo apenas para Nyx.
Ele olhava para os olhos azuis claros do filho, ouvindo a respiração tão tranquila do neném, mesmo que o pequeno pacote tivesse a testa franzida e o rosto corado, com um leve brilho de suor na pele, demonstrando que estava sonhando, ainda que não soubessem com o que.

"Eu tenho medo." 
A voz do homem soou mais forte agora.
Encostada no batente, Fey levantou o rosto, tombando a cabeça para o lado, esperando-o continuar.
"Tudo o que eu amo sempre foi tirado de mim... E eu tenho tanto medo. Não consigo respirar, dormir, comer ou até mesmo andar sem tremer de medo."
Rhys suspirou, como se um peso tivesse saído do ombro do Grão-Senhor.
"Temo desde que você apareceu em meus sonhos, ainda Sob a Montanha. Não queria perder aquela luz, perder suas pinturas porque me davam esperança. Isso se tornou ainda mais real quando a encontrei nas terras de Tamlin. E para provar que perco tudo que amo, você morreu uma vez na minha frente. Depois fui negligente, te perdendo outra vez para ele. E então... quando quase a perdi de novo, ao descobrir que Nyx a mataria, só provou ainda mais que não posso viver porque a todo segundo pareço morrer diante a ameaça de não te ter mais. Com ele... tudo... ficou pior."

Rhys engasgou, balançado a cabeça negativamente diversas vezes, as lagrimas caindo de forma desesperada.

O corpo quente da Grã-Senhora se chocou contra o do marido, por trás, o abraçando e também ao filho, respirando contra o pescoço do parceiro e o enchendo de beijos. Por meio do laço de parceria, Feyre enviou então, a musica que ouviu Sob a Montanha, aquela lembrança que a fez viver novamente.
"Sempre teremos medo... é impossível não ter depois de tudo que enfrentamos até agora, até esse momento, tendo Nyx conosco, um pedaço do nosso amor, que venceu esse temor e realizou nossos sonhos, junto dele veio a prova de que nada e nem ninguém pode nos separar e isso nunca irá acontecer, você me entendeu?"

Perguntou, bastante séria, com um sorriso ladino ao ver o outro começar a rir depois de ter concordado com a cabeça.
Rhys e ela nunca tinham ficado tão obcecados por algo como a proteção do bebê, por ter tantos inimigos por parte de ambos, ainda contando com o caos que as Rainhas Humanas causaram, além das memorias da morte os visitando outra vez.
As vezes ele acordava durante a noite e em outras, ela. Sonhando com possíveis situações de sequestro e até a visita da Mãe retirando um do outro.

Normalmente, pegavam Nyx e dormiam com ele, assim como no momento de agora, os três unidos e tentando afastar os pesadelos para nenhum deles se realizar..
Um abraçando o outro.
Em momentos como esses...

Podiam não conseguir respirar.
Mesmo que sintam o ar.
Não resistiam porque não se sentiam.
Ainda que se tocassem e vissem.

Sentiam o tremor.
Gritavam de pavor.
Era um terror, viver dentro de um ciclo...

Não sabiam o que fazer. Porque sabiam que não haveria um fiz.
Esperavam a Mãe, o chamado do Caldeirão..
Apenas queriam algo para ajudar nessa dor.
Gostariam de sentir o sabor, ver a cor e se livrar de tudo, mas as sombras viviam tomando a mente.

Deveriam aceitar o caos, o vazio e a destruição. Talvez assim tenham um novo inicio, enchendo com paz o coração.

◕݂ࣨ  𝐃𝐄𝐒𝐈𝐑𝐄 𝐎𝐅 𝐓𝐇𝐄 𝐒𝐓𝐀𝐑𝐒.Where stories live. Discover now