87. Cassian - Eu sei que vou te amar.

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OBS: Nesse capítulo você é a mãe de Cassian e está é a última vez que estará com ele.
Esse é um capítulo curto, apenas para fazer vocês chorarem. Aproveitem!

Não conseguia respirar direito. Ninava o bebê dentro do cesto de madeira. Observava os olhos do filho uma última vez. Admirava os cabelos negros e a pele.
Ele era tão parecido com você.
Era sua alma gêmea.
E estava sendo tirado de você.

"Meu filho, deixa a mamãe falar uma coisa séria com você."
Disse segurando o rostinho gordo de bebê.
"Então, agora você precisa ir lá pra fora, para longe da mamãe..."
As lágrimas caiam desesperadamente.
A voz estava falha e fanha.
"Você não vai poder mais ficar aqui com a mamãe"
Fazia carinho nas bochechas e na cabeça do nenê.
"Eles vão vir te buscar... bom, eles vão levar você..."
Soltou um grito quando recebeu uma chicotada, sendo avisada que cinco minutos se passaram.

Agora restavam vinte e cinco.

"Pra longe da mamãe..."
Sussurrou, tentando acalmar o choro que Cassian começou.
"Mas eu quero que você saiba que vai ficar bem, tá bom? Olha pra mim"
Segurou o rosto dele, querendo gravar a feição do próprio bebê.
"Você vai ficar bem... eu prometo."
Tirou o filho do cesto, abraçando uma última vez.

"A gente não vai se ver mais, entendeu?"
Era a última vez que o seguraria.
Última vez que daria um abraço em sua própria cria.
Esse sentimento doía.
Não iria mais ouvir a risada dele.
Não o veria andar pela primeira vez ou voar...

"Eu vou sentir muito a sua falta. Muito... Olha... Eu vou tentar aguentar tudo aqui por você, tá bom? Eu prometo, vou tentar aguentar... vou tentar voltar pra você, tá bom?"
Ouviu o choro ecoar novamente e respirou fundo.

Sabia que o bebê tinha fome, então afastou um pouco do abraço e desceu parte da roupa. Os seios ficaram a mostra e ouviu as palavras de desejo dos outros illyrianos.
Teve medo e se encolheu.
Uma servente se mostrando daquela forma.
Já imaginava o que acabaria recebendo mais tarde, mas o dever de mãe se sobressaia no momento.

Cassian abocanhou um dos mamilos, começando a se alimentar.
Ela gravou aquele último momento na memória. Parando de chorar e sorrindo para ele.

Então... começou a cantar.

"Eu sei que vou te amar.."
Sussurrava apenas para ele ouvir.
Cassian se concentrava em mamar e agora na voz da mãe.
"Por toda a minha vida, eu vou te amar... Em cada despedida, eu vou te amar"
Aguentou as lágrimas que surgiam.
Respirava fundo agora,  fazendo carinho nos fios de cabelo do ser que mais amava no mundo.
"Desesperadamente... Eu sei que vou te amar"

Afirmou mais uma vez.
Queria que ele gravasse essa música na cabeça.
Gostaria que ele ouvisse cada vez que se sentisse sozinho.
Desejava que ele lembrasse dela dessa forma.
Forte, resistindo...

"E cada verso meu será... Pra te dizer..."
Seu bebê.
Tudo seu.
Sua resistência.
Você sobreveviveria.
Tentaria todos os dias.
Tudo por ele
"Que eu sei que vou te amar... Por toda a minha vida"

Mais uma chicotada de recebeu.
Soltou mais um grito de dor e recebeu outra.
Haviam se passado cinco minutos. Mas decidiram a torturar em dobro, para provocar.

"Eu sei que vou chorar."
E assim aconteceu... imaginando o futuro.
E se não conseguisse?
"A cada ausência tua, eu vou chorar... Mas cada volta tua há de apagar... O que esta tua ausência me causou"

Não teria ele.
Agora percebia isso.
Não sairia viva. 
Nunca poderia realmente ser mãe e dar a Cassian o que tanto merecia.
Porém, até em seus últimos segundos gostaria de o guardar na memória.

" Eu sei que vou sofrer... A eterna desventura de viver"
Pediu perdão para a Mãe.
Pediu perdão ao Caldeirão.
Pediu perdão a Cassian.
Pediu perdão a si mesma.

Se odiou por ser tão fraca, por não ter asas para voar, por não ter coragem para lutar...
Todavia, tentava pensar que todo esse medo compensaria já que o deixaria ir para sempre. Ele teria uma boa vida.
Você sentia isso.
Ele sofreria, como todos sofrem na vida.
Mas seria feliz e livre, como deveria.

"À espera de viver ao lado teu... Por toda a minha vida"
Terminou a música, chorando desesperadamente e o pos de vota na cesta.
Cass já dormia.
Como um anjo que era.
Sorriu vendo aquilo, era a melhor imagem de toda sua existência,  dormiria imaginando aquilo.

Não aproveitaria os últimos minutos.
O deixou livre, para aproveitar a liberdade o quanto antes.
Ele seria bem cuidado.
Bem alimentado.
Bem treinado.
Bem amado...

Teria ótimos amigos...
Viveria um amor.
Encontraria a paz que você não encontrou.

Essa foi o acordo que fez com o Caldeirão. 
Foi a única coisa que pediu para a Mãe antes de dar o filho para outros que o simplesmente puseram no Rio e deixo a natureza guiar seu pacote de amor para a vila mais próxima.

Sua pele queimou, uma tatuagem cresceu pela extensão da sua perna inteira, demonstrando que sua prece foi atendida.

Cassian iria se acostumar a ouvir uma simples canção
Isso significaria você ao lado dele, observando.
O veria cumprir coisas novas.
A canção seria o sinal suficiente para que ele olhasse para os céus e a visse cuidando do mesmo.

Você seria a sinfonia de esperança para o próprio filho.
Para que ele continuasse acreditando e lutando atrás do que realmente merecia e o significado disso era tudo o que ele quisesse conquistar.

Estaria ao lado dele.
Todo segundo, minuto, hora, dia, mês, ano... séculos... milênios.
Até poder o abraçar novamente e se desculpar por não tentar até o dia que ele voltasse.

Você faria seu papel.
Seria a melhor mãe dos céus...

◕݂ࣨ  𝐃𝐄𝐒𝐈𝐑𝐄 𝐎𝐅 𝐓𝐇𝐄 𝐒𝐓𝐀𝐑𝐒.Where stories live. Discover now